NEGÓCIO DE CABELO
Miguezim de Princesa
I
A Bahia é sempre linda
(A terra da boa gente).
Disse Octavio Mangabeira,
Um sujeito inteligente,
Que nunca foi cego ou surdo:
É pensar num absurdo,
Na Bahia tem precedente.
II
Bahia, terra do dendê,
Acarajé e paçoca;
Do goleador pançudo,
Que se chamava Beijoca;
Que não engole perrengue,
Caça o mosquito da dengue
No Vale da Muriçoca.
III
Que mosquito mais safado,
Marinalva foi falando
Com uma lata de Baygon
Lá no São Braz borrifando,
Enquanto o mosquito seco
Encoivarava num beco
A muriçoca ajeitando.
IV
Enquanto o mosquito avança
Atacando sem apelo,
A alta sociedade,
Que sempre age com zelo,
Em um movimento esperto,
Descobriu negócio certo
No meio do qual tem cabelo.
V
Primeiro Bel do Chiclete,
Que arrasta multidão
Com os acordes da guitarra
E aquele vozeirão,
Achou foi pouco o Chiclete
E vendeu para a Gillette
Sua barba por R$ 1 milhão.
VI
Aí chegou Jaquevague,
Desfilando com Fatinha,
Depois de tomar umas quatro
Misturadas com farinha,
Com uma bandeira na mão,
Gritou na Federação:
“Eu quero vender a minha!”
VII
Então, chegou Jonas Paulo,
Virado num custipiu,
Com o motorista Cipri,
O melhor deste Brasil,
Fez um beiço e uma careta,
Arrastou uma pasta preta
E disse: “É quinhentos mil!”
VIII
Começou, então, uma briga:
Militante Zé da Jega
Discutiu com Sérgio Guerra,
De quem tomou um esbrega
E não teve nem apelo:
Ele, com tanto cabelo,
Não paga nem a bodega.
IX
E a moda na Bahia,
Para quem quiser saber,
Alegando que o calor
É quente de derreter,
Para não perder a rima:
É aparar tudo em cima
E tudo embaixo crescer.
X
Como Agnelo é baiano
E nasceu lá no Sertão,
Ficou duro feito a gota
Pra ganhar a eleição,
É muito amigo de Lula,
Que também é barbudão:
Vamos vender o bigode,
Enquanto a Gillette pode
E tem consideração.