A NOVELA DA VEZ
(Para a Maria e todo
o elenco de “Amor e
revolução”, novela de
Tiago Santiago)
“Amor e revolução”,
das noites este o cardápio.
Na certa, a melhor pedida
dessa tevê combalida,
que mais bajula larápio.
Nas unhas da ditadura,
sempre imperou covardia,
e o que se diz na novela
outra mídia não revela,
inclusive hoje em dia.
Há feridas da tortura
nos couros de muita gente;
há pessoas mal vividas
por causa dessas feridas
de um poder inconsequente.
Mas, clandestina, enterrada,
existe gente nas valas:
mortos, ‘desaparecidos’,
além dos tantos banidos
a até mortas suas falas.
O que se diz na novela
das ações da covardia
inda a metade não traça.
‘Anos de chumbo’, desgraça
que deu voz à tirania!
Essa novela, no ar,
mostra apenas da tortura
o mais mínimo das faces;
houve no País disfarces
ao tacão da ditadura.
Essa novela valida
do seu autor a mensagem.
Vale a pena pôr a limpo
as teias do labirinto
de toda burra chantagem.
As crueldades daqui
também houve noutras partes,
só que todas bem sopradas
por farsantes g a l e g a d a s,
ianques com o cão nas artes.
Uma burrice, sem nome,
de baionetas na ponta;
prisões ilegais, fritura,
quaisquer tipos de tortura,
sem que jornal visse a conta.
Não que novela resulte
numa educação dos povos,
mas bem contada novela
algo marca e nos apela
– velhos fatos ficam novos.
Novelas só de chifradas,
como em canais exibidas,
são puras embromações,
as tais triangulações
amorosas, coloridas.
E vão-se ver..., celulose!
‘Minas’ lindas, maquiladas,
todas em transas homéricas,
muito em voga nas estéticas,
só que em mesmices manjadas.
“Amor e revolução”,
enfim, novela perfeita
e peça bem exibida
de valoração da vida,
que põe em xeque a direita.
“Amor e revolução”,
vejo, aplaudo, e mais, indico,
pois, das tantas porcarias,
novelas de fantasias
só vão caber num penico.
Fort., 24/04/2011.