Lampião
Estou aqui minha gente,
vim fazendo alarido,
pra vos falar francamente,
de quem nunca foi bandido:
ele foi cabra valente
como tantos já nascido.
Conforme diz a história,
assassinaram seus pais,
família simples sem glória
e humildes por demais:
cuidavam dos afazeres
e viviam em plena paz.
Pra vingar seus genitores,
ele virou justiceiro.
Cansado dos malfeitores,
decidiu ser cangaceiro;
pois o sangue em suas veias,
fervilhava o tempo inteiro.
Quando saía aos arredores
da vila, onde morava,
ele via muita maldade,
com as quais não concordava:
quanto mais maldade via,
mais e mais se revoltava.
E, numa dessas andanças,
conheceu Maria Bonita,
a paixão lhe veio ao peito
e deixou sua alma aflita;
falou pro marido dela:
vou levá-la, nem que grita.
Assim foi dito e feito,
ele a levou embora,
o marido, bom sujeito,
até hoje inda chora
de saudades da amada
e tão prendada senhora.
Ela, toda enamorada,
deixou o pobre na mão,
e foi por outra estrada,
nos braços de Lampião:
muito feliz e contente,
num lombo de um alazão.
E se foram, ele e ela,
juntamente com o bando,
se embrenharam nas caatingas,
só saiam de quando em quando:
apenas pra ter notícias,
do que estava se passando.
Até que, infelizmente,
a volante os encontraram,
e em cima daquela gente,
suas armas dispararam:
Lampião e Maria Bonita,
para sempre se calaram.
O que mais me causa espanto
e me põe aborrecido.
O Lampião nunca foi santo,
mas também não foi bandido:
na verdade foi herói,
de um povo tão sofrido.
Aqui vai se aproximando,
o final deste cordel.
Lampião e Maria Bonita,
estão vivos lá no céu,
e um anjo me contou:
que estão em lua de mel.
E agora meus leitores,
vou comer o peixe atum.
Temperado com licores,
com farofa e jerimum:
Deus proteja vocês,
e também Roberto Jun.