Serafim e o peixe

Uma história de Pescador

Um "causo " do meu avô Elpídio Athaíde de Mello

Que estou contando em cordel.

Eu vou contar um história

que passou com meu avô,

e faço a dedicatória,

para um grande pescador,

mais de "causos" que de peixes,

no açude de seu Nonô.

Era um dia feriado,

saiu meu vô a pescar,

com o seu farnel do lado,

pro dia inteiro passar,

no açude do compadre,

e muitos peixes fisgar.

Quando chegou ao local,

não tinha um pé de pessoa,

só o açude e o matagal,

ele pensou: coisa boa,

vou pescar mais de cem peixes,

nem preciso de canoa.

Arrumou o seu farnel,

escolheu um bom lugar,

o molinete e o bornel,

ia fazer trabalhar,

sentou-se na beira dágua

para os peixes esperar!

Uma hora se passou,

nada de peixe fisgar,

a paciência acabou,

o véio ia levantar,

quando de longe avistou,

um morador do lugar.

Foi chegando: Meu amigo,

eu vim pescar mai ocê,

hoje esses peixe eu persigo,

levo eles pra cumê,

truve a garrafa de pinga,

pru mode nós dois bebê.

Meu avô que não bebia,

agradeceu mesmo assim,

mas gostou da companhia

do véio Zé Serafim,

pois ficar sozinho cansa,

ficar sem falar é ruim.

Depois de tomar um trago

Serafim pôs-se a falar:

Vou lhe contar um estrago,

Seu Elpídio, de lascar!

Que aconteceu comigo

um dia que eu vim pescar!

Tava assentado sozinho,

assim que nem o sinhô,

passei um dia inteirinho

e nem um peixe fisgou,

já tava quase bebinho,

quando uma voz me falou:

Serafim, leva eu mais tu!

eu quase caí pra trás,

Era um diabo dum pacu,

de parte do satanás,

Leva eu, que tô cansado

de tanto nadar demais!

Meus óios quase sartou,

a língua pulou pra fora,

os cabelo arrepiou,

quiz corrê, quiz ir embora,

mas as perna amulengou,

e eu num pude dar o fora!

Disse o peixe: -Camarada,

Vou sair da água agora,

Não tenha medo de nada,

pois não chegou sua hora,

Só quero ser seu amigo,

e me ajude aqui, vambora!

O peixe pulô na terra,

eu afastei a tarrafa,

me preparei pra uma guerra,

protegi minha garrafa,

mas o peixe muito "caimo",

pediu a minha marafa.

Dei um gole pra o Pacu

mas muito desconfiado,

cahaça e mel de uruçu,

deixam o cristão animado,

nós começamo a beber

e já ficamo amigado.

Ele contou sua vida,

me disse que era casado,

era uma vida sofrida,

os seus pais foram pescado,

seu fíos nenhum vingou,

foram todos devorado!

Era quase de noitinha,

quando eu quiz me arretirar,

a garrafa já sequinha,

e esse peixe a falar,

o peixe me disse, vaomos

que eu vou lhe acompanhar!

Seu, Elpídio, levantamo,

saímos pela estrada,

pela porteira passamo,

despistamo da boiada,

Mas no terreiro de casa

a "véia" tava danada!

Eu ,mais o peixe, abraçado,

sem dar uma explicação,

a véia caiu de lado,

pensando ter visto o cão,

mandei meu amigo entrar,

pra dentro do barracão.

Nisso o tempo foi passano,

e nós doi sempre apegado,

o povo da redondeza,

ficou todo acostumado

construi uma cacimba

mode ele ficar deitado.

Meu avô lhe disse: -Zé,

mas que estoria danada,

não tem cabeça nem pé,

mas é muito engraçada,

nisso se ouviu um barulho,

nágua que tava parada.

Aparece uma cabeça,

só com os olhos de fora,

-Oi, Serafim, apareça!

Era uma grande albacora,

Serafim travou conversa,

me levantei, fui embora.