CADÊ O AMOR DO REALEJO?
I
Ao derredor do coreto,
Na pracinha da minha cidade,
Ressoava o velho realejo
Um poema de ingenuidade!
II
A bandinha sempre se abrilhantava,
A mesclar-se com aquele cortejo...
Pipoqueiros , bombas de chocolate,
Minhas férias...era pleno Janeiro!
III
De luz alta a lua fulgurava...
A banhar as esperanças da praça,
Namorados de mãos enlaçadas
Apostavam na sorte...e nas Graças!
IV
Repicavam no sino da igreja
Badaladas da Ave Maria...
O momento era de realeza!
Se rogava pelo que se queria!
V
A mão firme sobre a manivela
Que por horas a fio labutava...
Adoçava os rumos do destino,
As ofertas saiam arranjadas!
VI
As promessas eram todas perfeitas...
Não havia um mundo lá fora!
Se houvesse risco de tristeza
Com certeza, ela iria embora!
VII
Eu sentia um medo indulgente...
Minha sorte a ser descortinada?
Mas... e se de repente ...um presente!
Poderia ser agraciada?
VIII
E o realejo soava...
Pela noite...e eu, desconfiada!
Tão criança... e já pressentia,
Que na sorte não se mexia!
IX
Mas num dia de alegoria...
Eu desafiei a bicada!
Ao abrir o bilhete do dia,
Constatei minha grande emboscada!
X
Em voz alta o Louro realejava:
“Tu terás muita sorte no amor!...”
Hoje sei... que o quê tencionava,
Era só amenizar minha dor!
XI
-Tu terás muita sorte no amor!
-Tu terás muita sorte no amor!
Que estridência, quanta euforia!
Parecia haver tanto fervor...
XII
Convincente...que até hoje em dia,
Eu o ouço ecoar dentro de mim...
Ainda sinto a esperança tão fina...
Mas parece que nunca tem fim!
XIII
Sempre lembro daquele bilhete
Meu instante de felicidade...
Na verdade era um mero lembrete:
-Nunca acorde para a realidade!
SP, 12/11/2006