O GRITO DOS MISERÁVEIS.
O Grito Dos Miseráveis.
Guel Brasil
Aqui é Marlene de tal
Pra que serve o sobre-nome,
Melhor que não o tivesse
Pois é parceira da fome,
Tira do lixo o sustento
E até a comida que come.
A sociedade pare
Mas ela mesma não cria,
O que oferece é castigo
Na luta do dia a dia,
Vagando atrás de um teto
Com fome e sem moradia.
E os homens que vão passando
Pela vida de Marlene,
Por ser produto do meio
Buscando o prazer perene,
Náufragos do mesmo barco
Que há tempos anda sem leme.
E os filhos foram nascendo
Um a um sem paradeiro,
No topo de uma cadeia
Onde a fome chega primeiro,
Onde os restos do lixão
Se transformam em dinheiro.
Seus companheiros de cama
Também vindos do lixão,
Tão sofridos quanto ela
Andando na contra mão,
Vão saindo e vão deixando
Os frutos dessa união.
Aqui não existe lar
Tão pouco felicidade;
Rancor ódio e tristeza
Ranços de uma sociedade,
Que empurra os já miseráveis,
Pro abismo da maldade.
Matar os filhos? Pensou,
Fosse uma boa saída,
Maltratados e sofridos
Sem teto e sem comida,
E morando de favores
Pelas favelas da vida.
Nem isso ela conseguiu;
Fracasso de mãe sofrida,
A irmã mais velha impediu
Não tinha outra saída,
Foi para as mãos da justiça
Marlene estava perdida.
Foi separada dos filhos
Mas não foi para a prisão;
Respondendo em liberdade,
Sofrendo humilhação,
Jogou a culpa na miséria
Por mais esta situação.
O Estado que fomenta
E joga o lixão na favela,
É o mesmo estado que paga
Um advogado pra ela,
Ré confessa, no acordo
Com muito choro e sem vela.
"Podem levar os meus filhos,
Mas eu quero liberdade,"
Coisa que ela nunca teve
Nem mesmo a felicidade,
Preza aos grilhões da miséria
Pelos lixões da Cidade.
Enquanto viva não soube
Dos filhos que lhe levaram,
Sob a proteção das "Leis"
Pra outros cantos mandaram,
Hoje, nem mesmo a Justiça sabe
Que fim seus filhos levaram.
Morreu nas mãos da miséria
Por um câncer devorada,
Viveu sua vida inteira
Pelas favelas, jogada,
E talvez como indigente
Tenha sido sepultada.
É o grito dos miseráveis
Que o Estado não quer ouvir,
Que a mídia mostra sem cortes
Pra sociedade curtir,
Temos miseráveis sim
Não podemos encobrir.
guelbrasil@gmail.com