COISAS DA VIDA


Existem momentos nas nossas vidas que pensando bem não se consegue saber porque aconteceram, nem há como esquecê-los jamais, especialmente quando esses fatos são acontecimentos inusitados, que nos alegram, nos emocionam, nos sensibilizam de tal forma que seria impossível não lembrar de vez enquando, especialmente quando nos sentimos pequenos, tristes, solitários, insignificantes, etc. Por incrível que pareça, aconteceram alguns comigo, que seria eu injusta, ingrata comigo mesma se não os guardasse por escrito o que estou a fazer agora, já que mais uma vez o sono infelizmente não deu o ar da graça e a inspiração chamou-me para vir com ela, aqui pra diante da telinha do computador.

A noite está quente, o barulho do umidificador não me deixa sossegar e a cama parece pequena, não encontro lugar para relaxar prefiro atender ao convite da inspiração que, por sua vez é bastante convincente.

Vou começar por um acontecimento que um dia me deixou imensamente feliz, sensibilizada e grata, especialmente porque veio de onde jamais poderia imaginar. Tenho um poema cujo tema é: “MINHAS MÃOS” e está publicado no Recanto das letras. Pois bem, passado alguns dias a partir de algumas pessoas haverem tomado conhecimento, eu, ao chegar em casa, vindo do trabalho, encontrei um buquê de rosas, muitas rosas, algumas ainda entreabertas, viçosas, lindas e pasme! Não era meu aniversário e nem havia uma data especial referente a mim, de que eu me lembrasse, então busquei ver se havia algum cartão, algumas palavras que identificasse quem as enviou e olhem só o que dizia o cartão:

Para que as tuas mãos
Jamais se sintam vazias
Nestas rosas, vai meu coração
Demonstra-me tua alegria
Promove-me a emoção
De conhecer-te algum dia...

Não havia remetente, apenas assinatura e eu jamais descobri quem fez tão linda figura, por isso não me foi possível agradecer-lhe e isso me entristeceu, porque queria tanto retribuir o carinho, mas ele simplesmente silenciou, tornou-se abstrato é como se apenas mais um sonho daqueles que se perdem na poeira dos caminhos ou se vão embora levados pelo vento sem deixar sequer pegadas na areia como uma indicação para encontrá-lo. Só que certo dia qual não foi minha surpresa, recebo uma encomenda pelos correios, um tanto pesada e também sem remetente, mas havia uma carta escrita a mão, duas páginas e profundas palavras num papel de cor verde bem clarinho e escrito com tinta preta. A carta estava dentro do presente que me enviara o mesmo misterioso poeta que me mandara rosas, dias antes; obra completa de FERNANDO PESSOA, este era o presente. Mais uma vez só sei que havia a assinatura, mas não o endereço de quem tão gentilmente me presenteava pela segunda vez. Ah! Ainda havia um poema de sua autoria que ele o chamou de: UIRAPURU.

A,B,C Brasil, era assim que mais uma vez ele assinava depois como por encanto sumiu, silenciou e eu fiquei sem saber de que maneira pudesse agradecer. Coisas da vida.

Noutra ocasião, recebi uma carta de alguém com que já me correspondia e com certeza esta não era do misterioso poeta. Alguém que tomando conhecimento de um trabalho meu apresentado numa emissora de rádio aqui da cidade, começou a me escrever com certa freqüência, mas apenas como um admirador, só que desta vez ele me surpreendeu de maneira intensa, linda! Foi realmente algo indescritível! E mais, ele sempre me escreveu em espanhol e desta vez também não foi diferente. Ao abrir o envelope qual não foi minha surpresa, quando diante dos meus olhos caíram algumas pétalas de rosas! Acudi para que não caíssem no chão e antes de ler a carta de três páginas, peguei delicadamente cada uma daquelas pétalas e em minhas mãos, e em todas havia algo escrito; na primeira, havia o desenho de um coração com meu nome dentro, na segunda dizia: “Hoje te amo mais que ontem,” por ultimo: “ESPERA-ME”. Tudo em espanhol! Imaginem minha emoção! Nunca o vi, nunca nos vimos, sei apenas que chamava-se: Daniel e era das Minas Gerais, da cidade do eterno CHICO XAVIER. A ele, eu consegui agradecer pelo gesto de carinho, mas perdemos contato também e assim, termina mais um desses causos que nem eu sei por que aconteceram e que também nem sei contar como fazem os contadores de causos que a gente conhece.

O mais interessante é que isso sempre acontece comigo, não sei se com mais pessoas... Uma vez escrevi um cordel e o tema era meu aniversário, naquele ano e o que eu mais gostaria de ganhar de presente, seria um álbum aonde eu pudesse rabiscar os meus escritos e eu era pouco mais que uma menina, só queria ter um cantinho, como eu dizia, para colecionar meu dia a dia sem que fosse precisamente um diário. Pois bem, aquele poema fora publicado num conhecido jornal da cidade. Imaginem só como sempre tive alguns sonhos daqueles que nem é tão complicado para tornar-se realidade. Eu precisava de um álbum especial com cadeado, de capa dura, esse meu desejo, mas queria ganhar de presente creio que na época eu devia achar que sendo presenteado teria um valor maior, mais especial, hoje consigo raciocinar assim. Meu sonho não era comprar um, mas ganhar e como seria uma data em que eu poderia pedir o presente... Adivinhem! Ganhei mais de vinte álbuns, cada um mais lindo e com capas diferenciadas, inspiradoras... Fiquei tão feliz e grata que ainda os guardo com todos os primeiros rabiscos que escrevi desde criança, quando meu saudoso e sempre querido pai me incentivava, sempre que eu estava fazendo alguma tarefa da escola, ou que minha também querida e saudosa mãe me passava alguns afazeres em casa e eu sumia, não adiantava mamãe chamar, papai dizia que eu estava a falar com o papa, pois ele percebia que a inspiração me chamava e eu ia mesmo, não importava o que estivesse fazendo, nem adiantava ninguém me chamar, enquanto não saciasse a sede de escrever qualquer outra tarefa ficaria para segundo plano, pois a inspiração não espera, ela chega e nos dita o que deseja que seja escrito e eu costumo ser obediente.

Quantas boas lembranças nos vêem quando o sono nos abandona! A gente até consegue voltar no tempo seguindo a mesma estrada que nos trouxe até aqui, sem esquecer nenhuma curva dela e sem perder-se no meio do caminho, é como se o tempo parasse para nos receber ou nos pegasse pela mão e caminhássemos noite à dentro, debaixo de um céu lindamente estrelado e ao amanhecer, com os primeiros raios de sol, chegássemos lá no passado, que mesmo não tão distante não deixa de ser o ontem das nossas vidas. Só que quando despertamos nos vem a cruel certeza de que quem nos levou foram as boas lembranças que não se apagam com o tempo, elas apenas esperam um momento para estarem novamente a nos fazer felizes por alguns instantes, mesmo porque dizem que recordar o passado é viver duas vezes ainda que morrendo de saudades.
COISAS DA VIDA!

Brasília, 94/04/2011