TERRA SECA
Terra Seca.
Guel Brasil
Eu nunca me esqueço era mês de Janeiro,
Estava um sequeiro pras bandas de lá;
E por todo canto que a gente olhasse,
Só via tristeza em todo lugar;
A aguada distante, duas ou três léguas,
O dia inteirinho pra água buscar;
Saia bem cedo com o cantar do galo,
E só à tardinha tornava voltar.
Meu velho jumento com quatro corotes
Puxava no trote pra não demorar;
Deixava Mainha e painho esperando,
Na sombra frondosa de um jatobá;
Um criame de cabras num velho chiqueiro,
Três vacas, e um garrote, dão pena se olhar;
Coitados estão no coro e no osso,
Com fome, e com sede, não vão agüentar.
O sol era tanto que a terra tremia,
Agente só ouvia cigarras cantar;
A terra rachava por falta de chuva,
E o povo pedindo pra Deus ajudar;
Um bando de andante na beira da estrada,
No rumo do sul, ou de outro lugar;
Ia se despedindo de quem lá ficava
Dizendo se chover, “nós volta pra cá”.
No meio daquele deserto danado,
Via-se salteado ali e acolá;
Um velho Umbuzeiro que a seca resiste,
Dando sombra e fruto, sem reclamar;
Lá mais adiante, um mandacaru,
Parecendo um fantasma visto de cá;
De braços abertos, com espinhos sem sombras,
Maná no deserto pra sede matar.
Eu sou brasileiro, nasci no nordeste,
Sou cabra da peste não posso negar;
Eu tenho orgulho de ser nordestino
E com a ajuda de Deus eu vou agüentar;
Resistindo a seca, a fome e a miséria,
E muitas promessas das coisas mudar;
Aqui fui nascido, aqui me criei,
Aqui eu pretendo meus dias findar.
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