O FIGUÊRO

Sô vendedô de miúdo

vendo bofe coração

tudo pesado na mão

a retái e a graúdo

eu vendo é de um tudo

eu num tenho nove ora

pássu sempre a merma ora

bato o caxão cum a ripa

quem vai querê minha tripa

vô butá pra fora agora.

PS – Nos subúrbios (sou um suburbano, me orgulho disso) da minha amada e bela Fortaleza do meu Ceará agreste, existia – ainda existem por aí, mas são raros -, a figura deste personagem medieval, o figueiro, montado em seu pangaré arriado com uma cangalha, ladeado por dois caixões pintados em vermelho-sangue invadindo ruas, vielas, batendo na lateral do caixão com o cabo do chicote, chamando-nos à compra das fressuras do boi: fígado, coração, passarinha, bofe, livro, tripas, corredor. Estes últimos, ingredientes principais da nossa gostosa panelada. A este anônimo de minha saudosa infância, a sincera homenagem.

Sagüi
Enviado por Sagüi em 04/04/2011
Código do texto: T2888376
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