O FIGUÊRO
Sô vendedô de miúdo
vendo bofe coração
tudo pesado na mão
a retái e a graúdo
eu vendo é de um tudo
eu num tenho nove ora
pássu sempre a merma ora
bato o caxão cum a ripa
quem vai querê minha tripa
vô butá pra fora agora.
PS – Nos subúrbios (sou um suburbano, me orgulho disso) da minha amada e bela Fortaleza do meu Ceará agreste, existia – ainda existem por aí, mas são raros -, a figura deste personagem medieval, o figueiro, montado em seu pangaré arriado com uma cangalha, ladeado por dois caixões pintados em vermelho-sangue invadindo ruas, vielas, batendo na lateral do caixão com o cabo do chicote, chamando-nos à compra das fressuras do boi: fígado, coração, passarinha, bofe, livro, tripas, corredor. Estes últimos, ingredientes principais da nossa gostosa panelada. A este anônimo de minha saudosa infância, a sincera homenagem.