Porque Lampião foi Bandido, Sua História, seu Tempo e seu Reinado - I Vol.

(Trechos do Cordel)

História Verídica do Cangaço Brasileiro

Autor: Zé Saldanha

A história de Lampião

Não é lenda e nem trancoso

É uma história verídica

De um brasileiro famoso,

O leitor lendo a origem

Gosta e se torna orgulhoso.

Para entender a origem

Precisa ler com cuidado

Desenrolando os volumes

Vantajosos e mal narrados,

Se entende bem, lendo o livro

Lampião e seu reinado.

Quem conheceu a história

Do cangaço nordestino,

Grande campo de batalha

Do velho Antônio Silvino,

Senhor Pereira e Luís Padre,

Diabo Loiro e Virgulino.

Trago tudo retratado

No arquivo da lembrança,

Aquele tempo de cangaço

Do protesto e da vingança,

Quando o código da lei

Era o rifle e a matança.

(02)

No Estado Pernambucano

Deste solo nordestino

No Pajeú de Flores

Nasceu Antônio Silvino,

No mesmo Estado, em Vila Bela

Também nasceu Virgulino.

Todos dois sentiram a dor

De ver o pai assassinado

Pelas mãos dos poderosos

Soberanos do Estado,

Que matavam e eram impunes

O crime ficava inválido.

Então Antônio Silvino

Jurou no seu coração

Vingar a morte do pai

E tornar-se um valentão,

Durante dezoito anos

Foi o terror do sertão.

Do mesmo jeito Lampião

O filho de Vila Bela

Anos depois de Silvino

Caiu na mesma esparrela,

Viu seu pai assassinado

Que hora tristonha aquela.

Crime feito pelos homens

Donos da lei do País,

Senadores e Deputados

Perversos como se diz,

Mandaram a polícia usar

Das suas ciladas vis.

(03)

Este crime Lampião

Não teve pra quem apelar,

Foi os homens da justiça

Que mandaram praticar,

Lampião chorando muito

Prometeu de se vingar.

Nogueira um bloco político

Senador e Deputado

Aliado a Saturnino,

Grupo perverso e malvado

E tinham mais um parente

Interventor do Estado.

Abro um parêntese no “verso”

Pra falar de Lampião:

Dizer quem eram seus pais

Como era a profissão,

E deixo o bloco político

Para o fim da narração.

Quem ler a história sente

A origem verdadeira,

Vida real do cangaço

Desta gleba brasileira

E o casamento dos pais

De Virgulino Ferreira.

Maria Vieira Lopes

E José Ferreira da Silva

Casados catolicamente

Na igreja positiva

Do Bom Jesus dos Aflitos

Em sua terra nativa.

(04)

Em dezoito noventa e quatro

Lá na Vila Floresta

A treze do mês de outubro

Um dia de muita festa,

Lá na pedra do navio

Esta verdade se atesta.

As testemunhas dos noivos

Darei os nomes de quantos:

Joaquim Vieira de Matos,

Manoel Ferreira dos Santos

O padre Joaquim Antônio

Benzeu com seus mantos.

Celebrou o casamento

No santo altar do Senhor,

Disse o padre: vão viver

Na santa paz, no amor

No prazer, na alegria,

No sofrimento e na dor.

Deste casal apóstolo

Da santa religião:

José Ferreira da Silva

Seu nome de tradição

E Maria Vieira Lopes

Foram os pais de Lampião.

Foram pais de nove filhos

Lá no sertão nordestino,

Que foram: João e Antônio

Esequiel e Livino,

No ano de noventa e oito

Foi que nasceu Virgulino.

(05)

E do sexo feminino

Nasceu Angélica Vieira,

A segunda foi Virtuosa,

Maria foi a terceira,

A quarta foi Amelinha.

Caçula de Ferrerinha.

No sertão de Vila Bela

Na época de mil e oitocentos,

No dia quatro de junho

Nasceu lá naqueles centos,

O Virgulino Ferreira

O mártir dos sofrimentos.

Toda família Ferreira

Sempre foram agricultores

Bem intencionados,

Amigos e trabalhadores

Em pequenas propriedades

Também eram criadores.

Então o José Ferreira

Velho pai de Lampião

Criou os seus nove filhos

Nesta mesma posição,

Com trabalho de roçado

E alguma criação.

José Ferreira trabalhava

Junto com os seus meninos,

No ramo da agricultura

Em terrenos pequeninos,

De um lado era os Nogueiras

E do outro os Saturninos.

(06)

Eles tentavam comprar

A terra de Zé Ferreira,

A família Saturnino

E a família Nogueira,

Porém José não vendia

Viviam nesta zonzeira.

Os Ferreira trabalhavam

E mucriavavam na estrada,

Tudo alegre e satisfeitos

Nesta vida batalhada,

Ativos trabalhadores,

Família pobre e honrada!

Os filhos de Zé Ferreira

Nas feiras regionais

Tornaram-se ambulantes

Retalhando cereais,

Queridos de todo povo

Calmos, amigos e sociais!

Antônio Ferreira e Livino

Feiravam em Triunfo e Flores,

Carnaúba e Vila Bela

Eram grandes vendedores,

Em Custodia e Floresta

Também foram mercadores.

Virgulino amava o campo

E a vida de vaqueiro,

Também se dedicava a arte

De ourive e de ferreiro

Foi fabricante de cela,

Alfaiate e sapateiro.

(07)

Dedicou-se a fabricar

Muitos artigos de couro:

Guarda peito, perneira, vesta

E ferrão pra topar touro,

No meio daquilo tudo

Também trabalhava em ouro.

Nas horas vagas fazia

Poesia Nordestina,

Dedilhava bem viola,

Tocava bem concertina

Era entrosado nas artes

Com idéias superfinas.

Em menino ele brincava

Como um general de guerra,

Dando instruções aos meninos

Colegas de sua terra,

Correndo danadamente,

Subindo e descendo a serra.

Em queda de braço e de corpo

Nunca ninguém o vencia,

Era maneiro no pulo

E tinha muita energia,

E a turma de meninos

Brincava, mais padecia.

No momento que parava

Das lutas do vai e vem

Ia ficar com o pai

A quem mais queria bem,

Mentalizar alguns planos

Das coisas que a mente tem.

(...)

(Continua...28 pág.)

1ª edição: julho/1969

AUTOR: José Saldanha Menezes Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte, em Plena Atividade

ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )

Rua Irineu Jóffili, 3610, esquina com Rua Piató -Candelária -Natal(RN)

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