Corisco e Dada II Vol. na História do Cangaço

(Trechos do Cordel)

História Verídica de Corisco e Dadá

(1)

De Corisco e de Dada

Eu escrevi a verdade;

Fiz o primeiro volume

Com minuciosidade,

E no segundo volume

Dou continuidade.

Lá no primeiro volume

Corisco ficou na serra,

Com Dada e os seus cabras

Cercados naquela terra,

Com esteira volante

E soldados a pé de guerra.

O lençol preto da noite

Estendido na serrania;

Uma chuva grossa e pesada

Que fortemente caía,

Os cangaceiros molhados

Fugindo da travessia.

A noite escura demais

Sem ver onde pisavam;

Caindo sobre os barracos

E nas pedras se cortavam,

Em macambira e facheiro

Na mata se espinhavam.

(2)

O dia vinha amanhecendo

O grupo mais animado;

Num terreno bom e plano,

Viajar mais apressado,

Quando se depararam

Num batalhão de soldado.

Um soldado escorado

No coice de um granadeiro,

Pra cabeça de Dadá

Tiro de perto e certeiro,

Ela viu e gritou: vala-me!

Santo Antônio companheiro.

Meu santo Antônio de Pambú

Dai-me tua proteção!

Que esta arma não me acerte,

Erre minha direção;

A arma pela culatra

Explodiu nesta ocasião.

Dadá tornou a chamar

Pelo santo milagroso;

Rezando uma reza forte

Pro defensor poderoso:

Me guarde a todo momento

Do combate perigoso!

Nos pandemônios dos tiros

Corisco muito ligeiro,

Escorregou e caiu

No centro de um espinheiro,

Quem lhe salvou foi Criança

E o cabra Limoeiro.

(3)

Tanto tiro a queima roupa

Porém ninguém foi ferido;

Fazia medo se ouvir

O eco do estampido,

Mas ninguém prejudicou-se

Nem soldado e nem bandido.

Os cangaceiros conseguiram

Fugir daquele flagrante;

E retiraram as mulheres

De estado interessante,

De dentro do tiroteio

Perigoso e fulminante.

Galgando pelas caatingas

De montes desconhecido;

Enfadados e abalados

Tudo cansado e duido,

E Dadá cheia de dores

Porem não dava um gemido.

Com sono, com fome e sêde,

Longa viagem avançava;

Tinham que comer nos bornais

Porém a água faltava,

Viram que sobre o riacho

Água franca, ali jorrava.

Ali saciaram a sêde

Encheram todos os cantis;

Merendaram alguma coisa

Neste momento feliz,

Agradeceram a Deus

Tudo que o destino quiz.

(4)

Era o ano trinta e quatro

A onze dias de março;

Dadá com as pernas perras

Sentindo grande cansaço

Só no chapadão da serra

Foi que armaram o cangaço.

Dadá descansou ali

Na noite daquele dia;

Otila ficou com ela

Servindo de companhia,

Lhe ajudou bem no parto

Fez tudo quanto podia.

No dia treze viajaram

No rumo de Maceió;

Viagem tão vagarosa

Penosa de fazer dó,

A criancinha doente

Sobre a poeira do pó.

A criancinha sem mamar

Que Dadá não tinha leite;

Sem conforto, sem remédio,

Sem ter medico que receite,

Davam água com açúcar

E o remédio era azeite.

Assim dezenove dias

Cuidaram desta criança;

O prefeito de Samambaia

Com muita perseverança,

Foi criar este menino

Com muito amor e bonança.

(5)

Era a vinte e um de abril

No dia de Tiradentes;

Quando a cangaceira Otila

Se queixava de doente,

E lá pelas vinte horas

Descansou recentemente.

A noite daquele dia,

Uma noite bela e fagueira,

Dadá ficou com Otila

Assistiu como parteira,

Fez todas necessidades

Do parto da cangaceira.

E com três dias depois

Deram este renascido;

A um padre pra criar

Que ficou comprometido,

De criá-lo e educá-lo

Com estudo evoluído...

As mães entregavam os filhos

Com os corações partidos.

Só por não poder criá-los

Pelo covis dos bandidos,

Davam-lhe os últimos beijos

Em pranto desensofridos.

Voltavam para o covis

Viver pelos matagais;

Espreitando os cascaves

A onça brava e vorais,

Sempre no ponto da mira

Dos fuzis policiais.

(6)

Vivendo nos grutilhões

Pelas cavernas escabrosas;

Ouvindo o rugir das feras

Infernais e perigosas,

Dormindo nas espeluncas

Feia, triste e temerosas.

Os sibilais das serpentes,

O jucurutú tristonho,

O cancão a meia-noite

Quando desperta do sonho,

Alarmando como quem está

Sobre um perigo medonho.

Até o vento passa triste

No centro da cordilheira;

As visões, os malassombros

Permanece a noite inteira,

Cocha o sapo, chia o grilo,

Pia a coruja algoreira.

Os sertões alagoanos

Um sertão vasto e campeiro,

Era um dos pastos bons

Pra vida de cangaceiro,

Protegidos e guardados

Por coronéis fazendeiros.

No estado da Bahia

Corisco mais Lampião,

Tiveram no seu encalço

Um enorme batalhão,

Da força pernambucana

Um mês de perseguição.

(...)

(Continua...40 páginas)

1ª Edição: fevereiro 2001

AUTOR: José Saldanha Menezes Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte, em Plena Atividade

ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )

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