Aprendiz de classe média

A classe média me esmaga

Exige tudo de mim

Outorga, empurra, estraga

Fazendo-me um cara assim

Detalhista e exigente

Perfeccionista enfim

Eu que era simplesinho

Só conhecia patrão

Fui conhecendo os caminhos

A corrente do tubarão

E hoje me violento

Toda vez que digo não

Discuto o percentual

Do juro do carro mil

Enquanto fecha o sinal

Que não passei por um fio

Teclando no netbook

Menssenger para o meu tio

Quando chega o Happy hour

Vou correndo pra loirinha

Quando o garçom me pergunta

“Crédito ou débito, a continha?”

“Vai ser separada ou junta?”

Eu olho a mesa a vizinha

E de olhos bem abertos

Para as oportunidades

“Você tem que ser esperto!”

Aprendi essa verdade

Sei que um dia me conserto

Antes da eternidade

Mas voltando ao assunto

Das coisas que aprendi

Com os meus amigos “ricos”

Que por acaso conheci

Só gosto de vestir griffe

Cristal, vermute e kiwi

Nas questões do amor então

A exigência explode

Tem que ser com gente fina

Coisa que só tem quem pode

Já chega esta triste sina

De só escutar pagode

Vez em quando um desespero

Me bate desenfreado

Como é que vou ter dinheiro

Pra pagar tanto fiado?

Só se eu fosse um feiticeiro

Harry Poter endividado

Mesmo assim sigo feliz

Com outro empréstimo bancário

Que consegui por um triz

Por me acharem perdulário

Mas eu sou bom aprendiz

E um cara do caralho