Mãe voltou depois de morta para me pedir justiça.

Dois filhos de pai e mãe

Trabalhavam sem medida

Um teve muito progresso

E ai ficou bem de vida

E o outro ficou tão pobre

Que até pedia comida.

O pobre era José

E o rico era João

O pai era falecido

E José e seu irmão

Moravam perto um do outro

Numa mesma região.

A mãe morava com João

Que era um jovem solteiro

Já José era casado

E tinha pouco dinheiro

E além disso tinha um filho

Mal criado e bagunceiro.

João era muito rico

Tinha muita criação

Mas era muito orgulhoso

E maltratava o irmão

E por mais que ele precisasse

Nunca lhe estendia a mão.

E José com muita fome

Porém sem nenhum tostão

Decidiu roubar um boi

Da fazendo do irmão

Esperou ele dormir

E tramou a situação.

Chegou no canto da cerca

E logo deu um pinote

Foi para um canto e matou

Um grande e gordo garrote

E pro irmão não saber

Escondeu em um caixote.

No outro dia contou

Tudo a sua companheira

E pediu maior segredo

Para não haver besteira

Que eles comeriam carne

Por uma semana inteira.

Mas logo João deu fé

Pois era muito sabido

Notou que algo estranho

Tinha ali acontecido

E viu que um dos garrotes

Tinha desaparecido.

Logo João contou a mãe

Que se chamava Mazé

Mas ela disse: eu nem sei

O garrote como é,

E João disse: não sei!

Mas acho que foi José.

João pegou um caixote

De dois metros por quarenta

Que era o caixote para,

Ele guardar ferramenta

E botou um cadeado

Que nem marreta arrebenta.

João disse pra José

Que iria viajar

E botou a mãe no caixote

Para ela escutar

E relatar para ele

Tudo que o irmão falar.

E disse assim a José

Explicando com clareza

Vou botar na sua casa

Um caixote de riqueza

Que preciso viajar

Pras bandas de Fortaleza.

Depois que João saiu

José teve mais prazer

Disse a mulher asse carne

Que eu to doido pra comer

E a mãe escutando tudo

Mas não podia dizer.

A mulher disse a José

Sem perder a sua escala

José não fale demais

Só erra quem muito fala

E tu não sabes o que tem

No caixote lá da sala.

E José disse: é verdade,

Eu vou abrir o caixão

Saiu e depois voltou

Com um pé de cabra na mão

E ao voltar ficou surpreso

Vendo o seu irmão João.

João lhe disse eu voltei

A viagem não deu certo

Esperei mais de uma hora

O meu colega Gilberto

Quando ai José notou,

Que o seu irmão era esperto.

João voltou para casa

E do caixão abriu a porta

Enquanto José olhava

De uma janela torta

Ai viu que a sua mãe

No caixote estava morta.

Deu um pulo da janela

E saiu em disparada

Notando que o seu irmão

Matou a mãe sufocada

Para escutar histórias

Dentro da sua morada.

João explicou a José

Mas José se aperreia

João pede mil segredos

Daquela história tão feia

Com medo de ir mofar

Trinta anos na cadeia.

João pediu que José

Encobrisse a safadeza

E que enterrasse a mãe

Ali pela redondeza

Que ele lhe dava um quarto

De toda a sua riqueza.

José na sua pobreza

Poupou a vida de João

E enterrou a sua mãe

Ali pela região

Tramando assim acabar

Com a vida de seu irmão.

José pegou o dinheiro

Como João tinha dito

E enterrou a própria mãe

Sem fazer nenhum conflito

Mas ele estava tramando

Deixar seu irmão aflito.

Na noite do mesmo dia

José voltou ao lugar

Que tinha enterrado a mãe

Tramando desenterrar

Para assustar João

Dentro do seu próprio lar.

José pegou o cadáver

E correu rapidamente

Para a casa de João

Que estava descontente

E botou o cadáver em pé

Logo na porta da frente.

José escutou um grito

Quando João acordou

João gritava: José!

O corpo de mãe voltou

E ai rapidamente

José correu e falou.

João você ta lascado

Vá se confessar na missa

Nossa mãe não tá gostando

De ver a sua cobiça

Sabe por que mãe voltou?

Porque ela quer justiça.

E João apavorado

Começou logo a falar

Dou metade do que tenho

Se você me ajudar

Pegue o corpo de mãe

E vá de novo enterrar.

E José foi enterrar

Como o seu irmão pediu

E mais ou menos meia noite

José tramou e sorriu

Foi desenterrar a mãe

E a cena se repetiu.

Tirou a mãe do caixão

Pra João perder a paz

E botou na porta dos fundos

Do casarão do rapaz

Pois José queria ver

Seu irmão andar pra trás.

De manhãzinha João

Abriu a porta da frente

E se alegrou por não ver

A sua mãe no batente

Mas quando abriu a dos fundos

João chorou descontente.

E mandou chamar José

Pra vim na sua morada

João contou a história

José deu uma risada

E falou a seu irmão

Não posso fazer mais nada.

João se desesperou

E José falou sem ter guerra

João fique preparado

Que essa luta não se encerra

Mãe tá nos dando um sinal

Que quer justiça na terra.

João com medo de ser preso

Nervoso se desanima

Mas teve uma boa idéia

E de José se aproxima

Manda enterrar a velha

E botar uma pedra em cima.

José disse pra João

Isso ai não me convém

Mãe quer trazer pra você

Uma mensagem do além

Mas enterro se eu ganhar

Tudo quanto você tem.

João ficou cabisbaixo

Porém não tendo outro jeito

Olhou pra José e disse

Nosso negócio esta feito

Se a velha não voltar mais

Minha palavra eu respeito.

José enterrou a mãe

E ficou rico demais

Já João perdeu a casa

E também os animais

Perdeu as roupas grã-finas

Plantações e cereais.

João perdeu o dinheiro

O carro e a fazendola

E José por tramar vingança

Dentro da sua cachola

Fez com que o seu irmão

Ficasse pobre de esmola.

A ganância não é nada

Dinheiro não é escudo

Quem for sábio seja humilde

E faça da vida um estudo

Amor é tudo na vida

Mas riqueza não é tudo.

Findo essa historinha

Com paz, amor, e doçura

Usando nosso cordel

E honrando a literatura

Para fazer a defesa

Da nossa autêntica cultura.

Também agradeço a Deus

Que pôde me inspirar

E a minha vó que contou

Essa história popular

Que transformei em cordel

Pra depois negociar.

23/03/2011 Rafael Neto.

Rafael Neto (Poeta de Cristo Neto)
Enviado por Rafael Neto (Poeta de Cristo Neto) em 30/03/2011
Código do texto: T2879750
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