ONDE EU MORAVA
Onde Eu Morava.
Guel Brasil
No terreiro uma paiada
Onde o gado ruminava,
A palma que engolia;
E onde papai descansava,
Enquanto mamãe tirava
A palha que não servia.
Depois de limpar o arroz
Ia mamãe pro fogão,
Preparar nosso comer;
Enquanto isso lá fora,
Vovô nos contava histórias
E as regras do bom viver.
A lua cheia brilhando
Nas cacimbas do ribeirão,
Sem medo de se mostrar
Prateava todo o sertão,
A noite virava dia
No meu pequeno rincão
De vez em quando se ouvia
Na escuridão do cerrado,
O piar de uma coruja;
Com seu lamento rasgado
Mãe d’água no rio seco,
Pranteava o seu reinado.
Hoje não resta mais nada
Nem meu cachorro campeiro
Nem coruja, nem mãe d’água;
E o carro de boi cargueiro,
Carunchou e apodreceu
Embaixo do umbuzeiro.
No lado esquerdo da estrada
Na direção do cerrado,
Vejo o nosso cemitério
Pelos maus tratos tombado,
E o velame tomando conta
Desse espaço do passado.
A grande cruz de pau-d’arco
Ali na beira da estrada,
Não sei como está de pé;
Não protege, não faz nada,
Mas serve de referencia
Pro viageiro em jornada.
São só restos, nada mais
Dos que aqui agora estão;
Papai, mamãe, e vovô
Fazem parte desse chão,
Estão em minha memória
Guardados no coração.
E as vozes do passado
Fazem meu pranto rolar,
Ouço o piar da coruja
E mãe-d’água reclamar,
Sinto-me como um forasteiro
....................É hora de retirar.
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