ONDE EU MORAVA

Onde Eu Morava.

Guel Brasil

No terreiro uma paiada

Onde o gado ruminava,

A palma que engolia;

E onde papai descansava,

Enquanto mamãe tirava

A palha que não servia.

Depois de limpar o arroz

Ia mamãe pro fogão,

Preparar nosso comer;

Enquanto isso lá fora,

Vovô nos contava histórias

E as regras do bom viver.

A lua cheia brilhando

Nas cacimbas do ribeirão,

Sem medo de se mostrar

Prateava todo o sertão,

A noite virava dia

No meu pequeno rincão

De vez em quando se ouvia

Na escuridão do cerrado,

O piar de uma coruja;

Com seu lamento rasgado

Mãe d’água no rio seco,

Pranteava o seu reinado.

Hoje não resta mais nada

Nem meu cachorro campeiro

Nem coruja, nem mãe d’água;

E o carro de boi cargueiro,

Carunchou e apodreceu

Embaixo do umbuzeiro.

No lado esquerdo da estrada

Na direção do cerrado,

Vejo o nosso cemitério

Pelos maus tratos tombado,

E o velame tomando conta

Desse espaço do passado.

A grande cruz de pau-d’arco

Ali na beira da estrada,

Não sei como está de pé;

Não protege, não faz nada,

Mas serve de referencia

Pro viageiro em jornada.

São só restos, nada mais

Dos que aqui agora estão;

Papai, mamãe, e vovô

Fazem parte desse chão,

Estão em minha memória

Guardados no coração.

E as vozes do passado

Fazem meu pranto rolar,

Ouço o piar da coruja

E mãe-d’água reclamar,

Sinto-me como um forasteiro

....................É hora de retirar.

guelbrasil@gmail.com

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 25/03/2011
Código do texto: T2870568
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