MORTE, SAUDADE E LEMBRANÇA DE SEVERINO FERREIRA
1
Sentindo tristeza e mágoa
Saudade e muita emoção!
Ponho o caderno na mesa
E a caneta na mão,
Escrevo a morte traiçoeira
De Severino Ferreira,
Que dói em meu coração!
Sou o repórter das rimas
De tudo que acontecer,
Deus me deu este destino
Eu tenho que resolver,
Mas este é tragicamente:
Tão duro, tão comovente,
Que dói a gente escrever!
Quando os nossos cantadores
Em vinte e cinco de outubro,
Viajavam palestrando
Sem haver nenhum penumbro,
Tudo alegre e sorridente
Num dia bem calmo e quente,
O sol se tornava rubro.
2
Alegremente seguiam
Pra um festival na Bahia,
A mão da fatalidade
Tragicamente proibia,
Quando ninguém esperava
O veículo capotava
Causando triste agonia.
Com Severino Ferreira,
Vila Nova e Zé Cardoso,
Sebastião e Valdir
Nesse desastre inditoso,
Geraldo Amâncio e Finemon
Nosso grupo forte e bom,
Só de poeta famoso!
Os Patativas da arte!
As estrelas da viola!
A poesia é seu mundo
O mundo é sua gaiola,
Nossos improvisadores
Beneméritos cantadores,
Que cantando nos consolam.
3
Vêem os nossos cantadores
Os primores da beleza,
A morte emboscar sem pena
E matá-los sem defesa,
Deixa a viola pra gente
Tocando funeralmente:
A dor, o pranto, a tristeza!
Nessa tremenda virada
O motorista morreu,
E Severino Ferreira
Também mais nada atendeu,
Ficou muito machucado
Ainda foi operado,
Depois também faleceu.
O Rio Grande do Norte
Perdeu de sua gaiola,
O pássaro mais cantador!
O canário da viola!
Fonte de rima altaneira!
Sem Severino Ferreira
Quem canta não se consola.
4
Quisera que a morte trágica
Mudasse de região,
Não passasse mais no Nordeste
Fazendo destruição
Nos poetas de primeira,
Levou o nosso Ferreira
Sem a mínima compaixão.
Não sei por qual motivo
A morte é tão imprudente
Contra os nossos cantadores;
Dirá, cruel, insolente,
Matando nossos poetas,
Só sendo inveja das metas
Da poesia da gente!
Levou Severino Ferreira,
Nosso vate nordestino,
Nasceu dotado das rimas,
Verso, improviso e tino,
De estro possante e forte
No Rio Grande do Norte
O maior foi Severino!
(...)
(Continua...)
Data da 1a.edição: outubro/1997.
AUTOR: José Saldanha Menezes Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte, em Plena Atividade
ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )
Rua Irineu Jóffili, 3610, esquina com Rua Piató -Candelária -Natal(RN)
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