CABOCO NA IGREJA

Fui à igreja, seu moço

Mas não gostei dela não,

É casa de munta gente

Só tem munta é confusão,

Briguei lá com um vorais

Achei pesado demais

A tá de religião.

Um amigo me pediu, seu moço!

Que eu fosse a igreja um dia,

Eu disse que de igreja

Nada dela eu sabia,

Ele disse pra eu fazer

Tudo qui o povo fazia.

Eu chamava ele de amigo, seu moço!

Mais era meu inimigo,

Me mandar prum lugar daquele

Preu levá tanto castigo,

Ele me mandou afim

Pra depois ri di mim

Do que houvesse comigo.

Confiei nele, seu moço

Fiz o qui o povo fazia,

Porém num deu certo não

Meu amigo era um tapia,

Vi o povo se ajueiando

Eu fui me aprochegando

Fazendo tudo qui via.

Um padão lá no artá, seu moço

Disse umas coisa qui tem,

As muié cubriro a cabeça

Se ajueiaro também,

Sem pano eu fiquei sem graça

Me irguei, tirei as carça

E cubri a cara também.

Uma muié disse: Olhi o doido!

E catucou a ota assim,

Eu também catuquei ota

Qui tinha perto de mim,

E dissi: Olhi um doido!

Ai começou um ingodo

Qui quase num tem mais fim.

Um cabra me deu um murro, seu moço!

Cabra de braço pesado,

Eu danei o murro noto

Qui vi o pé intrançado,

Ai danou-se o pagote

Eu sozinho pra um magote

Pra fazê tudo acertado.

Dei dimais e apanhei, seu moço!

Lá naquela confusão,

Um cabra me derrubava

Eu butava oto no chão,

Um curria, eu curri atrás

Achei pesado demais

A ta de religião.

Inda o danado do pade, seu moço!

Me chamou de inconciente,

Achou que eu tava errado

No meio de tanta gente,

Preu fazê tudo qui via

E aprendê tudo num dia

Num tem diabo qui aguente.

Aquele caboco de saia, seu moço!

Num é caboco bem séro,

Mustô os dois braço dizendo

Aqui só faz o que eu quero,

Se eu fosse falá com ele

Eu rasgava a saia dele

Pra vê qua é o mistério.

Ele me chamou de errado, seu moço

Chamou até de sujeito,

Tanto esfoço qui fiz

E ele num achou bem feito,

A ta de religião

Num dá pá caboco não

Nunca se aprende direito.

É mio caçá tatu, seu moço

Apanhá da caipora,

Pisá im rabo de cobra

Brigá com onça na hora,

De que visitá igreja

Qui casinha malfazeja

Essa qui conhici agora...

AUTOR: José Saldanha Menezes Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte, em Plena Atividade

ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )

Rua Irineu Jóffili, 3610, esquina com Rua Piató -Candelária -Natal(RN)

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