A MORTE DE CORISCO E O FIM DOS CANGACEIROS
(trechos do cordel, 36 folhas)
Lá no segundo volume
Corisco estava em pilões,
Muito cismado e nervoso
Cheio de contradições,
Com a grande esteira volante
Pisoteando os sertões.
Assim que entraram na vila
Corisco foi avisado,
Que por uma enorme volante
Estava sendo cercado,
Todos os becos da rua
Estava sendo tomado.
Dadá recebeu o aviso
Passou para os cangaceiros,
Ali ninguém zombou mais
Dentro dos sérios roteiros,
Grande cortina de fogo
Rompeu contra os bandoleiros.
Dadá e Corisco estavam
Do combate mais além,
Na casa de um compadre
Amigo sério e de bem,
Pedindo que se aguardasse
Porque sair não convém.
(2)
Era reforço baiano
Da cidade Bebedouro,
A vila virou um inferno
Fazia medo o estouro,
A bala cruzou no ar
Que parecia um besouro.
Balearam seis soldados
Romperam o fogo e fugiram,
Corisco e os cangaceiros
E Dadá se invadiram,
Deixaram a vila se ardendo
Outra direção seguiram.
Depois disso, Zé Sereno
E vinte e seis cangaceiros,
Se entregaram à policia
Com medo dos desesperos,
Dos inúmeros batalhões
Pelos sertões altaneiros.
Dos chefes cangaceiros
Resta Corisco e Ângelo Roque;
Perseguidos de maneira
Que não tem onde se soque,
Não tem canto e nem recanto
Que a policia não desloque.
Perguntaram a Zé Sereno
Pelos outros cangaceiros;
Por Ângelo Roque e Corisco
Os dois chefes derradeiros,
Zé Sereno respondeu:
Não sei nem dos roteiros.
(3)
Os comandantes são terríveis
Oportunos e exigentes;
Quiseram obrigar Zé Sereno
Com suas ordens imprudentes,
Dizer onde está Corisco
Ângelo Roque e seus detentes.
Zé Sereno disse: eu
Não quero mais dar um passo;
Nas caatingas sertanejas
Me entreguei pelo cansaço,
Fosse pra viver assim
Eu não deixava o cangaço.
Corisco Continuou
Nas lutas extravagantes;
Enfrentando todo dia
Enormes batalhas volantes,
Era um cerco atrás do outro
Combates horripilantes.
Dadá manifestou-se
Nas lutas do tiroteio;
Na defesa de Corisco
Brigava sem arrudeio,
Mas convidando Corisco
Para fugir deste meio.
Corisco lhe prometeu
De fugir para o Paraná,
Aonde tinha um filho
E queria ir até lá,
Visitá-lo que talvez
Nunca mais viesse cá.
(4)
Por minha vez eu fugia
Sem visitar mais ninguém,
Me ausentava daqui
Pra uma terra muito além,
Descansar, viver feliz
E terminar os dias bem.
Foram á casa de Geraldo
Lá na lagoa da serra,
Mas Dadá muito cismada
E acabrunhada da guerra,
Sempre dizendo: é melhor
Agente fugir desta terra.
É bom não ir pra Geraldo!
Assim reclamou Dada;
Corisco falou durão:
Quer ficar pode ficar,
Nada impede, que ao meu filho
Eu não chegue onde ele está.
Seguiu armado de rifle,
O punhal e o cutelo,
Mas na saída encontrou
Um cururu amarelo,
Dadá disse: olha aí !
Na viagem tem flagelo.
Corisco tinha grande cisma
Desse batráquio animal,
Disse: não passo nem perto
Deste agourento fatal,
Este bicho é um agouro
Tristonho e fenomenal.
(5)
Dadá falou: vamos embora
Sem visitar mais ninguém;
Abandonar o cangaço
Ficar daqui muito além,
Descansar, viver feliz!
Terminar a vida bem.
Lá no ponto da fazenda
Onde Geraldo morava;
Entre a casa e o curral
Uma estrada passava,
Vindo de Paripiranga
Muita gente transitava.
Dadá estava nervosa
Bastante desanimada.
Corisco falou raivoso:
Dadá esta assombrada?
Se encoste perto de mim,
Que não estou vendo nada.
Era nove da manhã
Numa calma admiradora;
Uma rajada de bala
Partiu de metralhadora,
Escurinho foi alvejado
De uma bala projetora.
Corisco naquela luta
Ligeira, pesada e quente,
O fuzil esgotou as balas
Foi colocar outro pente,
Nesse momento um soldado
Lhe acertou fortemente.
(...)
(continua...)
AUTOR: José Saldanha Menezes Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte, em Plena Atividade
ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )
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