Ribanceira
Ribanceira.
Guel Brasil.
Era manhã de setembro
O dia estava nublado,
Meu pai estava no eito
Arrancando macaxeira,
Que há tempos tinha plantado.
Mãe levantou-se cedinho
Antes de o galo cantar,
Fez café, bolo de puba,
Tirou leite de mimosa
Pra depois nos acordar.
Levantei-me apressado
Só de ouvir mamãe chegar,
Fui buscar água na fonte
Ali pertinho de casa,
Alegre a cantarolar.
Quando voltei, tudo pronto
Ali na mesa quentinho,
Leite, café, bolo de puba,
Vi papai vindo do eito
Tocando seu jumentinho.
Minha irmã, toda vaidosa
Com seu vestido de chita,
Também se levantou cedo
E eu fiquei reparando,
Como ela era bonita.
Tinha um pouco de mamãe,
Outro tanto do meu pai;
Eu era acaboclado puxei vovó e vovô
Mulato, cabelos lisos,
São marcas que nunca sai.
Ali éramos felizes
Com as belezas do lugar,
E ouvia papai dizer
Que seu maior pesadelo,
Era um dia ter que mudar.
E a velhice inevitável
Tratou de moldar seu jeito
E trouxe junto a mudança;
Viveu fugindo da morte
Mas a morte é trato feito.
Mãe foi se embora primeiro
Com doença matadeira,
Meu pai morreu de tristeza;
Fiquei eu e minha irmã
Cuidando da ribanceira.
Ribanceira era o nome
Daquele canto adorado
Com quatro alqueires de terra;
Hoje é um canto esquecido
Na memória do passado.
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