O BARULHO DE JOÃO DUQUE EM CARINHANHA.(por Zé de Patrício)

HISTÓRIA DE CARINHANHA - BA

O BARULHO DE JOÃO DUQUE EM CARINHANHA.

Por Honorato Ribeiro dos Santos(ZÉ DE PTRÍCIO)

(escritor,compositor,músico,poeta, jornalista,

historiador, professor e defensor das causas

do Rio São Francisco)

Blog: cidadecarinhanha.blogspot.com

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Há muito tempo atrás

Em Carinhanha sem ler

Muitos fatos que nos traz

Que muita gente morreu

Desde treze e dezenove

Brigas e entregas moveu.

Na rua Baixa da Égua

Morava a Negra Joaquina

Amada por gente nobre

E por muita gente fina

Descendente de escravos

Parece que era sua sina.

A rua Baixa da Égua

Puseram Treze de Maio

Dizem que a Negra Joaquina

Iria mandar o malho

Diz que raspou o letreiro

E a Euzébia fez o ensaio.

Domingo de missa o povo

Todos foram assistir

Cônego Júlio rezava

E a Negra sem pressentir

Tenente Batata veio

Com três soldados pra agir.

Prender a Negra Joaquina

Dos braços do cônego em molho

Soldado puxou do saibro

Levou um tiro no olho

Caiu no chão teso e duro

Ficando morto e caolho.

Tenente Batata ordenou:

Fogo, fogo!...No que gritou...

Fumaça cobriu a Praça

Acertou um velho que tombou

Não tinha nada com o peixe

O velho nem mosca matou.

Morreu o Velho Venâncio

Mas a Negra “capou o gato”...

Entre o padre e o sacristão

Morrer agora?... Isso é chato!

Entrou no lar do juiz

Doutor José Carlos viu o ato. [Era o pai do velho Venâncio]

Assim começou a briga

Em carinhanha sem Lei

Até um dia veio um cabra

De João Duque, eu bem sei

Matando o bom Andrade [O prefeito eleito]

Um coletor que aqui veio.

Seu sobrinho saltou o muro

E levou um tiro no pé

O povo já assombrado

De Deus não perdeu a fé.

De Salvador veio reforço

Tenente faria até...

Vingar a morte do Andrade

O objetivo do tenente

João Duque não tinha grupo

Formado, isso é patente

Mas não levava insulto

Pois era muito valente.

A fazendo do seu João Duque

Chamava-se Itacarambó

Muita gente ia lá pra festa

De cavalo e de mocotó.

Fizeram com que ele entrasse

Coragem tinha ele só.

Pra dominar em Carinhanha

E fazer dos bravos mocó

Até que não tinha intenção

Pois não queria entrar de coió

A influência era grande

Que acabou entrando sem dó.

ÓLÍVIO PINTO detido

Pelo tenente, malvado,

Alvino Pinto veio logo

Com um grupo bem armado;

Atacou logo a polícia

E seu irmão foi soltado.

A perseguição era grande,

Era a política de ódio...

O povo quem pagava o pato.

Na justiça nada era óbvio

Matavam, roubavam tudo

Nada era patente no código.

Até hoje em Carinhanha

Há buracos nas portas velhas

Dos tiroteio dos jagunços

Que atiravam nas janelas

Forçavam o povo pra sair

De mãos ao alto já com velas...

Ninguém saia das casas

Pois era sua morte certa.

A fuga era o Velho Chico

O rio era, então, sua meta

O povo sem comer nada

Fugia levando a breca...

O governador nesse tempo

Era Joaquim José Seabra.

Com muita diplomacia

Apoiava todos os cabras:

Coronéis e patenteados

Vencia quem tinha mais lábias.

Por isso João Duque agiu

Em dezenove pôs fogo

Com Martiniano Lacerda

E Quicas, dois cabras de jogo;

João Fumo mais Umbuzada

Fizeram-no pedir socorro.

Doutor Josefino correu

Que era o prefeito local.

Correu pra Bom Jesus da Lapa

Deixou o povo muito mal.

As lojas ficaram abertas

Pro cabras foi soma total.

Foram doze dias de fogo

E o povo trancado nas casas,

Na antiga Rua das Flores

Ninguém punha as suas asas.

Uma mulher tentou sair

Levou um tiro de brasa.

Da torre da Igreja Matriz

Mataram um no cemitério;

Fizeram da Igreja trincheira

Os cabras não tinham critério;;

A Igreja virou hospital

E o sangue jorrava à sério.

Izidório Fumo, o Malvado,

Bateu na tia de chicote

A velha morreu dias depois

Traumatizada com a sorte

Pois tinha chegado da lenha

Quando ele gritou com voz forte:

Ó velha Teodora, vem cá

Fuxiquenta, vou te mostrar...

Como é que faz tua arenga!...

E o povo agarrou-o pra tirar.

Mas a velha não agüentou

O muque que deu pra matar.

Tempos passaram, depois,

Que o cabra uniu com João Duque,

Ficou cego e canceroso

Quem bateu com forte muque

Na tia velha, veio do céu

A justiça e apagou-se o bugre.

O povo furava a parede

De casa em casa fugia

Pegava a canoa, descia

De mansinho se seguia,

Assim escapava da morte

Dos jagunços se escondia.

Pediu pra Santa Maria

Coronel Clemente mandou.

Seus cabras contra João Duque

Foi assim que o desafiou.

Facão na mão rastejavam,

Cortavam as portas, horror!...

João Duque fugiu e os cabras

Pra Manga em Minas Gerais

De lá foi pra Sambambaia

E a polícia não lhe deu paz.

João Jacaré e Umbuzada,

Martiniano muito capaz.

Fizeram um cerco de astúcia

Quincas, Izidório e outros.

O cerco foi muito bem feito

Que agüentaram muito pouco.

Bateram em retirada

Numa carreira qual louco.

Da Fazenda Sambambaia

João Duque foi pra Coribe

Mandou fogo pra valer

Com fuzil de bom calibre

Mas perdeu um de seus cabras

Que era valente qual tigre.

Simplício, o valentão

Que matou o seu Andrade

Foi morto e esquartejado

Sua cabeça foi fincada

Queimaram-no, ficou tostado

Em Coribe foi lembrado.

De lá João Duque voltou

Pra atacar de novo a terra

O povo tornou a correr

Aqueles que tinham pernas;

Outros desceram no Rio, (Velho Chico).

Deixando tudo em guerra.

Foi fogo por muitos dias,

Quem pode correr, correu...

Com a triste roupa do corpo

Correr bem pra não morrer.

Abilão levou uma queda

E no barraco se escondeu.

João Duque foi intendente

Carinhanha governou

Em vinte e dois tomou tudo (1922).

E a todo povo dominou

A polícia não satisfeita

Foi a campo e reforçou.

Tenente Batata chegou

Prendendo gente pra valer

Batendo em Manoel Pabula

E a outros fazendo deter.

Mas com a Negra deu sururu

O pau quebrou que ardeu.

No Beco do Pega falado

Roubaram a mercadoria

Depois que o povo correu,

Jagunço de Santa Maria

As lojas, vendas do povo

Roubaram tudo que havia.

Chegando aqui em Carinhanha

O valente Coaçu gostou

Matou gente em Jacaré. (Hoje, Itacarambi-MG).

E João Duque lhe abraçou.

Insultou Álvaro Oliveira

Que era bom coletor.

Falou sério pro coletor:

Dou-lhe vinte quatro horas

Pra sair de Carinhanha

Álvaro foi e deu o fora. (Pra Bom Jesus da Lapa).

Mas guardou no seu coração

A má vingança de outrora.

João Duque vindo da Bahia (Salvador).

Passou em Bom Jesus da Lapa.

Álvaro puxou do gatilho

Acertou um tiro no chapa. (Cel João Duque).

Um ágil rapaz com sua bengala

Bateu na arma na hora exata.

João Duque saiu ferido

O tiro bateu no pé

Álvaro queria vingar,

Mas o rapaz tinha fé

João Duque voltou pra terra

Deu-lhe ordem a Bambé...

Chico Meira, seu braço forte,

Não engolia desaforo, não.

Um tenente de Salvador

Deu-lhe voz de prisão.

Chico Meira deu um pulo

Meteu fogo no bichão.

A bala pegou na fivela

Por sorte ele não morreu

Chico Meira saiu de banda

Pra casa do Duque deu;

O cabo Lalau mandou fogo

Pois Chico Meira Respondeu.

O cabo da esquina da Igreja

Entrincheirou e mandou brasa

Choco Meira respondeu

Que fumaça cobriu a Praça. (Praça J. J. Seabra).

Foi um tiroteio infernal

João Duque lhe apoiava.

Duas vezes em Carinhanha

Houve rixas e intrigas;

As crianças recém-nascidas,

Mãe e pai correram da briga....

Muitos não retornaram

Muita gente nossa amiga.

Se voltasse o povo todo

Daria outra Carinhanha;

São Paulo e Belo Horizonte

Ganharam nessa façanha!

Por isso conta a lenda

“Tal serpente da peçonha.”

Um jagunço de João Duque

Experimentou o mosquetão

No corpo de Joana Pataca

Que caiu morta no chão

Dizem que era seu sobrinho

Esse dito sem coração.

Um jagunço de João Duque

Que gostava de indagar

Foi buscar Emídio Beato

Trouxe-o preso pra matar

Interferiu uma amiga

A João Duque a si implorar:

Assim Emídio Beato

Escapou do valentão

Umbusada era seu nome

Só andava com mosquetão

Todo o bando de João Duque

Desaforo engolia, não.

Os homens de habilidade:

Martiniano e Quincas

Sabiam táticas de guerra

Bastante balas nas cintas

Orientavam o bando

E davam-lhes boas fintas.

Naquele tempo era assim

Em todo lugar do sertão

Era a lei dos coronéis

Que tinham muita munição

Quem não conhece a história

Dos cabras de Lampião?

Graças a Getúlio Vargas

Que acabou com as vinganças

Depondo todos coronéis

Com tanta judiação.

Civilizando o povo todo

E fazendo Nova Aliança.

Quando Getúlio governou

Desarmou todo o sertão

Foi assim que em Carinhanha

Veio um tenente de galão

Desarmou o chefe João Duque

Com armas e munição.

Mandou que se apresentasse

As armas que ele tivesse

Para ele foi-lhe uma ofensa

Desaforo que assim houvesse

Foi desarmado e deposto

E na fazenda se entristece.

Pouco tempo faleceu

Com traumatismo moral

Nunca pensou em sua vida

Dessas coisas dessem mal

Morreu o famoso João Duque

Deu notícia no jornal.

Leitor amigo, eu sou novo

Porém foi bem pesquisado

Por velhos que sabem de tudo

O que passou no passado

A história de Carinhanha

Agora vai ser registra.

Feito revisão em 14/09/2012.

hagaribeiro@yahoo.com.br