O MUNDO SÓ VEIO PRESTAR QUANDO EU NÃO PRESTAVA MAIS
Autor: Zé Saldanha
Na minha época passada
Namoro foi sacrifício,
A moça num edifício
E pelo pai vigiada,
Pra poder ser namorada
Pedia licença aos pais.
Hoje a moça e o rapaz
Ficam a se abraçar e beijar.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
Meu tempo foi diferente,
Digo porque me convém,
As moças queriam bem
Mas tinham medo da gente
E todo pai era valente,
Hoje perderam o cartaz
A filha sai com um rapaz
Para beber, namorar e farrear.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
A lembrança ainda tenho
Dos vestidos do passado,
Hoje é curto e ligado
Que só manjarra de engenho,
Mostrando todo desenho
Do corpo na frente e atrás,
Tudo que a moderna faz
Eu só falto morrer de olhar.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
Lá pelos bancos da praça
Onde a vergonha mingua,
Tem casal chupando a língua
Na presença de quem passa,
A moça empurra o compassa
Vai pra frente e pra trás,
Cai por cima do rapaz
Vão se abraçar, se beijar!
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
Hoje qualquer cafajeste
Chega na casa de um pai
Chama a filha e ela vai
É na cidade, é na cipreste,
É no sertão e no agreste,
Formas que a modernidade trás.
A moça arrocha o rapaz,
Bota mesmo pra torar.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
O rapaz pega a mocinha
E sai de asa entrançada,
Ele com ela agarrada
Lá no banco da pracinha
Só voltam de manhãzinha,
Não sei o que diabo fazem
Uma moça e um rapaz
A noite toda a farrear.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
As mulheres do passado
Eram católicas compostas,
Rezava e recebia hóstia
Para evitar o pecado.
No mundo civilizado!
A mãe de hoje o que faz?
Entrega a filha ao rapaz
E manda ela namorar.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
Hoje o pai unicamente
Só serve pra dar de comer,
Pagar estudo e perder
Com estudante inconsciente,
Vão namorar certamente
Na escola lá por trás
A moça agarra o rapaz
Vão para o bar se beijar.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
As moças de antigamente
Dos seus pais cumpriram a lei,
O pai pra ela era um rei,
A mamãe era excelente,
Bem sincera competente,
Eram mães exemplares
Pelas formas doutrinais,
Mas a moderna veio mudar!
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
Hoje nada mais é certo;
Amor nem religião,
Moderna corrupção
Com seu modernismo esperto,
Deixando tudo em alerto
Olha a novela o que faz!
Mulheres, moças e rapazes,
Seminus a se beijar.
O mundo só veio prestar
Quando eu não prestava mais.
AUTOR: José Saldanha M. Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte, em Plena Atividade
ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )
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