Peleja em Má Criação
Autor: Zé Saldanha
Leitor leia uma peleja
Que é verdade e tem prova;
Duas vates repentistas
Que canta, improvisa e trova!
É Emília Catumbal
Com Filonia Cavacova.
Do Estado Alagoano
Todas duas violeiras;
Uma é da cidade de Barras
A outra é de Arueiras,
Boas no som da viola
No repente são primeiras.
Um certo dia Filonia
Viajava boatando;
Que quando pegasse Emília
Ia dar nela cantando,
E mandou dizer pra ela
Que fosse se preparando.
Emília com este boato
Ficou muito rancorosa;
Disse que Filonia era
Atrasada e mentirosa,
Vou dar nela em cantoria,
No improviso e na glosa.
(02)
Sem uma saber da outra
Foram ambas convidadas;
Pra cantarem em Vila Boa
Perto de Sete Moradas,
Na casa de João de Lurde
Nas festas mais renomadas.
Filonia chegou primeiro
Com prazer e alegria;
Porém chegou sem saber
Do convite que havia,
Mais tarde chegou Emília
Para a mesma cantoria.
No salão do festival
As duas se abancaram;
Combinaram as violas
Mas não se cumprimentaram,
Emília saiu na frente
E a peleja iniciaram.
Eu sou Emília Catumbal
Onde tem briga eu acabo;
Sou a cobra tiririca
Que mordeu no pé do diabo,
Tenho veneno da presa
Até a ponta do rabo.
(03)
Filonia:
Com teu veneno eu acabo
É veloz meu pensamento;
Se eu fitar nos teus olhos
Você cega num momento,
E não tem médico que cure
Meu veneno é violento.
Emília:
Se eu te arranhar no momento
Com meu veneno sanhudo;
Seu corpo vira bagaço
Desaparece o estudo
Pega fogo na matéria,
Se acaba com alma e tudo.
Filonia:
Se eu usar meu estudo
Com o meu veneno profundo;
Teu corpo vira poeira
Tremendo no meio do mundo,
Leva fim, desaparece
Em menos de meio segundo.
Emília:
O teu veneno profundo
Me serve de lenitivo;
Se você tomar o meu
É forte meu corrosivo!
Morre tu com tua raça,
Não escapa ninguém vivo.
(04)
Filonia:
Se eu usar meu positivo
Tu vai me pedir arrogo;
Arranco o eixo da Terra
E deixo fora do jogo,
Pego o oceano velho
Agito a água e toco fogo.
Emília:
Nos planetas eu abro o jogo
Com a maior rapidez;
Faço um trovão estrondar
Numa enorme estupidez!
Abro um relâmpago no mundo
Incendiando de vez.
Filonia:
Eu tenho a força talvez
Do gênio do arrebol;
Sou o escripe da lua.
Cometa que para o Sol,
Sou chuva e tempestade,
Relâmpagos de caracol.
Emília:
Sou trovão de arrebol,
Murmúrios das cachoeiras;
Cordas de fogo que caem
Nos centros das cordilheiras!
Sou mal assombro das águas,
Serpentes das ribanceiras.
(05)
Filonia:
Sou assombro das cordilheiras
Dona do verso e da rima;
Paro o sol, a lua, o vento
Mudo o sistema do clima!
Deixo a Terra no escuro
E fico olhando de cima.
Emília:
Vou jogar você num clima
Num vácuo que a Terra tem!
Não tem ar, nem luz, nem vento:
Onde não passa ninguém;
Dou um pulo e caio fora
Fico olhando do além.
Filonia:
Se me fizer raiva também
Com sua má qualidade;
Eu ponho fogo no mundo
E derreto a humanidade!
Fico tocando viola
E olhando a calamidade.
Emília:
Você não fala a verdade
Só tem muito é pabulagem;
Eu me defendo no verso
Você faz outra vantagem,
Vou dar-lhe um murro na cara
E acabar com a malandragem.
Continua.......vendas nas Livrarias Siliciliano e Poty - Natal (RN)
AUTOR: José Saldanha M. Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte, em Plena Atividade
ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )
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