VOU PEDIR PRO DOUTOR PEDRO TIRAR O MEU SANGUE DO SANGUE DO RAIMUNDO
Ser parente de um sujeito desse
Não me deixa nem um pouco contente
Não se escolhe parente, infelizmente
Pra ter que tolerar cara como esse
Um sujeito que vive de interesse
Cabra muito nojento e bem imundo
Logo espero que esteja moribundo
Cemitério pra ele é bom lugar
Vou pedir pro doutor Pedro tirar
O meu sangue do sangue do Raimundo
Esse cara ser da minha família
Não agüento mais de jeito nenhum
Perebento, arruaceiro e bebum
Da mulher vendeu já até mobília
Matou um lindo pé de buganvília
Vive só de passar cheques sem fundo
Pra sustento de um vício imundo
Beber cana e a todos enganar
Vou pedir pro doutor Pedro tirar
O meu sangue do sangue do Raimundo
O Raimundo é um primo do poeta
Bento a quem vive sempre a perturbar.
Então Bento resolveu apelar
Bento como não é mesmo pateta
Com família e ajuda de uma neta
Angariou grana e bastante fundo,
E nem que durma um sono profundo
Mesmo que tenha muito que viajar.
Vou pedir pro doutor Pedro tirar
O meu sangue do sangue do Raimundo
Entretanto, se isso for mesmo impossível
Bento já achou outra solução
Pro Raimundo fez sua cova no chão
Dessa ideia está bem irredutível
O convívio dos dois não é possível
Pros dois não há espaço neste mundo
Sofrimento do Bento é profundo
Que ele não tem mais como aguentar
Vou pedir pro doutor Pedro tirar
O meu sangue do sangue do Raimundo
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
FORTALEZA, MARÇO/2011