Saga de um matuto eleitor
José Feitosa da Silva
(JFeitosa)
Transliterado
Sô um cabôco honrado
Que moro num bibocão,
Que só cunheço a cidade
No dia das eleição,
Mermo assim acumpanhado
Ao lado do meu patrão.
Vô contar esta história
É uma história ingraçada,
Onte ao meio dia
Chegou o patrão lá em casa,
Trazeno em suas mão
Uma caxinha incarnada.
- Cheguei aqui esta hora
Porque logo vô vortar,
O meu tempo está curtinho
Eu não posso demorar
Esta caxinha é sua... pega!!!
É pra você ir; amanhã votar.
Eu recebi a caxinha
E coloquei-lha ao lado,
Continuamo a prosa
Numa cunvessa educada,
E ele diche: eu já vô...
Até amanhã de madrugada.
Chamei logo a muié
Ela veio da cuzinha,
Ficamo junto, para abrir a caxinha.
E quando rasguei a caxa
Uma camisa listrada
E um vistido de flozinha!
A muié muito contente
O vistido foi provar,
Depois veio até a sala
Para ele me mostrar, e diche assim:
- Oia cumo tô bunita
Tô pareceno um jardim!
A noite logo chegou
Não conseguimo durmir,
Era eu oiano ela
E ela oiano pra mim,
Contano nos dedo as hora
Achano muita demora, para poder se vistir!
Amanhecemo vistido
E naquela ansiedade,
Oiano todos pra telha
Para vê a claridade,
Isperano o patrão
Para irmo à cidade.
O patrão logo chegou
E começou buzinar,
Foi então que eu curri
Para as porta ir fechar,
E gritei: - bom-dia patrão!
Nós não vamo demorar.
Quando descemo a calçada
O patrão oiô e riu,
Foi aí que percebemo
Que a porta do carro abriu,
E uvimo uma voz, entrem:
Voces vão aqui cum migo.
Montamo logo no carro
E ele já foi andano,
Cada cancela que eu abria
A istrada ia incurtano,
E o patrão convessano dizia:
Estamo se aproximano!
E chegano na cidade
Aquela movimentação,
De tanta gente que tinha
Parecia uma procissão,
E o patrão perguntou:
Vocês não tão cum medo não?
Pode dexar meu patrão!
Faço que o sinhor quiser,
Garanto honrar meu voto
Eu e minha muié,
E depois do cumbinado!
Ganha seu canidato, dicho eu tenho Fé.
E o patrão sorridente
Apontava cum a mão,
Dizeno a fila é aquela
Que se parece um cordão,
Quando vocês terminare
Me ispere no portão.
Pegamo aquela fila
Que parecia uma corda,
Só via o povo saino
E nós sem chegar na porta,
O movimento era grande
E agente esperano a hora.
E eu ali matutava
Sem dar uvido a cunvessa,
Andano devagarinho
Cumo se pisasse em pedra,
Quando me lembrei da porta
Já tava pertinho dela!
Naquela ocasião, entrou um e saiu outro
Quando ouvi uma voz dizer:
Ei... pode entrar seu moço!
Tirei o meu chapéu e cumecei a andar
E chegano lá na mesa, falei:
- Estou pronto pra votar!
A moça que me atendeu
Era uma pessoa educada!
Diche a cabina é aquela
O sinhô fique a vontade,
Digite os números certinho
De todos seus canidatos.
Caminhano em direção
Meu corpo parecia chama,
Chegano lá dei de cara
Cum uma mesa redonda,
Em riba dela uma peça
Cumo se fosse sonfona.
Lembrei logo do cumpade
Tocano num pé de serra,
Onde fazia sucesso
Apertano suas tecra,
Agora vô imitá-lo!
Infiano o dedo nela.
E eu ali impolgado
Sem saber o que fazer,
Juntano número cum número
Isperano aparecer,
O retrato do canidato
Que eu pretendia vê.
Mais o tempo foi passano
E eu ficano acuado,
Oiava em minha vorta
Não tinha ninguém ao lado,
Foi aí que percebi
Que o número tinha errado!
Agora já descobri
E vô fazer outra vez!
Meteno o dedão da mão
Pru riba da tecra verde,
Para confirmar o retrato
Do ome lá da parede.
Oiano naquele vrido
De lado daquelas tecra.
Era um retrato bunito
Um ome de dente aberto,
Agora tinha a certeza
Que tinha votado certo.
A partir desse momento
Me sinti um cidadão,
Deixei a sala neuvoso
Mais aí tinha razão,
Procurei minha muié
Que já tava no portão.
E quando me aproximei
Perguntei logo pra ela,
Ela me oiou ligeiro
Cum aparênça amarela,
Dizeno: nego eu tentei!
Mais não vi nada na tela.
Nessa hora o patrão
De nós se aproximou,
Dizeno missão cumprida
Meus queridos eleitor,
Subimo logo no carro
E ele ligou o motor.
Seguimo nossa viage
De vorta pra nossa casa,
Eu, a muié e o patrão
Montado naquele carro,
O carro muito ligeiro
Pru riba do nosso rasto.
Quando chegamo em casa
O sol ainda estava aceso,
O patrão diche bem arto:
Vocês foram verdadero!
Fez a vorta e foi imbora
Deixou nós no cativero.
Entrano naquela casa
Acendi a lamparina,
De tanta fome que tava
Roncava minha barriga,
Chamei a minha muié
Para fazer a cumida.
Depois que matamo a fome
Apaguei o candinhero,
Fiquei ali cuchilano
Cumo se tivesse bêbo,
Pensano nas obrigação
E o bosso liso, sem dinhero...
Foi aí que eu pensei
O que é uma eleição!
A gente sai pra votar
Pra se manter cidadão,
E só quem leva vantage
É o danado do patrão.