Peleja (Galope à Beira-mar)
No deserto da minha inconsciência
Não pensava, só havia ignorância
Nada via e não tinha substância
Sem mistério, tempero ou essência
Nada vive sem ter subsistência
Que procure nesse mundo saciar
Pôde a vida um dia encontrar
Uma luz que adoce o meu desejo
Mas por certo no martelo eu pelejo
Viro o mundo em galope à beira mar
Tanto tempo passei sem argumento
Tanta luz foi por mim desperdiçada
Mas um brilho atiçou minha caçada
Pra crescer sem passar por sofrimento
Esquecendo a engrenagem do tormento
Só vivendo o doce mel do bem amar
Pode o tempo por fim me libertar
Da sombra de um distante lugarejo
Mas por certo no martelo eu pelejo
Viro o mundo em galope à beira mar
Talvez um dia em pensamento
Venha a ouvir um grito solitário
De um fantasma preso no armário
Que um dia emparedei no nascimento
A lembrança do primeiro sentimento
Dessa luz que brilhava em meu olhar
Talvez ela venha a me reconfortar
E enfim iluminar o meu vicejo
Mas por certo no martelo eu pelejo
Viro o mundo em galope à beira mar
Mas de onde me vem profano sopro
Que dispara em versos e me inspira
Como um bom vidente que previra
Ser a vida esse enorme desalinho
Procurando além desse caminho
Na ventania, campos ou mesmo mar
Em harmonia palavras vou encontrar
Que case acorde, ponteio ou harpejo
Mas por certo no martelo eu pelejo
Viro o mundo em galope à beira mar
Pode o mundo ser grande ilusão
E os campos que cavalgo serem vastos
Pode até minhas idéias serem pastos
Para todo e qualquer ser oprimido
Mais não pense que acho divertido
Ser apenas mais um na multidão
Para viver respiro sem certidão
E a vida me transporta no lampejo
Mas por certo no martelo eu pelejo
Viro o mundo em galope à beira mar
Pela luz que meus olhos alumiam
Sou o verso correndo pelo mato
Da miséria desafeto e desacato
Sou o raio mais rápido que trovão
Que só percebem os de boa visão
Corro o céu como se fosse corisco
Mais no vento e no tempo me arisco
E não faço do meu coração um lugarejo
Mas por certo no martelo eu pelejo
Viro o mundo em galope à beira mar