SEXO NO PARAÍSO

1

Dizem que no Paraíso

Adão e Eva pecaram

Porque perderam o juízo

E sem se conter, transaram.

2

Isso é conversa sem nexo,

E mole, e pra boi dormir!

Se eles não fizessem sexo,

Como Eva iria parir?

3

Além disso, o próprio Deus,

Que da humanidade é Pai,

Foi quem disse aos filhos seus:

Crescei e multiplicai!”

4

Então, miche essa conversa

Que sexo é sempre pecado!

Não vou querer entrar nessa

De viver sempre abrasado.

5

Conceber que sexo é feio

Baseou-se numa falha:

A maçã partida ao meio

Parece uma genitália.

6

Mas, o fruto proibido

Maçã não era. E é gozado:

Transar era permitido,

Não transar é que era errado.

7

Sexo é vida, é bom demais!

Não tem nada de safado;

Só com muito amor se faz,

Porquanto é santo e sagrado.

8

Explico: Ele pressupõe

Os filhos que vão nascer.

Se eles não tem pai nem mãe,

Quem os ensina a viver?

9

Transar a torto e a direito

É, pra muitos, o nirvana.

Mas não será preconceito

Só pra se sentir bacana?

10

O que é gostoso é o prazer,

Não tanto a variação.

Não se enjoa de o céu ver

E nem de arroz e feijão.

11

É muito difícil, eu sei,

Renunciar a um prazer

Em nome só de uma lei

Que é preciso obedecer.

12

Mas, se meditar um pouco

Em sua finalidade,

Vai ver que só mesmo um louco

Pratica o sexo à vontade.

13

Primeiro, não vai tardar

A contrair uma aids.

Eu até vou lhe mostrar,

Sobre o tema, alguns slides.

14

Alguns dizem que transar

Só presta bem prevenido.

Mas, será que adiantará

Você bancar o sabido?

15

Todos já sabem que os vírus

Se incubam por quinze anos;

E os testes são meros tiros

No escuro; e há muitos enganos.

16

Quem transa (alertar me cabe)

É pior do que quem fuma,

Pois, aids mata e quem sabe

Se você já não tem uma?

17

Se alguém que é sua paquera

Quiser transar com você,

Caia fora logo, fera!

Cê não vai se arrepender.

18

Não vale a pena arriscar

Só pra fugir do embaraço

E logo depois, ficar

Quinze anos torando aço.

19

Muitos que vivem à esmo

Tem o seguinte pensar:

“Como eu já vou morrer mesmo,

Tenho mais é que transar.”

Por inverter os valores,

Se afligem com muitas dores,

Multiplicando o penar.

20

Melhor que transa é se amar,

Tal como o sol ama o dia.

Veja quanta coisa má

Não mais aconteceria:

Primeiro, dores imensas

E esse surto de doenças

Venéreas não haveriam.

21

Em muito, se atenuariam

Os problemas sociais.

Nossos olhos não veriam

Nem hoje nem nunca mais

As criancinhas nas ruas,

Descalças, com fome, nuas

De roupa, carinho e paz.

22

Se ouvir seu bolso chorando

Você também não quiser,

Nem seu vizinho cantando

Ter que aplaudi-lo de pé,

Tenha vergonha na cara,

E aposente sua tara:

Tenha só uma mulher.

23

Se aquela tremenda gata

Chega arrasando e no cio,

Se lembre que a Aids mata

Por dia, quase seis mil.

Se aquele rapaz que é gay

Lhe azarar, dizendo: “Amei!”

Não ouça seu assobio!

24

Se a melhor mulher do mundo

Lhe chamar de "Meu amor!"

Ou se qualquer vagabundo

Der uma de tentador,

Sexo, nem que a vaca tussa!

Brincar de roleta russa

Não é sábio não, senhor!

25

Deixem lhe chamar de brocha,

Boiola, donzelo, bicha!

Bradar: “Chato de galocha!

Falta-lhe fogo, salsicha!”.

Não ligue para essa gente

Que nem sabe que é demente!

Não dê brecha! Compre a rixa!

26

Nesse mundo decadente,

O maior deus é o Prazer,

Ópio que algema o vivente

No grilhão do não-viver.

Melhor é pôr uma aldrava

Na mesma porta em que entrava

Quem queria lhe prender.

27

O ato de fazer amor

É a mais sublime das artes:

Beijam-se o Prazer e a Dor

Para a grandeza das partes.

E nessa dança de leis,

É quando “um mais um são três”,

Desconcertando a Descartes.

28

Tal qual "Penso, logo existo",

Sem dúvida, preferimos

A lei que se inspira nisto:

Amamos, logo existimos.

Se os que não pensam são pobres,

Os que não amam descobrem

Que não são irmãos, são primos.

29

Nós somos frutos do amor.

Ele inspira o sentimento

Que aprimora seu labor

No mais eterno momento.

Pra manter a chama acesa

E lhe dar toda a beleza,

Sexo só no casamento.

30

- O que é que isso tem de bom? -

Primeiro, o amor cresceria;

E é bem vital esse dom

Pra sustentar a poesia.

Pois, se uma planta é plantada

E depois, desarraigada,

O que é que aconteceria?

31

Plante uma roseira aqui,

Depois, mude ela pra lá,

Em seguida, para ali,

Mais adiante, pra acolá!

Sua rosa, que é tão bela,

Vai se amofinando nela

E a roseira morrerá.

32

Todo homem é tal roseira

Que é plantada na mulher,

Com a semente certeira,

Que é tudo o que ela só quer.

Mas, além do filho, além,

Ela se nasce também

Do amor que o homem lhe der.

33

"Mas, se eu sou inda solteiro?

Não posso curtir motel?"-

Eis um belo e verdadeiro

Tema para outro cordel.

Por enquanto, o raciocínio

É buscar o autodomínio

Qual quem conquista um troféu.

34

Pois, é pura sensatez

Ter somente uma mulher

E nunca casar de vez,

Sem saber quem ela é.

Evita aborrecimento

E muito arrependimento

Os dois terem mesma fé.

35

Quanto a casar-se com alguém

Que não saiba o que é Amor;

Que sonhe em ter um harém

Que só vai lhe causar dor;

Ah meu Deus! Que triste vida!

Melhor estar decidida a

Casar-se só no Senhor.

36

Deus, que é pai da natureza,

Faz tudo o que Ele quiser,

Mas, pela sua grandeza,

Não impõe o que Ele quer

E deixa que todos tomem

Decisão pra cada homem

Ter somente uma mulher.

37

Imagine a humanidade

Em total monogamia

Unindo a felicidade

Ao mais eterno dos dias!

E apaixonados casais

Esbanjando amor e paz

Nos lares, praças e vias!

38

Ah! Quanta felicidade

Se as coisas fossem assim:

Em vez do ódio, a bondade;

O bom vinho em vez do ruim;

Não ver o mal, mas o bem;

Eu não sofrer por ninguém

E ninguém sofrer por mim!

39

Em vez de infidelidade,

Amor crescente e gentil.

Em vez do engano, a verdade;

Prazer, em vez de fastio.

E ao invés de mil mulheres,

Terem’os homens que quiserem

Uma que valha por mil.

40

Se acha que já está na hora

De o homem criar juízo

Para provar desde agora

O bem de acatar aviso,

Sei que você amará

Quando souber desfrutar

O sexo no Paraíso.

Lúcio Gama
Enviado por Lúcio Gama em 07/03/2011
Reeditado em 05/05/2012
Código do texto: T2833144
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