A Terra Misteriosa ou O Mundo dos meus sonhos
Autor: Zé Saldanha
Trechos do Cordel
01
Leitores a morte é certa
A vida é cheia de prosa,
Na descoberta das coisas
Há mais uma milagrosa,
Descobriu-se agora pouco
A Terra Misteriosa...
Eu não gosto de mentiras
Não menti pra ninguém;
Escrevo aquelas belezas
Das coisas que me convém,
Vou descrever as grandezas
Que a minha terra tem...
No quintal da minha casa
Um pé de feijão nasceu,
Eu apanhei a metade
O resto o galo comeu,
Bati cento e trinta sacos
Fora o que apodreceu.
No quintal do meu vizinho
Tem um pé de mandioca,
Produz a farinha feita,
O beiju, a tapioca,
Peixe adubado com coco
Carne, pirão e paçoca.
2
Um pé de milho lá,
Espiga dá mais de cem,
Dá pamonha cozinhada,
Canjica e doce também,
Dá pipoca com manteiga
Mungunzá, pão e cherém.
Lá um pé de coqueiro
Botou o primeiro cacho,
Um avião bateu nele
E botou um coco abaixo,
A quenga tapou um rio
A água encheu um riacho.
Na Terra Misteriosa
Ninguém planta mais coqueiro,
Porque um só plantou-se,
Assombrou o mundo inteiro
Furou o céu e foi à corte
Do bom Jesus verdadeiro.
Deus pediu por telegrama
Para o coqueiro ser cortado;
Na mesma hora botaram
Oitenta e dois machado,
Trabalharam quinze dias
Pra poder ser derrubado.
3
Em um quadrado de légua
Fizeram à imitação;
De pedaço de coqueiro
Estava coberto o chão
De um coqueiro somente
Essa enorme produção.
Agora vamos tratar
De tipos de fruteira;
Desde o quiabo a tomate,
Do maxixe a pequizeira,
Da melancia ao melão;
Mamoeiro e bananeira.
Um pequi de minha terra
De quilo dá mais de cem,
E no pé de pequizeiro
Não há quem conte os que têm;
Trinta quiabos de lá
Dá uma carga de trem.
Lá um pé de bananeira
Tem a possibilidade,
De botar mais de cem cachos
Dá de toda qualidade,
De uma banana, um elefante,
Não come nem a metade.
4
Lá ninguém quer mais plantar
Melancia e nem melão!
Cresce demais e não presta
Pra fazer exportação,
Uma banda de melancia
É a carga de um caminhão.
Um pé de tomate cobre
Umas mil cova bem marcada;
Três maxixes bem verdinhos
De lá dá uma carrada;
O jerimum, uma carreta
Carrega uma talhada.
Um pé de mamão de lá
É riquíssimo em produção:
Dá mamão, maracujá,
Pinha, maçã e melão,
E nas raízes, dá inhame,
Macaxeira e fruta-pão.
Lá é o reino da vida!
A terra suavizante;
Lá nasce bife em roçado,
Carne guisada em vazante,
As barreiras são de queijo,
Rios de refrigerante!
5
Lá a terra tem de tudo
Sem precisar trabalhar:
Tem pé de roupa engomada
Para quem quiser usar,
A mais luxuosa do mundo
Sem precisar de comprar.
Pé de sapato de luxo
Tem a maior novidade!
Os pés das meias de classe,
É carregado à vontade;
Pé de gravata bonita
De primeira qualidade.
Também tem os pés de jóias,
Os mais bonitos do mundo!
Relógio, anel de brilhante
De primeira sem segundo,
Os pés de cordão de ouro
Lá o carrego é profundo.
A produção de uma ovelha
Sem haver nenhum engano:
Uma ovelha ou uma cabra
Lá o produto é tirano,
Cada um produz mais
De cem filhotes por ano.
6
Uma vaca de minha terra
Eu vou contar pra vocês:
Uma vaca quando dá cria
É dez bezerros de uma vez,
O leite de cada peito
É de cinco canadas a seis.
Eu não gosto de mentira
E provo com Zé de Toba,
As coisas de minha terra
Não é coisa muito boba,
Um bezerro lá quando nasce
Já tem mais de dez arroba.
A galinha de minha terra
Bota ovo preparado:
Uma parte vem cozido
E outra parte é fritado,
A terceira parte é capão,
Pronto, cheiroso e guisado.
Um gavião de minha terra
É um monstro mundurú,
Vi um gavião voando
Fazendo um turututú,
Um jumento em cada pé
E no bico um boi Zebu.
Tem continuação........