O CASAMENTO DA POODLE XUXA COM UM VIRA-LATA

(Baseado no "Caso da Cachorra" de Jessier Quirino.

Este fato aconteceu

Na Fazenda Quebra-Coco

Município de Sossego

Na casa de um caboclo

Sujeito destabocado

Que gosta de um pisunhado

Pra fazer um arranca-toco.

A Fazenda Quebra-Coco

Conhecida na região

Pelas grandes vaquejadas

Com festas de apartação

E outros grandes folguedos

Era do Coronel Ledo

Famoso Lelê Brandão.

Vaqueiros da região

Que por ali trabalhava

Tinha serviço pesado

Muito pouco descansava

E nos finais de semana

Tinha os folguedos de fama,

Outros caçava e pescava.

Ali também habitava

Um tal Zuca de Lelê

Filho de Lelê Brandão

Preguiçoso como que

Mas quando a época chegava

Era quem organizava

E armava o fuzuê.

Sua filha Zaluê

Criava uma cachorrinha

Dessas Pudo bem peluda,

Perfumada e bonitinha

Era o xodó da família

Criada como uma filha

E se chamava Xuxinha.

Mas na casa também tinha

Um vira-lata afamado

Bom de caça, companheiro

Na luta juntando gado

Gordo parecendo um monge

E com o nome de Stalonge

Foi desde novo chamado.

Tinha fama de tarado

Na cachorrada vizinha

Por isso vivia sempre

Infernizando a Xuxinha

Até que chegou o dia

Que ele cheio de alegria

Travacou a cachorrinha.

Um dia de tardezinha

A cachorra vacilou

O cachorro chegou junto

O tranxinxim começou

Lá no fundo quintal

Numa devassa total

A Xuxinha engravidou.

Aí o tempo esquentou

Pra riba do vira-lata

Zé do Tiro irmão de Zuca

Quis ir com ele a chibata

Porém achou que dizer

A Zuca e a Zaluê

Era a coisa mais sensata.

Zuca estava na mata

Pescando à beira do rio

De repente Zé do Tiro

Se acabando em desvario

No seu pangaré montado

Pulou no chão apressado

Chegou que Zuca nem viu.

«Compadre Zuca, meu fio,

Te quilibra na beirada

Do cóigo pra num cair

Que a merda tá pendoada:

O Stalonge safado

Garrou Xuxa nos costado

E a pobre foi estrompada!»

Zuca sem entender nada

Perguntou ababacado:

-Que conversa é essa, home?

- O Stalonge, safado,

Chamou na xinxa a Xuxinha

Que o cachimbo da bichinha

Ficou todo esculhambado!

Zuca, meio disleriado

Sentou na terra da estrada

Garrou a pensar na Xuxa

Já com a zabumba furada

A cachorrinha da filha

Era cria da família,

Tinha que ser amparada.

Saíram em disparada

Pelo aceiro da mata

A tragédia precisava

Solução imediata

E em casa a reunião

Dividiu-se a opinião

De capar o vira-lata.

A decisão insensata

Tomaram por desaforo,

Xuxinha é como uma filha

Stalonge vale ouro

Capar o cachorro agora

É genro que vira nora

E não é nora nem nôro.

Zaluê caiu no choro

Igual um fole furado

Se Xuxinha tava grávida

Stalonge era o culpado;

Capá-lo não resolvia

Pois Xuxa não merecia

Ter filho de pai capado.

Por fim, ficou acordado

De fazerem o casamento

Convidaram a vizinhança

Para assistir o evento

Logo voltou a alegria

Pois o casório seria

Um grande acontecimento.

Pra fazer o casamento

Um juiz foi convidado

Dois padres pra celebrar

Uma freira e um delegado

Participaram do evento

Pois o acontecimento

Foi casamento amarrado.

E no tal dia marcado

Houve festa, houve folia

Num grande acontecimento

Até a chuva chovia

Trovão no céu pipocava

Relâmpago faiscava

Fazendo da noite dia.

Também com muita alegria

Serviram pros convidados

Trinta e seis galinhas gordas

Um quarto de bode assado

Dezoito ovos de rola

Com farofa de cebola

E mungunzá temperado.

Torresminho de capado

Cuscuz de milho, cocada,

Muito mel de rapadura

Ainda duas buchadas

Bastante caldo de cana

Ova de peixe, banana

E cachaça engarrafada.

A música tava animada

Ao som de Ilariê

Zé Fulêra, Mané Grôa

E Ziza Caradobê

Era o trio que tocava

Enquanto o povo dançava

Completando o fuzuê.

Também no Ilariê

Tava Stalonge e Xuxinha

Lá num canto de parede

Dando uma namoradinha

O povo olhando pros dois

E eles comendo arroz

Com ossada de galinha.

A cachorrada vizinha

Não pôde participar

Do casório dos cachorros

E isso deu o que falar

Pois todos os convidados

Eram humanos abestados

Que não moravam por lá.

Um gato maracajá

Que era o terror da floresta

Chamou alguns animais

Para invadirem a festa

Bagunçar o ambiente

Intimidar os presentes

E fazer o que não presta.

Stalonge com a mulesta

Escondeu sua mulher

E enfrentou os penetras

Com mordida e pontapé

Foi bicho pra todo lado

Correndo pelo cerrado

Num salve-se quem puder.

Animal que leva fé

Reconhece sua trilha

Tem seu espaço na mata

Não precisa de quadrilha

Nem tem o atrevimento

De invadir casamento

De cachorra de família

1 – Destabocado = desinibido

2 – Pisunhado = fofoca

3 – Arranca-toco = confusão

4 – Fuzuê = festa

5 – Pudo = Poodle, raça canina francesa

6 - Stalonge = Silvester Stalone, grande ator

americano de origem americana.

7 – Travacou = cobriu, linguagem animal

8 – Tranxinxim = namoro

9 – Pangaré = raça equina de pelagem mais

clara acastanhada, garganta e focinho

esbranquiçados do Sul do Brasil.

10- Cóigo = córrego, pequeno rio ou riacho

11- Estrompada = em linguagem popular termo

usado para seviciada, estuprada

12- Ababacado = surpreso

13 – Disleriado = desanimado

14 – Com a mulesta = enfurecido.

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Vieram de além-mar

pra posse do Presidente

representantes reais,

e, de cada continente,

algum mimo especial

ao Sapo maioral

foi trazido de presente.

O Sapo tava contente

mas cheio de timidez

e só soltou sua voz

para cantar uma vez.

Mas quando tocaram pinho,

o Sapo provou do vinho

dado por Galo francês.

Uma mudança se fez

nos olhos e no semblante,

e já no terceiro brinde

Sapo estava bem falante

e, quebrando o protocolo,

sentou Princesa no colo

- a beijava a todo instante.

O Jaguar, muito elegante,

à filha deu sua mão

e a chamou pra dançar

uma valsa no salão.

O Sapo vira outra taça,

toma um gole de cachaça

e diz ao Rei Leão:

- "Seu Rei, eu nunca vi, não,

lá pela minha lagoa,

uma gata tão gostosa

tal qual a tua patroa...

Sou um grande cururu,

mas tenho inveja de tu

por causa desta Leoa!"

Vendo a cauda da Pavoa

tão bela, passou a mão.

Foi aí que, irritado,

assim lhe disse Falcão:

- "Ó distinto Presidente:

não seja tão indecente;

olhe a sua posição!"

- "Tá expulso do salão!"-

gritou o Sapo, irritado.

Lá chega a Pomba da Paz:

- "O Sapo é muito engraçado...

Mas deixe de brincadeira

com gente assim, estrangeira...

ninguém tá acostumado".

Um diplomata Veado

ao nobre Sapo abraçou;

tentou tirá-lo dali,

Sapo se desvencilhou

e partiu, embriagado,

tombando, muito excitado,

pra princesinha do Grou.

A segurança chegou,

grande Pastor Alemão,

tentando elegantemente

levá-lo a outro salão;

mas o Sapo, estando cego,

gritou pra Macaco Prego:

- "Manda prender este cão!"

Esborrachou-se no chão

e saiu passando mal;

vomitou na limusine

quando ia ao hospital.

Sofreu a diplomacia

pra nada, no outro dia,

sair em nenhum jornal.

Assim cheguei ao final,

aqui eu encerro o papo.

E a vida segue em paz,

sem gritaria ou sopapo.

Só saio com um lamento:

não viver naquele tempo,

pra brindar com Prinspe Sapo!

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 17/02/2011
Reeditado em 02/08/2014
Código do texto: T2798150
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