PAIXÃO DE UM JECA

A PAIXÃO DO JECA QUE PERDEU A MÃE

Perdido no meio do nada

O pobre jeca vai levando a vida

Na mente a imagem gravada

De sua saudosa mãe querida

Passa o tempo remoendo a dor

Desejando o dia nunca acabar

Imaginando no dissabor

Quando ao seu casebre retornar

Ao esconder o sol no horizonte

De esplendor cinge a natureza

Vem o luar dançando nos montes

Flamejando encantos e beleza

Suave o sereno vai se achegando

Espalhando seu beijo molhado

Prados e campos acariciando

Deixando tudo orvalhado

Escoltada por vaga-lumes

A brisa suave aparece

Carregando com ela o perfume

Roubados da fauna silvestre

Tomado por um imenso ciúme

Vai logo o vento morrendo

No ceu um manto bordado de estrelas

A terra vai se envolvendo

Chorando ao som da cascata

Um rio murmura baixinho

Ajeitam-se as aves na mata

No aconchego do ninho

Uma bela auréola aprece

No entorno da abobora celeste

Flutuando a terra adormece

O jeca... Põe-se a caminhar

Matutando o quanto padece

Se sentido uma fagulha de nada

Remoendo as lembranças da mãe

Deixando seus rastros na estrada

Voltando do distante roçado

Levando no ombro a enxada

Indo pra solidão do seu rancho

A buscar seus enigmáticos recados

Marcas deixadas por ela

Os remendos da velha rede

A costura no coador de flanela

Pregos fincados nas paredes

Rebocadas de argila amarela

Sinais dos dedos no piso do fogão

Migalhas de mantimento

Também traz recordação

O arroz socado no pilão

Potinhos de condimentos

Na velha peneira o feijão

Uma cafeteira de folha

Uma cuia com o sabão

Uma moringa sem rolha

Um pote d’água no chão

Na água flutua um coité

Um taxo de coar o café

Um rosário pendurado

Simbolizando sua grande fé

Na parede da cozinha

Um quadro da virgem Maria

Deixou a querida mãezinha

Relíquia de estimação

Seu dial de sintonia

Contemplando suas relíquias

Naquela choupana vazia

Aonde sua única diversão

É conversar com o criador

Louvar a virgem Maria

Concentrado em oração

Na esperança de um dia

Estar de novo com a mãe do coração!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 17/02/2011
Reeditado em 17/02/2011
Código do texto: T2797098
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