VÁ S'EMBORA ME TRAIR QUE EU TOU DOIDO PRA ROER!

Depois deste poeta aqui passar uma tarde inteira, que no mais tarde se vestiu de noite, declamando poesias sofridas e do mais alto grau da dor de cotovelo humana; eis que Seu Ferreira, o maior baluarte do carnaval de Macaparana-PE, me incumbiu da excêntrica missão de glosar o mote incidental de sua autoria: “Vá s’embora me trair que eu tou doido pra roer!”.

Na hora não saiu nada que se aproveitasse, o que não é de se admirar dado a pequena quantidade de sangue que havia na minha corrente alcoólica, mas chegando em casa já comecei a rabiscar os seguintes versos:

Negócio de ser feliz

Não me acostumo com isso

Eu gosto é do rebuliço

D’um penar bem infeliz

Meu paradoxo diz

Qu’eu aprecio o sofrer

E se tu me bem querer

Não relute em me ferir

Vá s’embora me trair

Que eu tou doido pra roer!

Eu me atraquei contigo

Já conhecendo teu nome

E a tua infindável fome

Lá no baixio do umbigo

Não se preocupe, eu não ligo,

Só tou usando você

Pro meu amor padecer

E a poesia fluir

Vá s’embora me trair

Que eu tou doido pra roer!

Pois a minha poesia

Deflagra do sofrimento

Se enviesa pelo vento

E pousa na fantasia

Se eu quisesse a alegria

Não buscaria em teu ser

Quero a dor que mais doer

De a poesia explodir

Vá s’embora me trair

Que eu tou doido pra roer!

João Pessoa, 12/02/2011.