O CABOCLO DA MINHA TERRA
O caboclo da minha terra
È forjado no carvão,
Sertanejo calejado,
Homem simples do sertão,
Nordestino virtuoso.
Gosta de pisar seu chão.
Gosta de beber na nascente
Com a concha de sua mão,
De comer no final do dia
Um prato de arroz com feijão,
De pitar e deitar na rede
E viver em distração.
Usa chapéu de palha
À moda lá da roça.
A sua maior alegria
È viver lá na palhoça,
No fundo da mata escura
Na calmaria da sua choça.
Um ezino lavrador
Labuta no seu roçado.
Ainda como antigamente
Empregando foice e machado
Sua roça planta e colhe
E não fica cansado.
Na sua casa não falta
Faça sol ou não faça
Rapadura, café no bule
E água na cabaça.
Na parede uma espingarda,
No terreiro um cão de caça.
Na sua casa tem um baú
Que guarda roupa engomada,
Um álbum de fotografia
Com fotos já amareladas
Do caboclo e da cabocla
E de toda a caboclada.
Tem na sala uma mesa
De pau d’arco reforçado
Com um rádio de pilha
Ainda do século passado
Que o caboclo liga à tarde
Para ouvir um xaxado.
Quando então anoitece
Outra coisa não combina.
A casa do velho caboclo
À noite quem ilumina
È o fogo preguiçoso
Da antiga lamparina
È uma casa humilde
Porém muito hospitaleira
Tem água fria numa bilha
Em cima de uma bilheira.
È mais macio que estofado
O banquinho de madeira.
Além do seu aconchego
Farta que a casa é
Tem ovos de galinha,
Leite de cabra com café,
Mingau, cuscuz de milho
E farinha na cuité.
Tem bolo de tapioca,
Tem bolo de fubá,
Macaxeirinha cozida,
Cangica e muncuzar,
Arroz com gerimum e quiabo
No almoço e no jantar.
Tem galinha à cabidela,
Sarapaté e buchada,
Mocotó, pé de porco,
Torresmo e rabanada,
Sobremesa de murici,
Açaí e goiabada.
Ah! como é gostoso
Provar todos os sabores,
Sentir o suave cheiro
E apreciar as cores
Da terra do caboclo,
Desfrutar os primores.
Enquanto o tempo passa
Sem querer passar
À sombra da mangueira
Tranquilamente descansar,
Ouvindo o coral de passarinhos
Que não para de cantar.
E a lua é tão bela.
Como é belo o luar!
È noite de lua cheia?
O caboclo vai madrugar.
Tem festa no terreiro.
Crianças a brincar.
Tudo é mágico lá na roça,
Tudo causa admiração:
O canto do galo;
O instinto do cão;
O vaga-lume que vaga
Em noite de escuridão.
A brisa que a tarde sopra
Faz palpitar o coração:
Vai ser bom o inverno,
Estremeceu um trovão
Cheiro de terra molhada,
A chuva que molha o chão.
Vou voltar para minha terra,
Habitar entre os bem-te-vis,
Ouvir o canto da rola
E o piado da perdiz.
Caboclo nascido na roça
Na cidade não é feliz.
Dedico esse Cordel ao meu pai, sertanejo valente que viveu a vida simples do caboclo nordestino.