O HOMEM QUE JUNTOU DINHEIRO PARA O SEU ENTERRO E FOI ENTERRADO VIVO.

O HOMEM QUE JUNTOU DINHEIRO PARA O SEU

ENTERRO E FOI ENTERRADO VIVO.

O poeta trás na mente

A cultura popular

E quando pega na pena

Tem prazer em divulgar

Os belos contos passados

Que vale a pena escutar.

Nunca cansa em sua lida

E como bom contador

Vai em frente, vai sorrindo.

Esquecendo a sua dor

Quem o lê, sente prazer.

Quer ser também cantador.

Por isso amigo leitor

Eu te convido sem medo

Para adentrar essa selva

E desvendar seu segredo

Sairás sabendo tudo

Desde a planta ao arvoredo.

Por isso deixo de lela

E vou direto ao assunto

Como tinha tido antes

Nesse quero chegar junto

E vou contar sem rodeios

As bravuras de um defunto.

Numa cidade pequena

Chamada Nova Aliança

Vivia um casal humilde

Peito cheio de esperança

De vê o tempo mudar

Mantinha em Deus confiança.

Esse casal tinha um filho

Chamado José Luiz

Desde pequeno sonhava

Viver em outro país

Mas ali ele vivia

Sendo amado e feliz.

O tempo passa depressa

E José Luiz cresceu

Completou dezoito anos

Veja o que aconteceu

José trazia guardado

Um sonho que não morreu.

Apesar da vida pobre

Que o seu pai lhe criou

Nos estudos não faltava

Muito cedo se formou

Completou ensino médio

Era um moço de valor.

Durante seu tempo livre

Trabalhava com cuidado

E mantinha numa caixa

Todo dinheiro guardado

Para um dia viaja

Era o que tinha sonhado,

Um dia chamou seus pais

E lhes falou de percim

Pai preciso ir embora

É preciso que seja assim

Quero receber a benção

Ou meu pai, reze por mim.

Minha mãe não se avexe

Não chore na despedida

Eu quero sua benção

Pra proteger minha ida

Só não posso prometer

Se aqui voltarei ainda.

Ali o casal choroso

Abençoaram Luiz

Pois já tinha passaporte

Assim o destino quis

Pegou transporte já certo

E viajou pra Paris.

E na capital da França

Sentindo do vento o açoite

Contemplou o “Rio Cena”

Clareado a luz da noite

Dali saiu animado

Pra conhecer “Rive Droite”

Por ser um moço letrado

Foi depressa avaliado

E ali por um lojista

Que achou de seu agrado

Assinou sua carteira

Teve emprego confirmado.

José Luiz trabalhava

Dia e noite, noite e dia.

O dinheiro que ganhava

Para a sua garantia

Entregava ao patrão

Tudo quanto possuía.

Todo salário do mês

Ao patrão entregava

Não ficava com um vintém

Nada que tinha gastava

Tinha casa garantida

E no patrão confiava.

Vamos saber o motivo

Do gesto e sua razão

Trabalhar o mês inteiro

E pegar a comissão

Colocar num envelope

E entregar ao patrão.

Zé Luiz quando chegou

Naquela terra estrangeira

Achou tudo tão bonito

E pensou dessa maneira

Um dia ser enterrado

Nesse jardim de primeira.

Pensando assim ele foi

Disse ao patrão consciente

_Quero fazer um acordo

Mas não mim ache demente

Pois no dia em que eu morrer

Quero um enterro decente.

_Por isso todo dinheiro

Que eu ganhar nessa lida

Eu vou economizar

Pra não gastar nessa vida

Pois só pretendo usá-lo

Na minha última partida.

_Quero um enterro de rico

E venho comunicar

Que todo dinheiro meu

Eu irei lhe entregar

Para quando eu morrer

O meu enterro pagar.

_Quero um caixão dourado

Com pedrinhas de brilhante

Uma bela funerária

Com tudo muito elegante

Muita gente no cortejo

Quero um enterro galante.

Quero castiçais dourados

Bordado de puro ouro

Para alegrar o momento

Quarteto fazendo couro

Na cruz terá diamantes

E ramalhetes de louro.

O seu patrão ouviu tudo

E depressa prometeu

Pra firmar o combinado

A sua palavra deu

Assinado em documento

Tudo quanto prometeu.

Assim vivia Luiz

Na sua simplicidade

Apesar de ser solteiro

Vivia sem vaidade

Nunca saia a passeio

Pelas ruas da cidade.

Só gastava o necessário

Pra fazer economia

Não comprava uma camisa

Alguém dava, ele vestia.

A comida tinha as sobras

Que o seu patrão trazia.

Por não sair a passeio

O sapato não gastava

Uma chinela de dedo

Era sempre o que usava

A botina pro trabalho

Era a empresa que dava.

Muitos ficaram sabendo

Do acordo de José

Uns diziam: esse é otário

Pois tem cara de Mané

Morra besta, e terás.

Um enterrinho qualquer

_Quem é que vai garantir

Que quando você morrer

Alguém vá gastar dinheiro

Pra um enterro fazer?

Vai é te levar pra cova

Mesmo sem ninguém saber.

Jose Luiz respondia

_Meu patrão é homem serio

E vai cumprir a palavra

Desde a casa ao necrotério

Chamar uma caravana

Para ir ao cemitério.

Os seus amigos disseram:

_Teremos de apostar

Você finge que morreu

Então só resta esperar

Se um enterro decente

O teu patrão vai te dar

_Se ele for homem honesto

Para cumprir o tratado

O salário de um ano

Ti entregaremos contado

Se você perder nos dá

Todo dinheiro guardado.

_Você se finge de morto

Deita-se naquela manta

Agente chorando vai

Ao patrão adianta

Conforme o seu parecer

Ai você se levanta.

Depois de fazer a aposta

Luiz deitou-se calado

Tomou bastante sonífero

Pra ficar desacordado

Os seus amigos saíram

Pra cumprir o combinado.

Saíram dali chorando

Gemendo dando agonia

E disseram ao patrão

_Veja quanta ironia

Jose Luiz faleceu

Antes que rompesse o dia.

_Dá pena olhar agora

Aquele moço caído

Pois ele foi bom rapaz

Por todos muito querido

Venha patrão para vê

Luiz no chão estendido.

Nesse momento o patrão

Baixou a vista e chorou

Mandou parar a empresa

Muito abatido ficou

Uma lágrima que caia

Foi tudo o que lhe restou.

Depressa mandou chamar

A funerária local

Mandou buscar os amigos

Importante e pessoal

Encomendou que fizesse

Um bonito funeral.

Não queria economia

Naquele sepultamento

Luiz viveu sua vida

Esperando esse momento

_Mim tragam caixão dourado

Eu quero um belo ornamento.

Os amigos de Luiz

Ouvindo essa proposta

Ficaram desanimados

Com cara de quem não gosta

Tiveram plena certeza

De ter perdido a aposta.

Luiz já tava deitado

Naquele belo caixão

Os amigos se aproximaram

E lhe falaram então

_Luiz pode levantar-se

Perdemos essa questão.

O sonífero tinha passado

Luiz então respondeu

_Vocês tão loucos cambadas

Pois esse enterro é meu

Não vou perdê-lo por nada

Você lá cuide do seu.

Assim Luiz protestou

Por ter um sonho firmado

Ter um enterro de rico

Tudo bem organizado

Fechou os olhos pro mundo

Assim foi vivo enterrado.

Aqui amigo termino

E sem medo de errar

Quando eu tiver dormindo

Deixe que vou descansar

Se tiver morto mim acorde

Pra vivo não me enterra.

Edilson Alves
Enviado por Edilson Alves em 04/02/2011
Reeditado em 23/03/2011
Código do texto: T2771083
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