TUBIBA - O CANGACEIRO QUE VENCEU O DIABO E FOI DERROTADO POR UMA CRIANÇA

(Uma versão Lacerdiana do cordel TUBIBA, O DESORDEIRO, DE Augusto Laurindo Alves)

Tubiba era um cangaceiro

Do sertão alagoano

Vivia atentando o povo

De modo vil, desumano

Com seus instintos brutais

Venceu até Satanás

No Estado Sergipano.

Dizem que nasceu falando

Num dia de sexta feira

Com dez dias caminhou

E namorou com a parteira

Aos sete anos de idade

Chegava em qualquer cidade

Desmanchava qualquer feira.

Seu pai, Manoel Ferreira,

Apelido Manezão

A mãe dele se chamava

Dona Francisca Gibão

Por causa de uma panela

O Tubiba foi a ela

Pra cortá-la de facão.

Seu pai deu-lhe um safanão

Dizendo: - Chega pra lá

Tu num é gente, é um monstro,

Já quis até me matar

É favor sair de casa

Se não eu toco-lhe a brasa,

Você tem que se acabar.

Tubiba disse: - Vem cá,

Bicho feroz não me come

Eu também já visto calça

Tem que ser homem com homem

Se pegar com muita história

Eu dou-lhe de palmatória

Mas voce não me consome.

Manezão disse: - Tu some!

Deu-lhe um tiro nos costados

Tubiba pulou por cima

E o pobre velho, coitado,

Quase que levava fim

Porque Tubiba era ruim,

Deixou o velho envergado.

Nisso chega o delegado

E deu-lhe voz de prisão

Tubiba pulou pra trás

Apertou o cinturão

Dizendo: - Eu arrenego,

Vindo vinte não me entrego

E deu com ele no chão.

Juntou-se um batalhão

Para prender o bandido

Uns de faca e de pistola

Outros, menos prevenidos,

Tubiba na cabeçada

Não tinha medo de nada

Deixou uns dez abatidos.

Mais uns quarenta feridos

Arribou e foi embora

Do meio da confusão

Saiu dizendo, - Eu agora

Vou ver se tomo café

No arraiá de Salomé,

Ver se tem cabra de fora.

Chegando lá sem demora

Encostou-se na bodega

Dizendo, - Bote cachaça,

Daquela forte, que pega,

Que eu quero espalhar os pés

Já matei uns oito ou dez,

Quem brincar comigo cega!

Chega o inspetor na bodega

E logo o repreendeu:

- Rapaz, pise devagar,

Quem manobra aqui sou eu,

Voce é muito mofino

É bom guardar seu destino,

Brincou comigo, morreu.

Tubiba o repreendeu

Dizendo, - Não quero história,

Se tiver bom, caia dentro,

Deixe de jaculatória,

Eu matei trinta e três

E daqui pro fim do mês

Deixo meu nome na história!

Já veio uma precatória

Disposta pra me prender

Chegou um oficial

Desses ruins de se roer,

Dei-lhe um tiro na cabeça

E disse, «Cabra, conheca

Que Tubiba quer viver!»

Agora eu pego você

E te faço de bengala.

Sacudiu-o para trás

E disse: - Ainda me fala?

Deu-lhe um tiro no pulmão

Que arrancou-lhe o coração,

Jogou dentro de uma vala.

O dono da venda fala:

- Meu amigo, vai-te embora!

Tubiba lhe respondeu:

Inda não chegou a hora,

Quem vier atrás de mim

É certeza eu dar-lhe fim,

Mato gente sem demora!

Chega um negro nessa hora

Dos olhos de cururu

E disse: - Isso é lorota,

Eu faço mais do que tu

Já peguei um cangaceiro

Do que se diz carniceiro

E comí-lhe o figo cru.

No meio do sururu

Tubiba jogou-lhe embaixo

O negro se levantou

Dizendo, - Também sou macho!

Largou-lhe a mão na barriga

Aí pegaram uma briga

E cairam num riacho.

Um por cima, outro por baixo,

Se pegaram outra vez

O negro disse, - Menino

Eu brigo com dois ou três!

Tubiba lhe respondeu:

- Brigou comigo morreu,

Se arrependa do que fez!

- Eu curto de sede um mês

Passos seis meses de fome,

O meu gênio é de pantera

Pulo igual um lobisome

Pego assim qualquer patife

Bato, guiso e faço bife

E o urubu é quem come!

Tubiba diz, - Tu é home?

- Sou não, sou o Satanaz!

O cabra soltou a faca

Pegou o negro por trás

Amarrou-o com um cordão

Dizendo, - Tá preso, cão,

Pela ordem de São Braz!

O negro disse: - É de mais,

Tire essa canga de mim

Que eu taambém te prometo,

Ninguém nunca te dar fim

Viverei sempre ao teu lado

Te servindo de criado

Nessas lutas sempre assim.

Tubiba soltou-lhe enfim

Ele deu uma gargalhada

O cabra lhe perguntou:

- Quem é que paga a bicada?

Na luta voce perdeu.

O negro lhe respondeu:

- Pra voce não falta nada!

Seguiram de camarada

Dizendo, - Bote cachaça,

Que o mundo agora virou

Hoje nós bebe de graça

Quando findou-se a bebida

Viram a estrada entupida

Com cento e oitenta praça.

Tubiba disse, - Essa graça,

Colega, é para nós!

O negro lhe respondeu:

- Aperte o cinto e o cós

Que eu já tou endiabrado

Só de ver tanto soldado,

O combate hoje é feroz!

Foram aumentando a voz

Apertaram o cinturão

O negro disse, - Tubiba,

Deixe eu ver teu mosquetão

Que do Satanás sou filho,

Quando apertou o gatilho

Botou cinquenta no chão.

O resto do batalhão

Correu tudo de cardume

Foram desembestados

Cair dentro de um curtume

Alguns que se atrapalharam

Tubiba e o cão sangraram,

Como era de costume.

Pra que a história se resume

Ficou somente um tenente

Porque não passou por perto

Nem do cheiro da aguardente

Saiu correndo a galope

Pulando e dando pinote

Como gato na água quente.

Se apartaram, finalmente,

O cão disse, - Voce veja

No lugar onde estiver

Nunca respeite peleja

E pode chamar por mim

Que para tudo eu dou fim,

Só não brigo na igreja!

Mais amargo que cerveja

Tubiba foi pra Junqueiro

Chegou na casa de um velho

Falou-lhe cá do terreiro:

- Velho do rosto lambido,

Aí tem feijão cozido

Para dar a um cangaceiro?

O velho veio no terreiro

Com uma pistola na mão

Deu-lhe um tiro na orelha

Tubiba disse, - Velhão,

Tua pistola é de barro,

Tenho tirado catarro

De cabra mais valentão!

Já com o punhal na mão

Pegou-o pela abertura

Deu-lhe cinco punhaladas

Que lhe arrancou o fuçura

E chegando no fogão

Danou-se a comer feijão

Com farinha e rapadura.

Antes do fim da fartura

A casa estava cercada

Um capitão, dois sargentos

De baioneta calada

Um sargento perguntou:

- Porque ao velho matou?

Largue as armas, camarada!

Tubiba disse, - Que nada,

Agora que enchi a pança

Pode tocar a corneta

Que eu quero entrar na dança

Vou matar o mundo inteiro,

Desde o mês de fevereiro

Que o meu rifle não descansa!

- Vamos deixar de lambança,

Se entregue, não faça ação!

Tubiba nem respondeu,

Disparou-lhe o mosquetão

Matou logo os dois sargentos

Francisco e Pedro Sarmento,

Só ficou o capitão.

E todo seu batalhão

Brigando contra Tubiba

Morreram logo uns quarenta

Disse o capitão: - Arriba!

Com Tubiba no pagode

Nem mesmo o Satanás pode,

É fogo na macaíba!

E finalmente Tubiba

Mais uma luta venceu

Agora vocês vão ver

De que forma ele morreu

Ali mesmo no Junqueiro

Na morada de um vaqueiro

Foi onde a morte se deu.

Um menino apareceu

Dizendo malcriação

Tubiba lhe pediu água

O garoto disse não

- Vou te fazer um bagaço.

E pegou-o pelo braço,

Sapecou-lhe o cinturão.

Perto tinha um outro irmão

Que caçava uma rolinha

Com uma espingarda velha

Que nem mesmo fecho tinha

Viu o irmão apanhando

Dele foi se aproximando

Com a sua espingardinha.

Foi dizendo, - Seu murrinha,

Você já matou meus pais,

Tá batendo em meu irmão

Já bateu, não bata mais!

Tenha mais comportamento,

Peço pelo mandamento,

Pelos dons celestiais!

- Disarreda, Satanás,

Menino nunca foi gente!

O menino deu-lhe um tiro

Que lhe arrancou quinze dentes

Saindo no cabelouro

E ainda matou um touro

Porque estava na frente.

Desencarna finalmente

Esse monstro desordeiro

Inda hoje em Alagoas

Se comenta esse roteiro,

Quando um bandido se cansa

Pela mão de uma criança

Deixa de ser cangaceiro!

Cangaceiros XXVIII

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 01/02/2011
Reeditado em 09/08/2014
Código do texto: T2765820
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