O GRANDE MILAGRE

As histórias de hoje em dia

Não deixam recordação

São registros fictícios

De rádio e televisão

Não existe imaginável

Tudo é coisa descartável

Sem nenhuma informação.

Com a globalização

Só o poder determina

As particularidades

Hoje viraram rotina

As crendices do passado

Foram deixadas de lado

Estão virando ruina.

Deus é a fonte divina

De poder e de bondade

Fez tudo que a terra cria

Com sua força e vontade

Ao homem deu a noção

E a toda criação

Concedeu a liberdade.

Mas o homem com maldade

A tudo quer dominar

Escravisando o seu próximo

Só pensa em multiplicar

A cobiça é um veneno,

O esforço do pequeno

Faz o homem prosperar.

A prova disso se dá

No tempo da escravidão

Quando o infeliz cativo

Sofria a humilhação

Muitas vezes apanhando

Como burro trabalhando

Para enricar o patrão.

No Vale do Fabião

Norte de Minas Gerais

Tinha um barão fazendeiro

Que não gostava da paz

Não tinha amor pelos seus

Era inimigo de Deus

E amigo de Satanaz.

Ainda tinha um capataz

De lei cruel e tirana

Se um escravo reclamasse

Daquela lei desumana

Aquele desventurado

No tronco era amarrado

E apanhava uma semana.

Na senzala desumana

Da sua propriedade

Tinha mais de cem escravos

Sem direito a liberdade

Entregues à sorte ingrata

Sob o jugo da chibata

Nas garras da crueldade.

Além da perversidade

Do terrivel capataz

Havia vinte feitores

Com gênio de satanaz

Cometendo estripolias,

Ainda mais dez vigias

E cada qual mais voraz.

Por isso e por muito mais

Aquele barão maldito

Desonrava qualquer moça

Com o seu modo esquisito

Fosse sua escrava ou não

E matava qualquer cristão

Achando bom e bonito.

Os escravos em conflito

À força viviam unidos

Com o grupo de feitores

Para atender os pedidos

Mais torpes e aviltantes

Daquele monstro pedante

O mais feroz dos bandidos.

Por se sentir protegido

Esse senhor da maldade

Maltratava os inocentes

Com sua perversidade

Zombava dos inimigos

Não pensava nos castigos

Da força da Divindade.

Mas Deus via, na verdade,

Tudo que o barão fazia

Enquanto ele na fazenda

Praticava tirania

E fabricava inimigo

Se aproximava o castigo

Que ele tanto merecia.

Aconteceu certo dia

Mãe e filho adoecer

O avô preocupado

Vendo a família sofrer

Foi implorar pelos seus

Pedindo em nome de Deus

Pra não deixá-los morrer.

Com esse seu proceder

O barão danou-se a rir

Dizendo: - Eu mato escravo

Só para me divertir,

Não vou salvar sua gente;

Não mandei ficar doente,

Faça o favor de sair.

O seu deus não manda aqui

É bom que fique avisado

E você, escravo imundo.

É melhor ficar calado.

Saiam já daqui os três,

Se voltarem outra vez

Mando matá-los queimados.

Disse o velho inconformado:

- Pode mandar nos matar

Porém lhe dou um conselho

Se o senhor quiser tomar:

Sua alma está no inferno,

Não zombe do Pai Eterno

Para não se atrapalhar.

O fazendeiro a gritar

Respondeu endiabrado:

Cala-te, negro maldito,

O teu fim está marcado

Junto com a tua horda,

Serão na ponta da corda

Daqui a pouco enforcados.

E você, velho safado,

Verá agora o que eu faço,

Apanharás de chicote

Até ficar o bagaço

Pela sua intolerância,

Depois seu pescoço dança

A valsa alegre do laço.

Quando levantou o braço

Pra fazer a investida

O garoto ajoelhou-se

Abraçado à mãe querida

No desespero da hora

Gritou por Nossa Senhora

Virgem de Aparecida.

- Nossa Senhora querida

Protetora dos aflitos

Salve vovô do castigo

Nos tire desse conflito

Devolva nossa saúde,

Abrandai as atitudes

Desse carrasco proscrito!

O fazendeiro maldito

Já com o braço em prontidão

Recebeu uma descarga

Seguida de uma explosão

Foi de pronto fulminado

Numa estátua transformado

Com um chicote na mão.

Com a morte do barão

Ficou sem dono a fazenda

Mas o capataz chegou

Já partindo em reprimenda

Vendo a estátua no terreiro

Chamou os seus companheiros

Pra começar a contenda.

Os escravos da fazenda

Vendo aquela situação

Reconheceram que o velho

Estava sem proteção

Se aproximaram calados

E ficaram do seu lado

Contra os homens do barão.

Disseram de prontidão:

- Vamos lutar com vontade

Defender nosso colega

Brigar contra a crueldade

Mostrar que somos capaz

Se vencer o capataz

Teremos a liberdade.

Então cheios de vontade

Avançaram como loucos

Contra os homens do barão

Que só se ouvia os pipocos

De pontapé, capoeira,

De tapa, queda, rasteira,

Cangapés, balões e socos.

O escravos feito loucos

Lutaram para valer

Cada um com um cacete

Avançava sem temer

Com isso o bando correu

E quem não correu morreu

Sem poder se defender.

Assim passaram a ser

Donos daquela abastança

O barão não tinha filhos

Pra reclamar sua herança

A terra foi dividida

E as famílias unidas

Foram viver na bonança.

Onde há fé, há esperança,

Já diz o velho ditado

Aquele povo sofrido

Foi por Deus recompensado

Enquanto o velho barão

Com a sua maldição

Pelo mal foi castigado.

No interior do Estado

Das grandes Minas Gerais

Todos sabem dessa história

De muitos anos atrás

Um arrogante barão

Que odiava religião

E adorava satanaz.

O poder de Deus é mais

Esse milagre existiu

O fazendeiro arrogante

Pelo ódio sucumbiu

Onde tem Deus tem progresso

E eu descreví em versos

Mais um COISAS DO BRASIL.

Coisas do Brasil, Vol. XXIII

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
Código do texto: T2763856
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