PANTÉU - UMA LENDA PERNAMBUCANA

No Brasil há tantas lendas

Muitas delas estudadas

Algumas que são notícias

Outras desabilitadas

Lendas pela mata virgem

De umas se sabe a origem

Outras desacreditadas.

Lendas nacionalizadas

Pois vieram do estrangeiro

Outras nascem por acaso

Pelo nosso tabuleiro

Muitas lendas nacionais

Outras tantas regionais

Por este chão brasileiro.

No meu Nordeste altaneiro

Também tem sua estórias

Das lendas que se formaram

De alguém que cantou vitórias

Algumas já esquecidas

Outras mais enriquecidas

Despertam nossas memórias.

No Pernambuco as histórias

Tem cultura variada

Muitas lendas que se contam

De boca em boca falada

Dos folguedos e eventos

Seguem através dos tempos

Da população lembrada.

Na Mata Sul afamada

Tem tanta lenda a foléu (1)

A mais curiosa delas

É a LENDA DO PANTÉU(2)

Bicho de pena e cabelo

O pescador quando vê-lo

Corre que perde o chapéu.

Caçadores com mondel(3)

Cada um conta seu fato

Quem viu Pantéu assustou-se

Correu com medo no ato

O pescador mais taludo(4)

Deixou puçá(5), deixou tudo

Perdido dentro do mato.

João Grande(6) era um desacato

Ninguém ousava adentrar

Os peixes e caranguejos

Tinha de mais pra pescar

Mas se alguém se atrevia

O Pantéu aparecia

Ninguém queria ficar.

Tinha o corpo irregular

Nu e assexuado(7)

Pernas e pés de socó (8)

Dedos das mãos alongados

Penas nos pés e ouvidos

Os braços magros, compridos,

Um ser semi-humanizado.

Em cada dedo alongado

As unhas pontiagudas

Cabeça grande, comprida,

Orelhas longas, pontudas,

Os olhos horripilantes

Com olhares penetrantes

Deixava as pessoas mudas.

Algumas partes peludas

Com a barbicha espetada

Cabelos como vassoura

Para cima arrepiada

O queixo comprido e fino

Presas de animal ferino

E dentadura aguçada.

Cor do corpo enlameada

No cotovelo um esporão(9)

Um pescador foi pro mangue

Viu caranguejo em montão

Ficou feliz pra dedéu

Sem saber que o Pantéu

Vivia lá de plantão.

Depois com exatidão

O pescador me contou

Pegou muito caranguejo

Quando para diante olhou

Quase morre de repente,

Dez metros a sua frente

Um ser estranho avistou.

E não era um pescador

Que estava ali pescando

Era um ser quase gente

Cara na lama tocando

Bunda magra levantada

A mão na loca enterrada

Os caranguejos pegando.

E ficou observando

Aquela coisa na lama

Nela não havia sexo

Macho e fêmea, diz a fama,

Vendo aquele bicho horrendo

Caranguejeiro(10) tremendo

Saiu dali nessa trama.

Os caçadores de fama

Falam no Pantéu também

Nas matas que tinham rios

Barreiras com boca tem

Como se fossem janelas

As pacas vão morar nelas

O caçador caçar vem.

Lugar que não vem ninguém

Era o que eles preferia

Deixava ali uma ceva(11)

Dendê(12), que a paca comia

Com a espingarda esperava

A paca se aproximava

O caçador abatia.

A Sexta-feira era o dia

Ninguém podia caçar

Para não sofrer surpresa

E depois se lastimar

Pode parecer bravata

Mas com os segredos da mata

Ninguém queria brincar.

Pra quem gostar de pescar

Profissional, amador,

Sempre tem o que contar

«Estórias de caçador»

Algumas até faz medo

Mas só ele sabe o segredo

Pelos lugares que andou.

Tobias, um caçador

Com trinta anos de mata

Foi caçar na sua espera

Outra pessoa relata

Como foi que aconteceu

Na noite que ele sofreu

Uma surpresa ingrata.

Um urro estranho na mata

O Tobias escutou

Sentiu um mal pelo corpo

Que ele não aguentou

Completamente ariado(13)

Saiu desorientado

A espingarda deixou.

Na mata ele se embrenhou

Não soube como voltar

Aturdido, a mente fraca,

Não pôde em casa chegar

Quando deram pela falta

A família foi à mata

A Tobias procurar.

Conseguiram encontrar

Ele estava extasiado(14)

Sem falar coisa com coisa

Com aspecto de assombrado

Corpo ardendo como brasa

O levaram pra casa

Faminto, trêmulo, cansado.

Com pouco tempo passado

Morreu sem nada dizer

Falava que um urro estranho

Na mata o fez correr

Com o corpo cheio de dores

Só os velhos pescadores

Sabiam pra entender.

Um urro de estremecer

Muito alto e estranho

Dava um choque neurótico

Deixando tremendo, fanho

E cheio de calafrios

Nas matas perto dos rios

Causava um medo tamanho.

Era o Pantéu, quando zanho,(15)

Assim o povo dizia

Aonde havia Pantéu

Nessa mata ninguém ia

Fosse só pra passear

Pra cortar lenha ou caçar

Nem de noite nem de dia.

Na Mata Sul, quem lá ia

Com certeza viu Pantéu

Pescador de caranguejo

Nego pegando xexéu(16)

Com gaiola e alçapão

Pra comercialização

Ou criar como troféu.

Diferença desse incréu(17)

É só a aparição

No mangue é quase pessoa

Esquisito em pé e mão

Na mata com rio é urros

Horripilantes esturros

De matar do coração.

Onde houver superstição

Se fala em aparições

De espíritos poderosos

Das árvores os guardiões

E os bichos das florestas

Cada qual com suas gestas(18)

Deus lhes deu essas missões.

SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 13

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
Reeditado em 20/11/2022
Código do texto: T2763848
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.