A LENDA DO JURUPARI

Escrevo por escrever

De forma bem responsável

Sei que ser oportunista

Não é um ato saudável

A rima é minha conquista

E tendo um assunto à vista

Me calar não é viável.

Criticar é execrável

Acho uma calamidade

Procuro escrever direito

Pra manter a integridade

Porque mentir eu não sei

Se às vezes exagerei

Mas busquei sempre a verdade.

Ficção ou realidade

Procurarei me deter

De forma bem pragmática

Eu vou tentar escrever

Numa didática maneira

Mais uma lenda brasileira

Pra todos compreender.

Me destino a descrever

De forma bem consciente

Um tema muito complexo

Lendário e equivalente

A outro bem mais profundo

Lá do começo do mundo

Sabido por toda gente.

Nos tempos de antigamente

Uma estranha epidemia

Atingiu todos os índios

Que em certa aldeia havia

Os homens fortes morreram

Bem poucos sobreviveram

Só mulheres não morria.

Outros velhos existia

Mas já sem fecundação

A tribo ficou sujeita

A eterna maldição

Só mulheres existiam

E ao passo que morriam

Se extinguia a nação.

Pra evitar a extinção

Das mulheres que restou

Então um velho pajé

A solução encontrou

Com sua mágica poderosa

Fez uma poção milagrosa

E as mulheres fecundou.

Em seguida mergulhou

Cumprindo o destino seu

Num lago muito profundo

E ali desapareceu

Como o destino lhe impôs.

Então dez luas depois

A aldeia floresceu.

Muita criança nasceu

Trazendo um novo porvir

Naquele povo viril

A vida volta a sorrir

E entre essas criancinhas

Havia uma garotinha

Que foi chamada Ceucy.

Com as feições de Jaci

Essa menina formosa

Tornou-se uma linda jovem

De beleza esplendorosa

Quando era adolescente

Entrou sorrateiramente

Na floresta misteriosa.

Uma fruta saborosa

Mas que era proibida

Ceucy comeu e gostou

Mas caiu desfalecida

Da fruta o suco escorreu

Percorrendo o corpo seu

A deixando concebida.

Nove luas transcorreu

E o destino de Seuci

Muda ao ser mãe de um menino

Filho do Sol, Guaraci,

Bastante comemorado

Em seguida batizado

Com o nome Jurupari.

Surgiu um novo porvir

No meio do matagal

A tribo que era regida

Por mulheres, afinal,

A Jurupari louvaram

E os índios o consagraram

Como seu líder tribal.

Segue o rumo natural

E poucas luas passaram

O jovenzinho sumiu

Todos logo o procuraram

Por rios, vales e serra

Em todo canto da terra

Porém nada encontraram.

Com isso se transformaram

Os destinos da nação

Nos altos morros da serra

Se ouvia a lamentação

Noite e dia, sem parar

De Ceucy a procurar

Seu filho de estimação.

Um fenônemo sem razão

Difícil de explicar

À noite Ceucy dormia

Com os seios a derramar

Pela manhã nada tinha

Porque Jurupari vinha

Dela se alimentar.

Quinze anos a passar

Jurupari regressou

Recebera uma função

Foi o Sol que lhe mandou

Com a missão de reformar

Os costumes do lugar

Do povo que ele reinou.

Muitas leis ele criou

Esse era o destino seu

O poder de ser cacique

Foi um que a mulher perdeu

Era um deus reformador

O maior legislador

Que o índio conheceu.

Aos homens concedeu

O direito de fazer

Reuniões particulares

Sem mulher comparecer

Se alguma aparecesse

A lei desobedecesse

Apanhava até morrer.

Além do pátrio poder

Que já foi matriarcal

Reformou a agricultura

O enlace nupcial

Criou a monogamia

Deu ao pajé a magia

Da cura medicinal.

Demônio ou anjo do mal

Algumas tribos o chamava

Havia quem o chamasse

De Deus e o idolatrava

E o Jurupari seguia

Alguns ele protegia

Mas a outros condenava.

Quem na floresta morava

Conhecia seu poder

Sabia das reuniões

Sem mulher comparecer

Aquela que se atrevesse

E a lei desobedecesse

Deveria então morrer.

Mas Ceucy queria ver

Dos filhos a reunião

Certa noite, sorrateira,

Cometeu essa traição

Terminou assassinada

Por um raio fulminada

Sem ter do filho o perdão.

Chorou muito de emoção

Jurupari ao saber

Que sua mãe foi punida

Porque queria lhe ver

Se um raio a fulminou

Foi o Sol que comandou,

Nada podia fazer.

«Pois quem desobedecer

As leis que o pai criou

Haverá de ser punido

Por ordem do Criador.»

Decretou Jurupari

O filho de Guaraci

De quem era embaixador.

Mas o corpo iluminou

De sua mãe com emoção

Colocou num arco-íris

Com estranha fulguração

E a fez estrela candente

Ser a mais resplandecente

Em uma constelação.

Jurupari com emoção

Chorou muito a céu aberto

Por isso consta na lenda:

Quando chove no deserto

Ou quando há chuva e vento

Com sol quente ao mesmo tempo

É Juruparí por perto.

Anjo ou demônio. é certo

Que ele é muito comentado

Há tribos que o condena

Em outras é idolatrado

Suas leis são respeitadas

E algumas sendo usadas

No mundo civilizado.

Muitas lendas do passado

Nasceram nos matagais

Com os índios da Amazônia

Que se espalhou aos demais,

Se houvesse compreensão

Não havia tanta extinção

De árvores e animais.

Hoje não existe mais

Tantas lendas no sertão

Os índios que ainda restam

Estão na civilização

Jurupari desprezado

Mas ainda é cultuado

A partir do Maranhão.

Lembrar que sua nação

Ainda tem o ser porvir

Comemoram sua data

Em março, pra divertir,

Respeitando as tradições

Do grande Rio Solimões

A Lenda Jurupari.

SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 12

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
Reeditado em 20/11/2022
Código do texto: T2763833
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