A LENDA DO MAPINGUARI

Quem avisa amigo é

Quem desdenha quer comprar

O pior surdo é aquele

Que não gosta de escutar

São adágios mais usados

E variamente incrustrados

Na cultura popular.

Se é maneira de falar

Mas tem sempre sua essência

Prestar muita atenção

Se adquire experiência

Viver dentro dos padrões

Pra não sofrer as sanções

Da Divina Providência.

Da natureza a ciência

Tem seus modos, seu porvir,

Protege quem a respeita

Pune quem quer destruir

Como a coisa deve ser

Pois não serve pra viver

Quem não vive pra servir.

No Amazonas eu ouvi

Não lembro quem me contou

Sobre um tal Mapinguari

Marcado por certo odor

Das matas um habitante

Ao humano semelhante

E um bicho assustador.

Quando chega é um horror

Essa aparição funesta

Tem pelo por todo lado

Olho no meio da testa

Boca enorme, muito feio,

Pro caboclo um aperreio

No seio dessa floresta.

Quando ele se manifesta

Nem parece um animal

A boca vai do nariz

À área estomacal

Garras, punhais afiados,

Os pés para trás virados

É um ser descomunal.

Que o ver sente-se mal

Pelo odor rescendido

Também pela estatura

Desse ser descomedido

Como uma preguiça gigante

Maior do que um elefante

Pela floresta perdido.

À noite fica escondido

O dia é seu mister

Tem a pele semelhante

Ao couro de jacaré

Um casco nas costas tem

Quando essa figura vem

O jeito é dar no pé.

Quem nele não leva fé

Pode vir a se dar mal

Pois ele está no seu pa

Sumido no matagal

Gritando pra lhe envolver

E se voce responder

Tem seu momento final.

Sua boca vertical

Vai do pescoço ao umbigo

Seu grande olho na testa

Carrega a morte consigo

Sozinho, sem companheiro,

Pois ele tem no seu cheiro

O seu pior inimigo.

Pra ele não tem abrigo

Pois destrói tudo a seu lado

Arranca por onde passa

Árvores de grande calado

Com aquela boca rasgada

Dele não se salva nada

O que ele encontra é finado.

O pelo todo eriçado

Espesso como serragem

Todo mundo se arrepia

Vendo o rastro na folhagem

As plantas ficam quebradas

Assombrosas as pegadas

Da mencionada visagem.

Se conta nessas paragens

Uma cena de terror

Que viram um mapinguari

Num ato desolador

Com suas garras cortando

E aos poucos degustando

O corpo de um caçador.

Deixando onde passou

Rastros de destruição

Soltando gritos horrendos

De causar assombração

Pois o berro é parecido

Com o dos homens emitido

Para comunicação.

Caçadores de plantão,

Lenhadores, seringueiros,

Lavradores ribeirinhos

Que sabem seu paradeiro

Rezam pra não encontrá-lo

Pois não conseguem matá-lo

Por causa do seu mau-cheiro.

Mas é grande o converseiro,

Maior a variação

Quem diz ter visto essa fera

Tem diferente noção

Não é à toa que é lenda

Para que ninguém entenda

E dê também sua versão.

Uns chamam de macacão

Peludo como um quatá

Os pés são cascos de burro

Tem cabeça de gambá

Outros falam diferente

Diz que a cabeça é de gente

E só lhe falta falar.

Mas é comum se escutar

Gritos cheios de pavor

Imitando a voz humana

Mas é o devorador

Como pessoa indefesa

Tentando atrair a presa

Geralmente caçador.

Segundo um pesquisador

Uma explicação lendária

Para o mapinguari

Essa espécie imaginária

Era um índio feiticeiro

Transformado por inteiro

Numa espécie visionária.

Com feitiçaria vária

Ele descobre o segredo

Da sua imortalidade

E cai então em degredo

Transformou-se de momento

Num animal fedorento

Tão feio que mete medo.

Não tem rocha nem penedo

Que ele não enfrentaria

Só pancada na cabeça

Desse monstro o mataria

Mas quem a isso se afronta

Com seu cheiro fica tonta,

Ver a noite virar dia.

Noutra versão se anuncia

Que toda voracidade

Dessa fera cai por terra

Devido uma cavidade

Vulnerável no umbigo

Se atingido é castigo,

Esmorece de verdade.

Não sei se há veracidade

No que acabo de narrar

Mas é uma lenda viva

No domínio popular

Não quero nesta vivência

Passar pela experiência

De um bicho desse encontrar.

SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 10

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
Reeditado em 19/11/2022
Código do texto: T2763630
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