SIMPATIAS EM CORDEL

Simpatias são crendices

Que do folclore se emana

Alguma mais divulgada

Outra menos soberana

Provenha de onde prover

Tem grande força e poder

Diante da mente humana.

Quando a poesia me chama

Me esforço pra não faltar

E neste folheto escrevo

Com cuidado no versar

As melhores simpatias

Vindas da sabedoria

Da crendice popular.

Para ciume acabar

Coloque numa panela

Três dentes de alho roxo

Três flores de beringela

Três folhas de urtiga preta

Três pimentas malagueta

Dentro de chá de macela.

Bote fogo na panela

Até tudo derreter

Depois jogue num jardim

Não se esqueça de dizer:

«Que o ciume se vá

E a paz volte a reinar

Entre a pessoa e você.

Pra seu dinheiro render

Ponha um pouco de fermento

Dentro de um prato de barro

E guarde em seu pensamento

Essa frase popular:

«Sempre que o pão aumentar

Meu dinheiro tem aumento.»

Pra apressar o crescimento

De uma vasta cabeleira

Uma mecha de cabelo

Num olho de bananeira

Conforme o seu crescimento

O cabelo em movimento

Cresce da mesma maneira.

Para acabar com coceira

Também é interessante

Bata com os nós dos dedos

Onde coça a todo instante

Com firmeza vá dizendo:

«No corpo não estou batendo,

Bato na parte coçante.»

Para os seios da gestante

Nunca ficar deformado

A partir do quinto mês,

Isso nunca dar errado

Quebrar um coco no meio

E uma banda em cada seio

Coloque após ser raspado.

Com dez minutos passados

Ela deve retirar

Passar óleo de amêndoas

Para os seios refrescar

Faça isso todo dia

E constate com alegria

Que eles não vão deformar.

Para o marido amarrar

Compre uma moringa rasa

Com tampa e coloque em baixo

De uma goteira da casa

Deixe lá até encher

Tampe e trate de esconder

Que o marido nunca atrasa.

Manter o marido em casa

Não é muito complicado,

O seu nome num papel

Em quatro partes dobrado

Embaixo do pé direito

Da cama faz o sujeito

Ficar caseiro e domado.

Pra evitar mau olhado

Boa simpatia ajuda,

Coloque em sua carteira

Uma galhinho de arruda

Onde guarda o seu dinheiro

Ao abri-la sinta o cheiro,

Verá que sua sorte muda.

Pois o galhinho de arruda

Mantém sua mente aberta

Porém seu corpo fechado

Nenhuma inveja disputa;

Sua vida é um sucesso

Com muita ordem, progresso

E felicidade certa

Para nova descoberta

No campo profissional

Pegue uma página de emprego

Dessas que vem em jornal

Coloque em uma panela

Sobre ela acenda uma vela

De forma bem natural.

Com uma fé divinal

Faça o seguinte pedido:

«Espero que meus anseios

Sejam enfim atendidos

Pelos meus superiores

E que todos meus valores

Possam ser reconhecidos.

Para objeto perdido

Ficar fácil de se achar

Faça o sinal da cruz

Nem precisa procurar,

Só basta dar três pulinhos

Chamando por são longuinho

Que a coisa aparecerá.

Pra fazer chuva parar:

Com uma folha de papel

Amasse, faça uma bola

E pendure num cordel

Na janela ou na varanda

Que a chuva forte se manda

Volta a brisa no vergel.

Pra quem mora de aluguel

Preste bastante atenção:

Quando for alugar casa,

Pra não pegar maldição

Deixada por inquilinos

Alterando seu destino,

Faça uma obrigação:

Pegue uma bisnaga de pão

Uma garrafa de vinho

E uma lata de sardinha

Abra e deixe num cantinho

Da casa com esperança

Um dia antes da mudança

Pra proteger o seu ninho.

O que tiver no caminho

Da sua nova morada

Que seja pecaminoso

Sairá, não fica nada;

Quando chegar jogue fora

E a partir dessa hora

Tenha a casa imunizada.

Se a pessoa é paquerada

E quer disto se livrar

Pegue uma malagueta,

Esmague, depois salgar,

Amarre em um saquinho

E conduza com carinho

Por onde voce passar.

Sempre que o dito encontrar

Não evite ou esmoreça

Passe a mão no tal saquinho

Depois em sua cabeça

Não demonstre antipatia,

Deixe que essa simpatia

Fara com que ele te esqueça.

Pra que um amor permaneça

Em sua vida presente

Por volta da meia noite

De lua quarto crescente

Quando já dorme o fulano

Pegue um pedaço de pano

Agulha e linha corrente.

Ao lado dele se sente

Com a agulha, linha e pano

E diga, «Estou costurando

O coração de «fulano»

Pra que ele não me esqueça

Ao meu lado permaneça

E não me dê desengano.»

Sete vezes, sem engano,

Por sete noites afim

Depois enterre esse pano

Num vaso com alecrim

E viva tranquilamente

Com seu amado presente

Pela vida até o fim.

Se voce está afim

De transar com uma menina

Mas ela não lhe dar bola

Esta simpatia ensina

A deixá-la com vontade,

Use sua sagacidade

Que voce consegue a mina.

Corte um chumaço da crina

De uma égua no cio

Espalhe na casa dela

Que ela entra em desvario

E se excita em campo aberto,

Se voce estiver por perto

É quem vence o desafio.

Ganhar um amor arredio:

Nome da pessoa botar

No filtro de um cigarro

Acenda e deixe queimar

Sopre bem devagarinho

Até queimá-lo todinho,

Não é preciso fumar

Depois disso é só jogar

Na frente da casa dela

O filtro com o dito nome

E para evitar novela

Não conte nada a ninguém

Pode esperar que seu bem

Cairá na esparrela.

Bronquite é uma mazela

Deixa nosso peito arfante

Faça uma simpatia

Na noite de lua minguante:

Nove folhas de graviola

Com rabo de tatu bola

Dar um bom expectorante.

Pra se fazer o laxante

Torre tudo e faça um pó

Dê pra criança beber

Pra adulto ainda é melhor

Por nove noites seguidas

Que está salva a sua vida,

Pode ir até pra forró.

Por todo esse cafundó

Dos sertões do meu sertão

O nosso folclore é cheio

De crença e religião

No seio da Natureza

A nossa maior riqueza

Ainda é superstição.

Coisas do Brasil, Vol. XXV

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 31/01/2011
Código do texto: T2763133
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.