ABC DO LAVRADOR (Slvio Romero)
ABC DO LAVRADOR
Poema escrito no século XVI Pelo imortal Silvio Romero
Agora quero tratar,
Segundo tenho patente,
A vida do lavrador
No passado e no presente.
Bem queria ter ciência
Dizer por linhas diretas
Para agora explicar
Uma idéia bem perfeita.
Cuidados tenho da noite,
De madrugada levanto
De manhã vou para A roça
A correr todos os cantos.
Domingos e dias santos
Todos vão espairecer,
Eu me acho tão moído
Que não posso me mexer.
Estando desta sorte
Não é possível calçar,
Os pés inchados de espinhos,
De todo o dia andar.
Feliz de quem não tem
Esta vida laboriosa,
Não vive tão fatigado,
Como eu me acho agora.
Grande tristeza padece
Todo aquele lavrador,
Quando perde o legume todo
Porque o inverno escasseou.
Hoje posso aturar
Até a idade de cinqüenta,
Quando se aos quarenta,
Já parece ter oitenta.
Isso não tem cabimento
A mão padece no eito
Depois morre sem direito
E sem merecer respeito.
Jorrar o sangue na terra
Dormir sem feijão no prato
Olhar o sol escaldante
E ver o futuro ingrato.
Lavradores briosos
Consideram no futuro,
Não tomam dinheiro sem ver
Os seus legumes seguros.
Muitos não têm recursos,
Não sabem o que hão de fazer,
Não temem a percentagem
Querem achar quem os dê.
Não queira ser lavrador
Quem tiver outra profissão
É a vida mais amarga
Deus deixou aos filhos de Adão.
Osso duro de roer
É a terra que se cava
Puxar cobra para os pés
E a carne no toco crava.
Pois quando se colhe
Os legumes de um ano,
Ainda se não acaba,
Nova roça começando.
Quase sempre os lavradores
De cana, café, cacau,
Tem feitores de campo
Para não passarem mal.
Razão eles não tem
Para ter contentamento,
Quem trabalha no campo
É quem padece o tormento.
Soube as câmaras criar
Ministros pra proteger,
Nesta terra não tem um banco
Que a ela possa favorecer.
Terra pobre como esta
Ninguém pode dar impulso,
Sem banco, sem proteção,
Fora de todo recurso.
Unidos não valem nada
Separados, nem pensar
O governo nem repara
O homem no seu lidar.
Vive sempre isolado
Metido nas espessuras
Com a memória no passado
O futuro sem venturas.
Xoram toda sua sorte
Faz pena ver os lamentos,
De pedir dinheiro a rebate,
Por não acharem por centos.
Zombem, façam caçoadas
Da vida do lavrador,
Considerem no futuro,
A sorte a parca cortou.
Til, por ser do fim
Sempre dá uma esperança,
Na consolação dos afetos
Até chegar a bonança.
(obs.) Nesse poema, as rimas com as letras, I, J, O, e U é do poeta Edilson Alves.