JOÃO BALAIO E A PORCA DE BRINCOS
A história que eu vou contar
Pra quem desconhece o enredo
Já diz a filosofia
Quem tem forebis tem medo
É a história de João Balaio do zinco
Que quase deu um desmaio
Quando viu a porca de brincos
Na cidade de Cristalândia
Antigo norte de Goiás
Havia histórias engraçadas
De tipos que não são iguais
Essa que eu conto agora
É uma velha história
Que me contavam os meus pais
Na decida da ladeira
Que levava ao Itaporé
Havia muitos buracos
Que cabia um homem em pé
E um velho jatobá
Mais quem passava pôr lá
Poderia feder a chulé
Pois de uma assombração
Muito negro já correu
Era uma porca de brincos
Que pôr lá apareceu
Quem dizia ter levantado os trincos
Visto a porca de brincos
Se não se borrou não viu
No Itaporé morava
Um jovem de cor trigueira
Que gostava de todo mundo
Que morava na ladeira
Mas era um valentão da hora
E aqueles que estavam pôr fora
Com ele rolavam na poeira
João Balaio era este rapaz
Corajoso e muito afoito
Quem desafiasse João Balaio
Podia comprar os biscoitos
Pra comerem em seu funeral
Pois caia no punhal
Ou na bala do trinta e oito
Certo dia João Balaio
Foi no bar da dona Aurora
Pra tomar uma cachaça
E jogar conversa fora
Ouviu da boca do seu Tonico
Que ele quase pede pinico
Ao ver a porca de brincos
Quem ia para Cristalândia
Que morava no Itaporé
Fazia a viagem sempre
De bicicletas ou a pés
Pois lá não passava carros
Era uma estrada de barro
Dos tempos dos coronéis
Na decida da ladeira
Entre a vila e a cidade
Tinha uma mata fechada
De arrepiar os cabelos
Era onde a aparição
Fazia qualquer peão
Lambuzar os tornozelos
João Balaio ouviu o relato
Do velho Tonico Junqueira
E disse pra todo mundo
Isso pra mim é besteira
Se essa porca amaldiçoada
Atravessar a minha estrada
Ela vai ver a desgraceira
Dona Aurora ainda disse
Com assombração eu não brinco
A noite quando vou dormir
Nas portas eu passo os trincos
Não sei se é só uma aparição
Mais essa porca de brincos
Parece coisas do cão
João Balaio respondeu
Se essa porca do cão
Rolar pra cima de mim
Vai ter que pedir perdão
Para Deus nosso Senhor
Pois ela vai gemer de dor
Na ponta do meu facão
Mas vamos deixar João Balaio
E falar da aparição
Que segundo os mais velhos
Se parecia com o cão
Pois tinha a boca vermelha
Usava um brinco na orelha
Pra fazer a assombração
Uma semana mais tarde
No bar da dona Aurora
Um fato aconteceu
Que para quem está de fora
Imagina um pesadelo
De arrepiar os cabelos
E borrar as calças na hora
Aconteceu com Zé da mula
Que ia da cidade pra Vila
Sexta feira a meia noite
E se perdeu numa trilha
Saiu em uma tapera de zincos
Encontrou-se com a porca de brincos
Que fez xixi na braguilha
No outro dia bem cedo
La no bar da dona Aurora
Ele chegou assustado
E relatou a sua história
Disse que a tapera de zincos
E aquela porca de brincos
Vão ficar na sua memória
Disse também que a porca de brincos
Fumava um cigarro de palha
Tinha sandálias nos pés
E a boca bem vermelha
Falava meio arrastado
Usava uma saia de veludo
E tinha brincos nas orelhas
Foi a coisa mais horrível
Que ele viu na sua vida
Parecia o cão chupando manga
E era muito atrevida
Chamou ele para nhanhar
Dizendo depois vou te mostrar
Pôr onde é a saída
Ele escapou mas mãos dela
E saiu em disparada
Só quando o dia amanheceu
Conseguiu encontrar a estrada
Mais estava todo ensopado
De mijo era aquele caldo
Foi isso o que aconteceu
Dois dias depois do engodo
João balaio pegou um punhal
Coloco-o na cintura
Pra ir a Porto Nacional
Comprar uma munição
E se ele encontrasse com o cão
Ele iria se dar mal
Já era bem de tardinha
Quando ele regressou
Vinha trazendo uma sacola
Com as coisas que comprou
E disse para dona Aurora
Meia noite eu vou embora
Vou mostrar a todos quem sou
Pediu logo um traçado
De pinga com São João da barra
E falou em um tom de arrogância
Hoje eu vou fazer a farra
Chutar a tapera de zincos
Pegar a porca de brincos
Até o romper da barra
Dona Aurora e os outros
Disseram deixe de valentia
Porque com assombração
Você vai encontrar a rudia
Pra pôr embaixo do pote
E depois que der um pinote
Já acabou a folia
Ele respondeu para ela
Nunca temi a ninguém
Seja vivo ou seja morto
Todos comeram também
Do angu da minha intriga
Pois quando eu entro numa briga
Tudo o que vier vai bem
Traga-me outro traçado
Desta vez num copo de ouro
Que eu estou ficando nervoso
E não sou um homem de choro
Essa porca vai comer ferro
Eu só quero ouvir os berros
Como gado no matadouro
Dona Aurora lhe serviu
Uma traçada inteira
Ele tomou e cuspiu
No tronco de uma mutambeira
Pegou a sacola e saiu
E o povo o seguiu
Ate perto da ladeira
João Balaio foi andando
Assim meio preocupado
Pois covardia para ele
Era chegar em casa assombrado
Com as calças e as botas cheias
Sem um pingo de sangue nas veias
Fedendo a chifre queimado
Assim como Zé da burra
A estrada ele errou
Saiu na tapera de zinco
Quando viu se assustou
E quando puxou os trincos
E viu a porca de brincos
Seu coração lhe faltou
Ficou da cor de açafrão
Tremendo que nem um varão
As calças ele encheu
De farinha com feijão
Acabou pedindo um pinico
Pois aquela aparição
Era mesmo a porca de brincos
Quando amanheceu o dia
Dois homens foi averiguado
Se João balaio e a porca
Haviam mesmo se encontrado
Acharam ele na areia
Calça, cueca, bota e meia
Estava tudo melado
Acordaram João Balaio
Que estava ainda assombrado
Que contou para todo mundo
O que tinha se passado
Que achou a tapera de zincos
E ao ver a porca de brincos
Suas calças tinha breado
Disse que ela o chamou
Pra lhe dar uma beiçada
Ele então tentou correr
E tropeçou numa ramada
Nessa hora desmaiou
E a porca ali ficou
Juntinho dele deitada
João disse eu nunca mais duvido
Que existe assombração
Não quero ver nunca mais
Outro tipo de aparição
Agora vou colocar meus trincos
Pois aquela porca de brincos
É mesmo coisas do cão
Daquele dia em diante
João Balaio resolveu
Se tornar um evangélico
E seguir caminho e assumiu
Nada mais de assombração
Muito menos a aparição
Que tão de perto ele viu.
Esse caso é verdadeiro
Quem me contou não mentia
Porque a porca de brinco
No Itaporé aparecia
Fazia gente se assombrar
Calça e cueca borrar
Rezando a Ave Maria.
Esse relato eu escrevi
Pôr achar muito engraçado
Mais essa porca de brincos
Se eu houvesse encontrado
Com certeza me borraria
Pois assim diz a filosofia
Quem não pode com o santo
Não segura o andor.