O DESAFIO DO SÉCULO VIAJAR DE COLETIVO.
O DESAFIO DO SÉCULO
VIAJAR DE COLETIVO.
Viajar de coletivos
É verdadeira bravura,
Tem que ser corajoso
Pra suportar a tortura
E se o dia é chuvoso
É o inferno em figura.
O nosso querido povão
Tem que se humilhar
Nos pontos é querela
Uma briga de lascar
Vi se entrar pela janela
Só no Brasil isso se dá.
Lá vem ele chacoalhando
Uma tristeza meu senhor
Aos pedaços caindo
Mais velho que meu avô
Pra parar só reduzindo
Mas tá sem freios que horror.
A maioria da frota
Digna de compaixão
Se já é pequenina
Sofre grande redução
Existe em cada esquina
Busu, em manutenção.
As janelas pra se abrir
Só tendo músculo e vigor
Não é pra qualquer um
Só quem pratica o sumô
E se estiver em jejum
Não consegue não senhor.
Corredores estreitos
Impedindo a locomoção
O espaço dos assentos
Foi feito pra anão
Ou mesmo por intento
Pra humilhar o cidadão.
A condução pra se pagar
Uma grande aberração
Cobradores sem trocos
As catracas sem ação
Passageiros como loucos
Em busca de solução.
A dureza dos assentos
Não há bunda que agüente,
E com pouca carne seu moço,
A coisa pega realmente
Ferro, pelanca e osso,
Dói tal qual a dor de dente.
Os busus metem medo
Em adentrá-los se pensar,
Então o pobre não pensa
Entra e vai se sentar
Contrito em sua crença
Começa logo a rezar.
Há poucos coletivos
Rodando nas cidades
O esforço vai além
De suas capacidades
Se gritar pudesse
Gritariam por piedade.
Favor, seus empresários.
É melhor nos aposentar
Temos um período de vida
Não podemos continuar
Nossa estrutura está falida
Não pensem somente em lucrar.
É um inferno de vida
É um enorme sofrer
Depender de coletivos
Para o trabalho ou lazer
Mas a precisão é motivo
Pra se arriscar a morrer.
De um bairro pra outro
Sem distância elevada
Dos passageiros a vida
Pode ser encurtada
São sucatas adquiridas
Que já foram sucatadas.
Nos finais de semanas
Verdadeira sacanagem
Usuários sacaneados
E os busus nas garagens
Nervosos e stressados,
Pensam em fazer bobagens.
Num ponto a acenar,
Um idoso de respeito
Motoristas não param
Ou param insatisfeitos
Como se nunca fossem ficar
Igualzinho daquele jeito.
E os deficientes físicos?
Passam horas esperando
Um coletivo adaptado
Quando um vai chegando
Já está super lotado
Aí, ficam se lamentando.
Esses cidadãos brasileiros
Pagam tributos a Nação,
Muitos ganham dinheiro
Como qualquer cidadão
Merecem todo respeito
E não discriminação.
Os pontos de coletivos
São pontos de sofrimentos
Parecem cacetes armados
Construídos ao relento
Onde ficam os coitados
Sem informações e assentos.
Esses monstrengos
Como abrigo nunca serviu
Exposto fica a maioria
Ao Sol, a chuva e ao frio,
E a bandidagem que agonia
As cidades do Nosso Brasil.
E quando chega a hora
De maior movimentação
É uma grande disputa
Pontos cheios e confusão
Imperando a força bruta
Pra entrar no sucatão.
Sem nenhuma alternativa
Empurram e são empurrados
É o que sempre acontece
Pra entrar em busus lotados,
Mas antes fazem uma prece
Pra não serem sufocados
É uma vergonha terrível
Para o povo Brasileiro
Vê o olhar especulativo
Do turista estrangeiro
Ao entrar num coletivo
Que mais parece um poleiro
É de uma desumanidade
A cobiça de empresários
Que não renovam a frota
Deixando-a em estado precário
E aumentam as passagens
Fazendo os pobres de otários
.
Sem agüentar o sofrimento
Que dói dentro do peito
A massa em descrença
Apela de todo jeito,
Pra o sindicato, a imprensa,
Empresários e o Prefeito.
Mas parece ser doença
Que gruda pra valer
Nas obsessivas mentes
Que querem enriquecer
Há empresários dementes
Fazendo muita gente sofrer
É terrível e monstruosa
A força dessa ambição
Obrigando assalariados
Força dessa Nação,
Ficarem endividados
Escravos da humilhação.
Vida de pobre é assim:
Cedinho no ponto está
Numa rotina sofrida
Vezes sem se alimentar
Com noites mal dormidas
Esperando o busu chegar!
Promulgada uma Lei
Seria de bom grado
Obrigando o empresário
Viajar em busu, lotado.
Em pé e em horário
Previamente combinado.
Estando ao volante
Motorista embrutecido
Que freia bruscamente
E curvam enlouquecidos
Obrigando tanta gente
Oprimir-se ao oprimido.
Quem sabe assim
Mudaria de opinião
Da frota cuidaria
Pra evitar lotação
Dando a maioria
Uma melhor condução
Um dia a coisa mudará
Pois eterno só os espíritos
Teremos um dia transportes
Seguros, confortáveis, bonitos,
Que sem medo da morte
Adentraremos convictos.
Comecei essa estória
Num gesto intuitivo
E sem querer a iniciei
Dentro de um coletivo
E fora dele terminei
Graças a Deus estou vivo.
Autor: Dante Barbosa.