DESABAFO DE UM SERTANEJO
Acordei hoje bem cedo
Olhei para o firmamento
Sem nuvem, poeira e vento
Admito que tive medo
A sequidão no arvoredo
Folha transformada em pó
O reflexo do arrebol
Surgindo além da montanha
A cena é muito tristonha
Quem a ver sente até dó
O cabelo bem ressecado
A pele toda cinzenta
Resto de água barrenta
No bebedouro cavado
Um bezerrinho enjeitado
Da velha vaca caída
Mais a frente, na saída
O gado todo berrando
Parece que tão chorando
A batalha tá perdida
É tanto do mato seco
O verde não aparece
O sertanejo faz prece
Na serra se escuta o eco
Na despensa, nem tareco!
Sem cobre, só no fiado
Do FOME ZERO cortado
Levando vida de cão
Devendo tudo ao patrão
Entra e sai ano lascado
Está tudo assoreado
O rio jogou tudo fora
A erosão nos devora
É grota pra todo lado
A mata é um descapado
Só Velame e Marmeleiro
Até um pau de Pereiro
Há tempos que já torrou
O Sertão chora de dor
Na rima do violeiro
Passa noite e passa dia
A chuva nessa demora
O vento vibra lá fora
Na telha chega assovia
O pobre pai de família
Chora no pé da parede
Ora pra Deus e só pede
Um inverno com fartura
O pobre da agricultura
No pedido não se excede
Entregue a própria sorte
Sem esperança na vida
A sua esposa querida
É seu único suporte
Como Sertanejo forte
Ele luta e é um bravo
Prefere ser um escravo
Desse clima bem medonho
A desistir do seu sonho
Não teme qualquer agravo
Não é alfabetizado
Nem se quer o ABC
Os números sabe ler
Pois no bicho tem jogado (Jogo do bicho)
Quase sempre é roubado
Pois faltar discernimento
Até mesmo o aposento (Aposentadoria)
Antigo Fundo Rural
Há desvios e afinal
A vida é só sofrimento
Cadê aquele programa
Chamado LUZ PARA TODOS
Parece ser mais engodo!
Pra LULA serviu de cama
É triste esse panorama
Morrer de fome e de sede
Enquanto muitos na rede
No balanço da vaidade
Outros na necessidade
Pra viver de tudo pede
Cadê a Transposição?
A conversa tá furada
De água não chegou nada
É pura tapiação!
A secura no Sertão
Não dá mais pra suportar
Vamos logo terminar
Rápido esse projeto
Nem que seja por decreto
Não dá mais pra esperar
É triste a situação
A tendência é piorar
Se o povo não quis mudar
Saída não vejo não
Sem fazer apelação
Não vejo futuro bom
Digo alto e em bom som
Que o pobre tá condenado
Viverá sempre algemado
Pelo partido MARROM