Eu acho bonito... Autor: Damião Metamorfose.
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Cada dia se descobre
Algo bonito pra ver.
Seja na morte de um dia
Ou em um dia nascer.
O anoitecer é lindo,
É lindo o amanhecer!
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Acho bonito de ver,
Uma família unida.
Mesa farta de amor,
Compreensão e comida.
Pois pra mim família é tudo
De bom, que tem nessa vida.
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Ver a terra umedecida,
Sepultar uma semente.
Pra depois colher os frutos...
E alimentar minha gente.
sem se preocupar com seca,
A estiagem ou enchente!
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Acho bonita a serpente
Valente e desprotegida.
Ganhou a fama de mal
Nem sei se foi merecida.
Porque seu veneno mata,
Mas também salva uma vida.
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E a vaia merecida,
Que o George Bush levou.
Mais aquela sapatada
Que um repórter jogou.
Pena que era ruim de mira
E o cego não acertou!
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Acho bonito o que sou,
Sem esse orgulho vulgar.
Sendo simples e humilde,
Sem jamais me exaltar.
Sabendo pedir perdão
E aprendendo a perdoar!
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Ver um palhaço brilhar
Num picadeiro estrelado.
E eu na arquibancada
Com a família ao meu lado.
Ouvindo as mesmas piadas
E relembrando o passado.
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É lindo o mar agitado
Em noite de lua cheia.
O céu se divide em dois
a cor azul, se prateia.
E a lua se multiplica
Se espatifando na areia!
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É linda a caatinga feia,
Em ano de estiagem.
Fica triste e acinzentada,
Mais parece uma miragem.
E é só cair uma chuva
Que fica verde a pastagem.
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Acho bonita a coragem,
De um cachorro bom de caça.
Se o mato for rasteiro
Derruba tudo onde passa.
E se a caça for pequena
Quando ele pega, esbagaça!
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E a Maria fumaça?
Quando ela dá um apito.
Os bichos correm com medo
Daquele bicho esquisito.
E eu corro pra bem perto
Porque acho o trem bonito.
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Canário, anum, periquito...
Na copa de um juazeiro.
Cada um entoa um canto,
Cada canto é verdadeiro.
E o seu canto é diferente
Da ave presa em viveiro.
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Ver as velhas no terreiro,
Rezando uma novena.
Eu acho que até Deus
Ao ouvi-las sente pena.
E é só guardar o rosário,
Já grita, ô gota serena!
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A mulher grande ou pequena...
Quando ela amamenta.
Alimenta e dá carinho
Dá carinho e alimenta.
E aquela troca de olhares
Que até a alma acalenta!
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Um caracol marcha lenta,
Deslizando no rochedo.
Tentando comer a lesma
Que está morrendo de medo.
É a vida engolindo a vida
De quem acordou mais cedo.
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O Sertão tem seu enredo,
Na época da invernada.
Açude e riacho cheios
O rio pelas “berada”.
E há quilômetros de distancia
Ouvir bater uma enxada.
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Acho bonita a boiada
Toda de gado holandês.
Que num dia só dá leite
Que outras dão no mês.
E quando o seu dono chama,
Correm todas de uma vez!
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No tempo da escassez,
Ver um pé de juazeiro.
Tanto faz seca ou inverno,
Que ele é verde o ano inteiro.
E é símbolo de resistência
Do sertanejo roceiro.
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Acho bonito o celeiro
De poetas declamando.
Que são bons em todo estilo,
escrevendo, improvisando.
E eu tento até ser melhor,
Mas estou engatinhando.
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Ouvir um cachorro uivando,
Parece até esquisito.
Pra muitos é mau agouro
Ou presença do maldito.
Pode não ser coisa boa,
Mas eu acho tão bonito!
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Tem rico ruim, admito,
Mas tem muitos que não são.
Que tem soma incalculável,
Milhão bilhão ou trilhão.
E é simples igual a mim,
Até no aperto de mão!
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Acho lindo o meu salão
Quando está cheio de gente.
Um pergunta, quantos têm?
Outro grita, estou na frente!
E eu cortando os cabelos,
Sempre alegre e sorridente.
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Acho bonito o oxente,
O pru mode e o pru donde,
O inté e o até logo,
O é ali, sei lá onde...
Por ser a língua de um povo
Humilde que não se esconde.
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Bonita é a fruta do conde,
Bem suculenta e vermelha.
Com gomos enfileirados
Entrelaçado, em parelha.
Só é condessa, é por que
Com outra não se assemelha!
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Acho bonita a parelha
De cantador repentista.
Que faz verso improvisado,
De derrota e de conquista.
São os artistas completos
E não ganham como artista.
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Acho lindo o cordelista
Quando ele está recitando.
A sua verve é tão forte
Que eu fico viajando.
Vendo um filme colorido
Na minha mente, passando.
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Fim.
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Material copiado e reciclado do tópico: Brincando de fazer Sextilhas, da comunidade: Metamorfose, Cordel & Poesia.
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Deixo aqui o meu obrigado para quem tiver paciência para ler um texto tão longo, grato e inté.