Eu acho bonito... Autor: Damião Metamorfose.

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Cada dia se descobre

Algo bonito pra ver.

Seja na morte de um dia

Ou em um dia nascer.

O anoitecer é lindo,

É lindo o amanhecer!

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Acho bonito de ver,

Uma família unida.

Mesa farta de amor,

Compreensão e comida.

Pois pra mim família é tudo

De bom, que tem nessa vida.

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Ver a terra umedecida,

Sepultar uma semente.

Pra depois colher os frutos...

E alimentar minha gente.

sem se preocupar com seca,

A estiagem ou enchente!

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Acho bonita a serpente

Valente e desprotegida.

Ganhou a fama de mal

Nem sei se foi merecida.

Porque seu veneno mata,

Mas também salva uma vida.

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E a vaia merecida,

Que o George Bush levou.

Mais aquela sapatada

Que um repórter jogou.

Pena que era ruim de mira

E o cego não acertou!

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Acho bonito o que sou,

Sem esse orgulho vulgar.

Sendo simples e humilde,

Sem jamais me exaltar.

Sabendo pedir perdão

E aprendendo a perdoar!

*

Ver um palhaço brilhar

Num picadeiro estrelado.

E eu na arquibancada

Com a família ao meu lado.

Ouvindo as mesmas piadas

E relembrando o passado.

*

É lindo o mar agitado

Em noite de lua cheia.

O céu se divide em dois

a cor azul, se prateia.

E a lua se multiplica

Se espatifando na areia!

*

É linda a caatinga feia,

Em ano de estiagem.

Fica triste e acinzentada,

Mais parece uma miragem.

E é só cair uma chuva

Que fica verde a pastagem.

*

Acho bonita a coragem,

De um cachorro bom de caça.

Se o mato for rasteiro

Derruba tudo onde passa.

E se a caça for pequena

Quando ele pega, esbagaça!

*

E a Maria fumaça?

Quando ela dá um apito.

Os bichos correm com medo

Daquele bicho esquisito.

E eu corro pra bem perto

Porque acho o trem bonito.

*

Canário, anum, periquito...

Na copa de um juazeiro.

Cada um entoa um canto,

Cada canto é verdadeiro.

E o seu canto é diferente

Da ave presa em viveiro.

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Ver as velhas no terreiro,

Rezando uma novena.

Eu acho que até Deus

Ao ouvi-las sente pena.

E é só guardar o rosário,

Já grita, ô gota serena!

*

A mulher grande ou pequena...

Quando ela amamenta.

Alimenta e dá carinho

Dá carinho e alimenta.

E aquela troca de olhares

Que até a alma acalenta!

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Um caracol marcha lenta,

Deslizando no rochedo.

Tentando comer a lesma

Que está morrendo de medo.

É a vida engolindo a vida

De quem acordou mais cedo.

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O Sertão tem seu enredo,

Na época da invernada.

Açude e riacho cheios

O rio pelas “berada”.

E há quilômetros de distancia

Ouvir bater uma enxada.

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Acho bonita a boiada

Toda de gado holandês.

Que num dia só dá leite

Que outras dão no mês.

E quando o seu dono chama,

Correm todas de uma vez!

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No tempo da escassez,

Ver um pé de juazeiro.

Tanto faz seca ou inverno,

Que ele é verde o ano inteiro.

E é símbolo de resistência

Do sertanejo roceiro.

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Acho bonito o celeiro

De poetas declamando.

Que são bons em todo estilo,

escrevendo, improvisando.

E eu tento até ser melhor,

Mas estou engatinhando.

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Ouvir um cachorro uivando,

Parece até esquisito.

Pra muitos é mau agouro

Ou presença do maldito.

Pode não ser coisa boa,

Mas eu acho tão bonito!

*

Tem rico ruim, admito,

Mas tem muitos que não são.

Que tem soma incalculável,

Milhão bilhão ou trilhão.

E é simples igual a mim,

Até no aperto de mão!

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Acho lindo o meu salão

Quando está cheio de gente.

Um pergunta, quantos têm?

Outro grita, estou na frente!

E eu cortando os cabelos,

Sempre alegre e sorridente.

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Acho bonito o oxente,

O pru mode e o pru donde,

O inté e o até logo,

O é ali, sei lá onde...

Por ser a língua de um povo

Humilde que não se esconde.

*

Bonita é a fruta do conde,

Bem suculenta e vermelha.

Com gomos enfileirados

Entrelaçado, em parelha.

Só é condessa, é por que

Com outra não se assemelha!

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Acho bonita a parelha

De cantador repentista.

Que faz verso improvisado,

De derrota e de conquista.

São os artistas completos

E não ganham como artista.

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Acho lindo o cordelista

Quando ele está recitando.

A sua verve é tão forte

Que eu fico viajando.

Vendo um filme colorido

Na minha mente, passando.

*

Fim.

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Material copiado e reciclado do tópico: Brincando de fazer Sextilhas, da comunidade: Metamorfose, Cordel & Poesia.

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Deixo aqui o meu obrigado para quem tiver paciência para ler um texto tão longo, grato e inté.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 17/01/2011
Reeditado em 18/01/2011
Código do texto: T2735329
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