Aonde vão nossas crianças?
Do fundo do coração
Eu chamo a atenção
Das crianças de hoje em dia
Que pela comodidade
Não tem mais criatividade
Nem a mesma alegria
Suas infâncias vão perdendo
Das brincadeiras esquecendo
Até me dá uma agonia
Pois hoje a molecada
Anda muito ocupada
Não tem tempo pra brincar
Existe a televisão
Que lhe prende a atenção
Atrapalha o seu pensar
Tem desenho animado
Com o brinquedo sonhado
Que poucos podem comprar
Tem também o computador
Que é um grande professor
Para o trabalho de escola
Mas ali tem tanto jogo
Que deixam os olhos de fogo
Faz ate perder a hora
É coisa que não sacia
A criança até vicia
Que nem quer mais ir embora
Aí chegou a internet
Onde tantos pintam o sete
Com tanta coisa pra ver
De tamanho conteúdo
Que permite muito estudo
Aumentando o saber
Mas nessa modernidade
Ter tanta facilidade
Tudo pode acontecer
No meu tempo era diferente
A gente vivia contente
Tinha tanta brincadeira
Começava desde cedo
Aprender fazer brinquedo
De arame e até madeira
Dentro dum pneu de carro
A garotada achava um sarro
Quando descia a ladeira
A gente não tinha dinheiro
Mas o raciocínio era ligeiro
Apesar da pouca idade
O que não dava pra comprar
Passamos então a inventar
Com muita criatividade
Quase tudo motivava
Assim a gente brincava
Com muita felicidade
De mamona tinha estoque
Pra uma guerra de bodoque
Ou pra caçar passarinho
Num arame uma argola
Que rolava até a escola
Correndo com um vizinho
Meu carrinho de rolimã
Atraia muito fã
Nunca brincava sozinho
Filtro de óleo usado
Que no posto era buscado
Pra fazer um carretão
Eu passava um arame
Pra puxar com um cordame
Como fosse um caminhão
Quanto mais filtros usava
Mais sensação ele causava
Quando rolava pelo chão
Era na gata parida
Com a molecada espremida
Que no banco um sobrava
Se a brincadeira era rude
Tinha a bolinha de gude
Que todo mundo jogava
Pro futebol de botão
Ou disputa no pião
Nossa turma se juntava
De um jeito bem bacana
Surgia uma zarabatana
De um talo de mamão
Fazia boizinho de sabugo
Também não tinha refugo
Brincar de balança caixão
Na mãe da rua eu pulava
Com um só pé atravessava
Sem pisar o outro no chão
Tinha um monte de menininha
Brincando de amarelinha
Também outras de boneca
Pular corda era divertido
Até pra menino atrevido
Que dava uma de sapeca
Outra coisa que gostavam
Sempre que se encontravam
Era de jogar peteca
Trocava espada de plástico
Por espingarda de elástico
Fazia aviãozinho de papel
Depois ia ver as meninas
Umas quietas outras traquinas
Brincando de passa anel
Boneca de milho era ouro
De cabelo ruivo ou louro
Era uma imagem bem fiel
O cavalinho de pau
Era outra coisa legal
Pro nosso divertimento
Qualquer coisa alegrava
A imaginação voava
Até com um cata-vento
No pique ou no pega-pega
Ou brincando de cabra-cega
Pra nós sobrava talento
Para pegar passarinho
Além de buscar no ninho
Até no chão eu pegava
Era só ficar de butuca
De tocaia na arapuca
Ou num alçapão que armava
De curió cantador
A canário brigador
Muita emoção isso dava
O telefone de lata
A arapuca na mata
Aqui a saudade aperta
Pau de sebo na quermesse
Era só um sobe e desce
Pra criança mais esperta
Pula sela ou morto-vivo
Pra tudo a gente era ativo
A diversão era certa
Eucalipto dava piãozinho
Osso de porco era boizinho
Tanto brinquedo que havia
Brincar de imitar bicho
Até guerra de carrapicho
Que na costa logo ardia
Com a nossa imaginação
Tinha muita animação
Em tudo que a gente via
Brincava com muito afã
De pêra uva ou maçã
Pegava lambari com peneira
Jogava bétis na rua
Até uivava pra lua
Em tudo pegava uma beira
Nesse tempo de alegria
Quase tudo que eu fazia
Virava uma brincadeira
Tinha também a queimada
Onde se dava bolada
Em quem não fosse ligeiro
Soltar pipa ou papagaio
Cortar o céu como um raio
Ver qual caía primeiro
Tanta coisa existia
Que quando a mãe permitia
Eu brincava o dia inteiro
Os jogos ou brincadeiras
Seguindo uma lei verdadeira
Pobres e ricos iam juntando
Sem nenhuma distinção
A regra do coração
Queria todos brincando
Sem malícia ou maldade
Sobrava felicidade
Na época que estou lembrando
Eram diversões de brilho
Passadas de pai pra filho
De antiga tradição
Promovendo a amizade
Difundindo a lealdade
Verdadeira educação
De caráter social
Deram uma base moral
Para a nossa formação
Foi um tempo de bonança
O meu tempo de criança
Que não esqueço jamais
Aprendi a dividir
Com os outros repartir
O que pra mim era demais
Foi crescendo desse jeito
Que construímos o respeito
Que temos por nossos pais
Desse começo de vida
Uma lição foi entendida
Pela minha geração
Enquanto a gente crescia
Brincando também aprendia
A ter uma nova visão
O sentimento é profundo
Nós passamos a ver o mundo
Com os olhos do coração
Hoje em dia a garotada
Vai crescendo acomodada
Sem brincadeira ou brinquedo
Não tem a mesma união
Pelo amigo ou pelo irmão
É uma coisa que dá medo
Sem tempo pra ser criança
Está perdendo a esperança
Ficando adulta mais cedo
Se isso tudo é passado
Deixo aqui o meu recado
Pras crianças do lugar:
Se são vocês com certeza
Quem vem alegrar a tristeza
Que a vida busca nos dar
A coisa é séria, eu juro
O que será do futuro
Se pararem de brincar?