Lamento Caipira Moderno

A minha terra tá verde

Mas num dá pra se orgulhá

Num é verde de lavôra

É verde de canaviá

As roça que nóis plantava

Faiz tempo num existe mais

Num tem amendoim, argodão

Derrubaro os cafezais

Por todo lado tá verde

Mas só me dá agonia

Num sei pra donde fôro

As roça que aqui havia

Até as mata que tinha

Cum bicho e passarim

Dum dia pro outro sumiro

Num ficou nenhum matim

Dissero que bem de noite

Veio a tar de moto serra

As árve fôro arrancada

Ganharo túmulo na terra

Arguns tronco risistiro

Lutaro a vez derradêra

Mas eles num tivero fôrça

Contra os tar tratô de estêra

No meio daquele verde

Feito oásis no deserto

Quarqué pedaço de mata

Pros bicho é rumo certo

Mas pagam um preço caro

Perdidos no labirinto

Pois dus bicho que aqui tinha

Arguns inté tão ixtinto

Pois daqueles que escapa

Di inté morrer nas queimada

Muitos morre atropelado

Quando chega nas estrada

Aonde tão as siriema

Tatu e tamanduá?

Gato e cachorro du mato

Raposa e mesmo gambá?

Já dá pra vê o reflexo

Dessa infestação de cana

Desde quando maritaca

Virou uma ave urbana?

As ave buscando longe

Um bom lugá pra pousá

Agora invade a cidade

Chega inté incomodá

Pombas que nem Asa Branca

Fogo-Pagô e Juriti

Que era tão arredia

Já se vira por aqui

Si antes quando nas mata

Fugia ao menor sinal

Já parece bicho manso

Que vem comer no quintal

Si isso tudo é progresso

Do nosso tempo presente

To cum medo do futuro

Que évem pra nossa gente

Quando vemo a cidade

Infestada por bisôro

É purque tâmo distruindo

O nosso maió tisôro

Pois além do combustíver

Que tá no lugá da comida

O mal que fazem à terra

Só piora a nossa vida

O clima virô um inferno

Quase uma única istação

O calô só aumentando

Só mato seco no chão

Cadê lavôra das água

Que costumava plantá

O tempo está di um jeito

Que num dá pra planejá

A natureza à morte

Us alimento encarecendo

Eu tô muito pissimista

Co futuro que tô vendo

Já faiz tempo nenhum bicho

Vejo cruzá meu caminho

Logo dentre os animar

Nóis que vamo tá sozinho

Se o sertão vai virá mar

E o mar vai virá sertão

Eu peço a meu Deus do céu

Pra mim num vê isso não

Que Ele me leve pra onde

Tão os bicho que morrêro

No meio da mata grande

Das árve que renascêro

Então naquele lugá

Bem pértim do paraíso

Vou ficá pedindo pra Deus

Pro home tê mais juízo

Jesus de Burarama
Enviado por Jesus de Burarama em 11/01/2011
Código do texto: T2722613
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