DIA DO COMICIO.

Tarde bastante quente

Numa cidadezinha do interior,

Uma pracinha, muita gente,

À espera do discurso de um doutor.

No coreto uma banda perfilada,

Aguardava a comitiva e o prefeito

Pra na hora exata da chegada,

Começar o grande concerto.

Do lado esquerdo da pracinha,

Um palco bastante enfeitado

Com fitas, flores, bandeirinhas,

Alto falante e locutor contratado.

Várias faixas com inscrições,

A um certo candidato saudava

Dando certeza que nas eleições,

Aquele povo nele votava.

Um rapaz estava preparado

Para soltar vários rojões,

Na hora que fosse anunciada

A Chegada dos mangangões.

A cidade toda era satisfação

Pois até a imprensa chegou,

Com rádios, jornais e televisão...

Pra cobrir a oratória do doutor.

Pouco tempo havia se passado

Quando pipocaram alguns rojões

Olharam todos para o mesmo lado

Apontava a comitiva dos espertalhões.

Na frente um homem baixo e forte

Querendo mostrar o seu valor

Atrás puxa sacos de toda sorte

Gritavam: já ganhou, já ganhou

O locutor super animado

Quase aos berros anunciava,

O nome do futuro Deputado

Que naquela praça chegava.

O baixinho era sorrisos e beijos,

Com o Prefeito ao seu lado

Sem esconder o grande desejo,

De ser mais um dos privilegiados.

Ao no palco se encontrar

Correr a vista sobre a multidão,

Viu no seu povo um olhar

De enorme preocupação!

É que aquela gente sofrida

Como dos Brasileiros a maioria,

De tantas promessas não cumpridas

Em político nenhum mais confia.

Discursaram várias personalidades

Vereadores o Delegado o Prefeito,

Todos exaltando as qualidades

E procurando esconder os defeitos.

Daquele baixinho de porte

Que quem o conhece de perto,

Sabem que ser honesto

Nunca foi o seu forte.

Chega o momento tão esperado

Iria se pronunciar o tal doutor,

A banda toca um xaxado

Mas só puxa saco dançou.

Ele começa a falação: --

Meu povo, que tanto respeito,

Que habita no meu coração;

Quando eu for eleito:

Vou fazer dessa pequena cidade

O maior município da região,

Vou dar emprego à mocidade

Ginásios de esportes e educação.

Vou asfaltar todas as estradas

E casas populares construir,

Erguer um belo clube dançante

Para esse povo se divertir.

Um hospital bem aparelhado

Atendimento sem pagar um tostão,

Com médicos e enfermeiros formados,

E aparelhos de última geração.

Vou construir por achar necessário

A Prefeitura para o executivo

O Fórum para o Judiciário

E a Câmara para o Legislativo.

Cestas básicas irão receber

Durante o ano inteiro

Os que estão sem nada fazer

Além de poupança em dinheiro.

Serviço de esgoto de primeira

Eletricidade na zona rural

Água encanada nas torneiras

Em todos os distritos, que tal?

Problemas não mais existirão

Quando Deputado me tornar

Pra todos eles terei solução

È só votar em mim e aguardar.

Pois já posso me julgar

Amigo de fé do Presidente

Pois ainda ontem lhe enviei

Vários e caríssimos presentes.

A hipocrisia era tão intensa

Que até seus simpatizantes

Em comunhão e total descrença

Gritavam, desliguem o alto-falante.

Um cara meio embriagado

A boca no trombone botou,

Conheço a vida desse safado

Sou conterrâneo desse senhor.

Lá ele não tem nenhum valor

È conhecido no nosso terreiro,

Como o doutor trambiqueiro,

Até cheque sem fundo passou.

Aí! Começou a anarquia

Naquela cidade do sertão,

O candidato ao delegado exigia

Do pobre coitado a prisão.

Os soldados cumprindo a ordem

Tentaram o bêbado prender,

A população mesmo em desordem

Não deixou a prisão acontecer.

O apoio àquele senhor

Transformou o grande comício

Num verdadeiro suplício,

Pra o partido, o Prefeito e o doutor.

Aí! O candidato bastante irritado

O seu lado ruim passou a mostrar,

Dando bananas pra todos os lados,

Afirmava com raiva, vou me vingar.

Quero o nome desse atrevido saber,

Pra mostrar a ele quem sou,

Esse filho da égua, vai se arrepender

De tudo isso que ele falou.

Filho da égua é você,

Que é um demônio em pessoa,

Capaz de matar pra vencer,

E roubar pra ficar numa boa.

E o bate boca continuava

Com palavras de baixo calão,

E o povo todo vibrava,

Com aquela confusão.

O doutor envergonhado

No inferno realmente se viu,

Dava bananas pra todos os lados

E gritava vão pra puta que pariu.

O locutor era um profissional

Mas não sabia mais o que falar,

E pedia a comitiva geral

Pra o comício encerrar.

O prefeito arrasado totalmente

Arrastava o doutor do palanque,

Mas ele subia novamente

Pois era forte como um tanque.

Essa luta algum tempo durou

O povo delirava com o espetáculo,

Até que já cansado o doutor,

Resolveu abandonar o palco.

Mas o Prefeito preocupado

Com a integridade do anfitrião,

Pediu ao Delegado e soldados

Que o isolassem, fazendo um cordão.

Porem só havia quatro soldados

E um cabo, esse era o batalhão,

Mesmo juntando o delegado

Não tinham como fazer o cordão.

Enfiaram o Doutor, na raça

Em um dos carros da comissão

Motorista imita Felipe Massa

E some com esse hipócrita anão

O comício foi um prato cheio

Para a imprensa em geral,

Que passaram um ano e meio

Explorando esse furo sensacional.

Os políticos se mandaram

Rápidos como foi pedido,

Porém os eleitores ficaram,

Analisando o ocorrido.

A banda que na praça

Ainda permanecia,

Resolveu tocar de graça

E o povo caiu na folia.

A praça então se transformou

Numa grande pista dançante,

Até um aleijado dançou,

Alegre, feliz, triunfante.

Todo ano nesse mesmo dia

No mesmo coreto e mesma praça,

A banda alegremente se reunia

Pra tocar de graça.

E essa atitude genial

Que agradou a maioria,

Em feriado municipal

Transformou aquele dia

Encontrar-se um nome deveria

Para esse dia ser chamado,

Uma simples eleição resolveria

Dos nomes sugestionados.

“Dia do Comício” foi o vencedor

Bastante festivo esse dia é!

Grupos imitam o doutor

E toda comitiva dando no pé.

Assim termina essa estória

De uma cidadezinha do interior,

Onde um comício seria a glória

Pra um ambicioso doutor.

Que a Deputado, ser eleito queria...

Mas que encontrou pela frente,

Um bêbado que o conhecia

E um povo em político descrente

Autor: Dante Barbosa.

Dante Barbosa
Enviado por Dante Barbosa em 09/01/2011
Código do texto: T2717741