A SAGA DE UM CORNO ASSUMIDO
Oh, Meu Deus vejam vocês!
É grande meu sofrimento
Eu já não faço mais nada
Só vivo é de lamento
A cabeça ta pesada
É culpa da depravada
Outra eu não aguento
Já mudei de vários bairros
Que até perdi a conta
Eu não ando mais no centro
Se andar o povo aponta:
-Lá vai o corno passando!
A menineira gozando
É triste quem leva ponta
Cortei até o cabelo
Pra não ser reconhecido
Não ando mais em igreja
Me faço de desvalido
Ando de cabeça baixa
Pra ver se ninguém me acha
Se achar, estou perdido
A mulher era bonita
Foi essa minha ilusão
Tinha cintura bem fina
Coxas grossas, um bundão
A pele era macia
Nem a mulher melancia
Chamava mais a atenção
Tinha um sorriso lindo
Que fazia até sucesso
Tentei descrever em rima
Ficaram lindos os versos
Os lábios aveludados
Molhados e encarnados
Mais lindos do universo
Era tanta da beleza
Que chega me assustava
O balançar da bunda
Todo cabeludo olhava
Eu já tava me tocando
E o povo já comentando
Que a mulher me chifava
Foi em um belo Domingo
Que tudo aconteceu
Ela Saiu bem cedinho
Um toque alguém me deu
Eu sai para tocaia
Disse:-Não levo mais gaia
Ajude-me, oh meu deus!
Ela andava na frente
Eu atrás na sua cola
Parava lá no comércio
Parava junto a escola
Eu só lhe acompanhando
Sem querer, acreditando
Levar chifre da moçola
De repente eu avistei
Um galego cabeludo
Desses de ponta de rua
Forte, alto e bem parrudo
Eles travaram no beijo
Eu fiquei só no desejo
De faca acabar com tudo
Eu dei um grito bem grande
A mulher se escondeu
Eu disse:-Não se esconda!
A verdade apareceu
Você é uma maldita
Uma safada, admita
Não merece mais amor meu
Ela franziu sua testa
Com olhar bem demorado
Nunca gostei de você
Não devia ter casado
De você sinto nojo
Um nojento, um entojo
Deu tchau e nem obrigado!
Eu voltei logo pra casa
Comecei logo a chorar
Lembrei dos tempos antigos
Dos beijos a recordar
Eu queria ela de novo
Não fosse a língua do povo
Eu podia lhe perdoar
Oh, meu deus que amargura!
Que vontade de sumir
Um filé bom desse jeito
É difícil resistir
Outra melhor eu não acho
Vou voltar a ser capacho
Sou corno vou admitir
Desde esse belo dia
Manicaca eu virei
Só faço o que ela manda
Se ainda me trai, não sei
Só tenho uma certeza
Que não perco essa beleza
Por um chifre que levei