Eu não como Feliz Natal!
Airam Ribeiro – 14/12/2010
A história de Pombinha.
Conto aqui no prosear
Pelas ruas a coitadinha
Sempre vivia a passar
Dormia sempre nas calçadas
Hoje ela é amparada
Pelo CAPS deste lugar.
Antes sua vida foi sofrida
Tinha o nome de cachaceira
Deu topada pela vida
Quando vivia na bebedeira
Se ela soubesse contar
Poderia até explicar
As estrelas a noite inteira.
A marquise era seu cobertor
No frio cimento do chão
Sem travesseiro, sem amor
O lençol? Um papelão.
Dormia ali mesmo ao léu
A lua, as estrelas no céu,
Era a sua televisão.
Por essa rua passei nesse dia
Na caminhada matinal.
O natal para uns era alegria
Para outros um dia normal
- Feliz Natal Pombinha!
Me respondeu com voz baixinha
-Eu não como Feliz Natal!
Eu não aborreci
E dei a ela até razão
Adianta Feliz Natal ali
Naquela ocasião
Que sua cama era a calçada
Forrada com papelão
A resposta foi exata! Porque não?
Mendigo não quer desejo
Ele espera mais ação
Naquela resposta até vejo
Que para ela natal é palavrão!
Aquela lição eu aprendi
E sempre quando passo ali
Nem bom dia, dou não.
Mas sento ali ao lado dela
Vejo-a o seu fumo picar
Ela da uma baforela
Que a fumaça vai pro ar
Dou com ela uma prosada
Ela devolve com as risadas
Que só ela sabe dar.
Na sacola transparente
Uns dois pedaços de pão
Que pessoas decentes
Colocou em sua mão
Tinha também um pastel
Uma coxinha num papel
Ali encostado no chão.
Meu nome é Maria dos Anjos
Um dia ela me falou
Pensei, não é um arcanjo
Pois conta dela nunca tomou
Deve ser um anjo sem nome
Pra compor o sobrenome
Um anjo desses sem amor.
Depois que o CAPS apareceu
Só a vejo bem arrumada
Nunca mais ela bebeu
Porque ta bem amparada
Só anda bem cheirosinha
Nem parece a Pombinha
Que dormia na calçada.