O MENINO DO PEQUI

Bem lá no norte de Minas, existe um grande sertão
Tem arraiais e povoados, numa extensa região
A partir de Januária, a São José do Gibão!

Das árvores que ali existem, pequizeiros estão presentes
Até trinta anos atrás, eram apenas componentes
Entretanto, hoje em dia, no cerrado fazem frente!

Para quem ali visita, nesses dias de dezembro
Pode ver o movimento, que o pequi está fazendo
Há gente em todo cerrado, aquela fruta colhendo!

Quero aqui intercalar, minhas lembranças de outrora
Quando sob um pequizeiro, parava pra fazer hora
E meu pai me alertava, que era fruta sem glória!

Segundo ele dizia, tinha uma gema dura
E quem comesse morria, e ia pra sepultura
Portanto em todo pequi, eu via tal ruptura!

Só vim a tomar sentido, da sua boa imagem
Quando em 82, fiz a primeira viagem
Indo ao norte de Minas, num curso de pilotagem!

Por ser um mês de dezembro, em que estive por lá
Eu fiquei admirado, e quero aqui fala
Via as crianças roendo, as gemas sem engasga!

Até eu experimentei, do pequi o forte gosto
Contudo sendo alertado, pelo Nelson, em nosso posto
Dizia que havia espinhos, aos milhões em seu caroço!

Cheguei até me ferir, com minúsculos espetinhos
Contudo logo aprendi, como tratar com carinho
O miolo daquela fruta, rica em ferro, fósforo e...espinhos!

Mas o fato de escrever, sobre a fruta este cordel
É para contar uma obra, que vi em tal mundaréu
No grande e denso cerrado, que pra mim é sempre um céu!

Em meio a tanta gente, que eu via aqui e ali
Presenciei um menino, sob um pé de buriti
Bem na beira da estrada, vendendo o tal pequi!

Como eu já vinha embora, pretendi dele comprar
Minha Nita encomendara, e deveria levar
Assim a alegraria mais, na hora de me abraçar!

Quando fui pagar o jovem, simplesmente ele falou
Estou vendo ali um livro, em troca uns pequis te dou
Pois gosto muito de ler, e sem leitura estou.

Eu fiquei admirado, por aquela transação
O livro que ele queria, era de minha edição
E justamente versava, assuntos lá do sertão!

Pelo livro ele me deu, uma saca de pequi
Contendo uns trinta quilos, feliz eu fiquei ali
Botei a saca no carro, e dele me despedi.

Minha surpresa acirrou-se, nesses dias atuais
O menino lera o livro e mostrara aos seus pais
Minhas diversas aventuras, ocorridas naqueles locais

Foi assim que em três anos, estive lá novamente
E para minha surpresa, eu fiquei muito contente
Pois encontrei o menino, cinco anos mais à frente

Ao me ver me conheceu, e quis até me abraçar
Disse que lera  meu livro, e dele pode tirar
Umas idéias avançadas, que o fizeram prosperar!

Dentro de um ano apenas, adquirira um caminhão
E passara a comprar pequi, em toda sua região
Quando a carga completava, seguia pra Ribeirão!

Pois no livro conhecera, a minha bela cidade
Fizera nela uma visita, e viu a necessidade
Do povo comer pequi, pois muitos tinham vontade!

Pelo livro ela soube, que eu morava em Ribeirão
Mas não conseguiu me achar, por uma simples questão:
Sempre eu estava viajando, fora da minha estação!

Foi assim que naquele dia, dois de dezembro atual
Dele ganhei mais um saco, de um pequi especial
Justamente a qualidade, que eu queria no embornal!

Eu fiquei muito contente, por ver o moço feliz
Em três anos ficara rico, aquilo foi Deus que quis
Mas disse ele que foi uns conselhos, que lá em meu livro diz:

“Se deres um para o pobre, sempre em nome de Deus
O Senhor te dará dois, são muitos os recursos Seus
Para retribuir quem dá, usa enigmas do Céu"!

Pelo que disse o moço, em um ano ele ganhou
Uma grande experiência, que muito o ajudou
E passou a ser um CONVICTO, pois no livro se encontrou!

Hoje ele tem umas terras, com uns três mil pequizeiros
Tem quatro bons caminhões, e serviço o ano inteiro
É uma transportadora que ganha muito dinheiro!

Porém só aos fins de anos, é que o pequi transporta
Caminhões cheios pra São Paulo, Ribeirão e outras rotas
Graças a um livro meu, que do sertão faz as notas!

*VEREDAS DOS PEQUIZEIROS – ICOPERÊ 1743/2005 - LUZIRMIL