O MATUTO MEDROSO APAIXONADO, O DOUTOR DA MEDICINA E O POETA MATADOR DE AMOR
< CENA I: No consultório médico >
- Seu Doutor, minha querela
É difícil de explicar
Só sei que me falta o ar
Quando na presença dela
Ou então s’eu penso nela
Na minha imaginação
Vije Maria, sei não
O que é isso Doutor?
- É, só pode ser amor
Isso no seu coração!
- Vije, me lasquei então
E o que faço Doutor
Pra tirar o tal amor
Daqui do meu coração?
- Homi, disso eu não sei não
Pois não é a medicina
Que vai curar essa sina
Desse amor que lhe afeta
Porém pergunte a um poeta
Que ele sim te ensina!
< CENA II: No bar com um poeta >
- Seu poeta, gente fina,
Só tu podes me salvar
O caso é que dei pra amar
A uma linda menina
Mas eu não quero essa sina
Pois tenho medo, senhor,
Que amor anda co’a dor
E dor só machuca a gente
Por isso me oriente
Pr’eu me livrar desse amor
- Meu amigo sofredor,
Matar um amor é fácil
Tu só tens que ir ao Lácio
E procurar pela flor
Que seja preta de cor;
E assim que a encontrar
Faça um chá, deixe esfriar
E tome num gole só
Que então desfaz-se o nó
E tu deixas de amar!
- Vije! É, deixa pra lá...
Que viajem da mulesta
Não tem forma mais modesta
Pra se deixar de amar?
- Tem outra qu’é se matar
Mas essa né tão correta
Tem também a outra seta
Que foi o que me ocorreu
O meu amor só morreu
Quando dei pra ser poeta!
Pegue o amor que te afeta
Sacuda ele no chão,
Faça dele inspiração
Pra qualquer coisa concreta
Invente de ser poeta,
Seresteiro ou pintor
Só não deixe esse tumor
Inchar no seu coração;
Porque senão, cidadão,
É tu que morre de amor!
João Pessoa, 08/12/2010.