A INTRIGA ENTRE O HAMBÚRGUER E O ACARAJÉ
Eu vou contar uma história
Difícil de acreditar
Dizem que aconteceu
Na terra de Seu Osmar
Quem me contou foi Toinho
Filho de seu Zé doidinho
Quando estava a pilheriar.
Era um estabelecimento antigo
Mas que chamava freguesia
De dia andava cheio
De noite quase entupia
Era só pensar em lanchar
Que corriam sem exitar
A lanchonete de Dona Maria.
Acarajé e hambúrguer
Todo mundo comprava
Ali se fazia fila
Tinha até quem brigava
Pra comprar a iguaria
Que Dona Maria vendia
Todo mundo aguardava.
Numa noite após o expediente
Com as portas já fechadas
O hambúrguer e o acarajé
Começaram a dar gargalhadas
Dali começaria a intriga
Ou uma verdadeira briga
Quiçá uma guerra de espadas.
Primeiro bradou o acarajé
Com altivez e despeito:
Competir com um simples pão
É muita falta de respeito
Uma carne bovina comprada
Com um pouco de salada
Não me deixa satisfeito.
Quem você pensa que é
Acarajé atrevido
Um bolinho de massa
No azeite fervido
Você é tão gorduroso
E se faz de muito gostoso
Só pra ser ingerido.
Eu venho do feijão fradinho
Com muita satisfação
Eu preciso de preparo
Há de ter dedicação
Não é só jogar na chapa
E vestir a sua capa
Sou mais que um mero pão.
Se for massa eu também sou
Também tenho bom preparo
Me montar é um processo
Eu preciso de amparo
Feito por mãos cuidadosas
Que fazem coisas gostosas
Eu sou é muito bárbaro.
Você é um forasteiro
Só vive de visual
Eu sou é tradição
Alimento cultural
Você vive todo enfeitado
De folhas com muito cuidado
Pra parecer natural.
Você se acha importante
Te enfiam um camarão
Te entopem de recheio
Isso dá um problemão
Ainda colocam pimenta
Pra ver se o cabra agüenta
Enfrentar esse rojão.
Não ligo pro que você fala
Não sabe o que é tradição
Eu sempre fui degustado
Com maior satisfação
Caruru, vatapá, camarão e salada
Iguaria refinada
Olha só que perfeição.
E essa intriga virou a noite
Não tinha como acabar
Um dizia, outro dizia
Não paravam de falar
Não faltavam as verdades
E só tinham qualidades
Os dois querendo ganhar.